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Derrota da direita espanhola castiga uma geração de políticos

Rajoy fica isolado na direção do partido após mau desempenho no pleito de domingo

O porta-voz do PP, Carlos Floriano, após pronunciamento para avaliar os resultados eleitorais, na noite de domingo.
O porta-voz do PP, Carlos Floriano, após pronunciamento para avaliar os resultados eleitorais, na noite de domingo.JUAN MEDINA (REUTERS)

Pelo bem ou pelo mal, vocês precisam se renovar. Foi esse o recado dado no domingo pelos eleitores espanhóis ao Partido Popular, marcando o final de toda uma geração na política do país e a necessidade de mudanças na direção partidária em várias regiões e municípios.

O presidente do Governo (primeiro-ministro) Mariano Rajoy ficou isolado, porque já não resta nenhum outro dirigente da sua geração, seja na cúpula do seu partido conservador, no Governo ou nas direções regionais. A exceção é Javier Arenas, que deixou a cena política da Andaluzia, mas ainda participa formalmente da direção do PP. São tantas as quedas que o PP de Rajoy fica numa situação de extrema debilidade política e institucional.

São da geração de Rajoy, entre outros, Esperanza Aguirre, Luisa Fernanda Rudi, Teófila Martínez, Rita Barberá e Javier León de la Riva. Aguirre, que foi ministra no Governo de José María Aznar junto com Rajoy, é o símbolo maior da derrota do partido nestas eleições. Apesar de ter recebido mais votos do que qualquer outro candidato em Madri, ela sai derrotada, obrigando a uma renovação do seu partido na capital.

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Rudi, Martínez e Barberá foram promovidos por Aznar nos anos 90 e se tornaram pilares do poder territorial do PP de Rajoy em Aragão, Cádiz e Valência. Agora, fontes do PP veem como certo que a perda de poder os levará a abandonar a política, seguindo o caminho de todos os que compartilhavam a atividade política com o atual premiê.

Nessa geração já haviam caído, após enfrentarem outros problemas, políticos como Francisco Álvarez Cascos, Rodrigo Rato e Jaume Matas, entre outros. Rajoy será agora o único sobrevivente político da época de Aznar, período em que começaram a ocorrer algumas condutas que desembocaram em escândalos políticos como o chamado Caso Gürtel.

Dessa época restava também Javier León de la Riva como prefeito eterno de Valladolid. Foi ginecologista da Ana Botella quando Aznar era presidente (governador) de Castela e Leão, e agora está prestes a deixar a prefeitura, pondo fim a outro reduto daquela época.

A queda geracional destas eleições municipais na Espanhas foi tão evidente que levou pela frente até mesmo outra fornada posterior de dirigentes regionais, surgida no início da ascensão de Rajoy à direção do PP. São os casos de Ignacio de Diego (Cantábria), María Dolores do Cospedal (Castela-La Mancha), José Antonio Monago (Estremadura) e José Ramón Bauzá (Baleares). Todos eles são barões regionais do PP com notável poder, foram símbolo de renovação em 2011 e agora passam à oposição ou, em alguns casos, anunciam sua aposentadoria política e sua incorporação ao metafórico Vale dos Caídos do PP.

Todos eles ascenderam em 2011 graças ao extraordinário resultado do PP, e nos últimos quatro anos foram o foco do poder territorial e um símbolo de força do partido. Agora, passam para a oposição.

O caso de Cospedal é especial, porque ela sustentou o partido enquanto governava Castela-La Mancha. Enfrentou sozinha o Caso Gürtel, como diz ela mesma, e agora fica como secretária-geral do PP, porém muito mais debilitada.

As quedas não são compensadas pelas chegadas, porque pouquíssimos novos nomes surgem destas eleições municipais e regionais. Cristina Cifuentes, por exemplo, conseguirá ser presidenta (governadora) da região de Madri se fizer um acordo com o partido Cidadãos, mas precisará disputar com Aguirre o controle do PP na capital.

Outros dois barões regionais clássicos, Juan Vicente Herrera (Castela e Leão) e Pedro Sanz (La Rioja) podem governar, mas dependentes de apoios e mais debilitados. Ambos, além disso, são alvo da próxima renovação geracional, já que são os decanos entre os barões regionais.

Essa mudança geracional preocupa muito os dirigentes do PP, por sua falta de conexão com o eleitorado e porque Rajoy disputará as eleições gerais contra candidatos de outra geração, como Pedro Sánchez, Albert Rivera, Pablo Iglesias e Alberto Garzón. No PP, neste panorama, não se observa a chegada iminente de novos líderes.

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