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Argentina discute mudanças na economia no próximo Governo

Macri promete eliminar o controle cambial assim que assumir a presidência Scioli propõe medidas para baixar o dólar paralelo pouco a pouco

Uma casa de câmbio no centro de Buenos Aires exibe a cotação oficial do dólar.
Uma casa de câmbio no centro de Buenos Aires exibe a cotação oficial do dólar.Ricardo Ceppi

A campanha argentina entra em um momento crucial: Mauricio Macri tem de recuperar terreno depois das primárias e Daniel Scioli, que em princípio só precisava ficar onde estava e consolidar sua vantagem, cometeu um erro grave com sua viagem a Itália em meio às inundações em Buenos Aires e precisa corrigi-lo. Macri apostou em começar a tomar mais partido e centrar o debate nos campos que domina melhor: a gestão e a possibilidade de uma guinada econômica muito do agrado do empresariado e da classe média. O principal candidato da oposição aproveitou uma reunião com os principais empresários do país para prometer que, se chegar ao Governo, a taxa de câmbio será livre, como nos países vizinhos.

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Na Argentina a taxa de câmbio é controlada pelo Banco Central e a compra de divisas é limitada, por isso existe um mercado paralelo em que o dólar vale 50% mais que o oficial. É algo que se instalou nos últimos anos e que complica muito os investimentos e qualquer intercâmbio com o exterior. Que investidor vai trazer um dólar à Argentina para trocá-lo no mercado oficial a 9,20 pesos se no câmbio paralelo ele é comprado a quase 15? Macri toma cuidado ao falar de “ajuste”, “economia”, ou “mudança radical” e seus principais assessores econômicos insistem que a Argentina não necessita de um choque como o do Brasil. Mas quis deixar claro aos empresários que a taxa de câmbio será livre, como a do Brasil e de praticamente todos os países latino-americanos importantes, exceto a Venezuela. E afirmou que, com as mudanças que faria, a Argentina receberia muitos dólares de investidores internacionais, que poderiam entrar livremente. Era justamente o que os empresários queriam ouvir.

Macri foi mais adiante e prometeu que tanto o presidente do Banco Central, Alejandro Vanoli, como a procuradora-geral, Alejandra Gils Carbó, sairão se ele ganhar. “O presidente do Banco Central precisaria ter a dignidade de apresentar sua renúncia porque não reúne os requisitos profissionais para esse cargo. É um militante. Assim como a procuradora Gils Carbó”, afirmou. Ambos têm mandato muito além de 2016, mas Macri diz que vai tirá-los com a “pressão da opinião pública ou os instrumentos do Congresso”, ou seja, uma destituição. “Macri quer um Banco Central ao serviço do ajuste e que, em vez de controlar, faça vista grossa”, respondeu Vanoli.

Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires e candidato kirchenerista à presidência da Republica.
Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires e candidato kirchenerista à presidência da Republica.DANIEL VIDES (AFP)

Eduardo Eurnekian, dono da Corporación América e um dos homens mais ricos do país, que também tem boa relação com Scioli, pareceu aprovar a ideia de Macri: “É tempo de trocar improviso por previsibilidade”, afirmou. O empresariado tem muitas expectativas quanto à mudança da política econômica e, em sua maioria, diverge do atual Governo e do ministro da Economia, Axel Kicillof.

O debate se concentra, assim, nas questões econômicas, um campo arriscado mas necessário para Macri, que pode perder votos por medo à mudança, mas também para Scioli, que sabe que terá de empreender uma guinada importante na política kirchnerista, mas não quer se definir. Sua equipe econômica descarta uma desvalorização brusca ou uma saída rápida da armadilha cambial. Argumentam que a Argentina sofreu dezenas de desvalorizações desde a segunda metade do século XX, mas isso não solucionou os problemas de sua economia. Para ganhar competitividade, a equipe de Scioli é mais favorável a baixar os impostos sobre as exportações e fazer um grande investimento em infraestrutura.

Scioli descarta a eliminação imediata do controle cambial

Macri acredita que desbloquear a taxa de câmbio não implicará em uma desvalorização brusca se houver confiança na economia argentina. A equipe de Scioli é muito crítica à ideia de desmontar a armadilha cambial de um dia para outro. “Macri está propondo uma desvalorização brusca do peso, que geraria um desabamento dos salários, queda do consumo e recessão” afirmou o principal assessor econômico de Scioli, Miguel Bein. Os economistas do candidato peronista alegam que os controles cambiais são uma ferramenta de política econômica que precisa ser desativada de forma gradual. Mas acreditam que é preciso reduzir a disparidade entre o câmbio oficial e o chamado dólar blue. Para buscar financiamento, a equipe de Scioli reconhece, em particular, que deverá negociar desde o início de seu eventual Governo com os fundos abutres que têm sentenças a seu favor nos Estados Unidos.

Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires e candidato de centro-direita.
Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires e candidato de centro-direita.Diego Levy (Bloomberg)

“Não é um assunto que se resolva em um mês, mas em um ano, porque exige uma negociação com todos os abutres, com uma redução porque, do contrário, não receberemos a necessária aprovação dos dois terços dos membros do Congresso. O lema pátria ou abutres teve grande repercussão no país”, explica a equipe do atual governador da província de Buenos Aires. Scioli já disse que procurará cortar os subsídios que mantêm baixas as tarifas de eletricidade e gás para metade da população mais rica. Esse será o eixo central de seu ajuste fiscal que tanto pedem os investidores.

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