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Cuba, o destino mais desejado de famosos e políticos dos EUA

Desde que os países retomaram as relações, fluxo de visitas à ilha não parou

Silvia Ayuso
Carros clássicos em Havana à espera de turistas.
Carros clássicos em Havana à espera de turistas.Joe Raedle (Getty Images)

Antes de sair de La Guarida, um dos paladares (restaurantes particulares) mais famosos de Havana, o comediante norte-americano Conan O’Brien se deteve diante das numerosas fotos de famosos penduradas em suas paredes. Beyoncé e Jay Z, Kevin Spacey, Naomi Campbell, Jack Nicholson... A lista de estrelas norte-americanas que posaram no restaurante é longa. E datam, em boa parte, de muito antes que o presidente norte-americano Barack Obama anunciasse a normalização das relações com Cuba em 17 de dezembro e flexibilizasse um mês depois as viagens à ilha —apesar de o turismo, oficialmente, continuar proibido.

Não vejo a hora de voltar a Havana! Conan O’Brien, comediante

O’Brien, que há poucos dias transmitiu o primeiro late night norte-americano gravado na ilha em mais de meio século, sacou um retrato seu e o pendurou no meio da coleção de fotos do restaurante que há 20 anos serviu de cenário para o premiado filme cubano Morango e chocolate (1993). Pediu ao dono do paladar que não o tirasse, porque quer ver quando voltar. Porque, garante, o que ele mais quer é voltar.

“Não vejo a hora de voltar a Havana”, disse O’Brien. Não é o único. Várias empresas começaram já —ou estão em plenos preparativos para isso— a aumentar os voos fretados para a ilha a partir de diversos locais dos EUA, incluindo Nova York. Espera-se também que em breve as companhias aéreas comecem a oferecer voos regulares a Cuba, apesar de ainda ser necessário camuflar a viagem sob uma das 12 categorias de permissão impostas pelos EUA para se ir à ilha, como intercâmbio cultural ou religioso.

Quem não precisa de justificativa são os políticos, e eles não hesitam em aproveitar. Desde 17 de dezembro, a peregrinação de senadores, congressistas e governadores a Havana foi constante.

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Suas intenções são bem mais sérias do que as de O’Brien, mas as conclusões de sua estadia são muito similares: os cubanos, afirmam, estão entusiasmados com a mudança de política depois de meio século de tensões e esperam que isso melhore suas condições.

“Fiquei impressionado com a reação surpreendentemente positiva dos cubanos que vimos, incluindo alguns críticos abertos ao Governo cubano, quanto à decisão do presidente Obama de restabelecer relações diplomáticas com Cuba”, disse a este jornal, por e-mail, o senador Patrick Leahy. O democrata foi chave nas negociações entre Washington e Havana e responsável por trazer de volta o empreiteiro norte-americano Alan Gross, libertado em 17 de dezembro depois de cinco anos de prisão como parte do acordo bilateral.

Dois meses depois, Nydia Velázquez também viajava para Havana junto com mais cinco parlamentares democratas, entre eles a ex-presidenta da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi. Foram recebidos pelo ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, e o primeiro vice-presidente, Miguel Díaz-Canel, possível sucessor de Raúl Castro. Mas entre as coisas que mais impressionaram Velázquez, assim como Leahy, foram as boas-vindas que recebeu da população.

Trecho do 'late night' com Conan O'Brien em Cuba. | TEAM COCO

“Ver a cara de alegria dos cubanos, esse rosto, essa recepção de braços abertos, foi uma coisa incrível, espetacular”, afirmou Velázquez, que há 21 anos apresentou a primeira proposta de lei para acabar com o embargo a Cuba.

Tanto Leahy como Velázquez têm consciência de que, até que não se suspenda o embargo, a maior parte dos norte-americanos não poderá ver com os próprios olhos essa alegria. Ninguém se atreve a prognosticar o fim de uma medida considerada um “fracasso” por Obama, mas à qual se aferram muitos congressistas, em cujas mãos está suspendê-l0.

Enquanto isso, programas como o de O’Brien vão abrindo o apetite por uma viagem imaginada e desejada por muitos norte-americanos. O comediante se definiu como parte de uma “primeira onda” de turistas norte-americanos. Poucos duvidam de que cedo ou tarde chegarão mais.

Politics and prose, uma das livrarias mais icônicas de Washington, já está na fila para isso. “Cuba! Leia isso antes de ir”, prega o cartaz sobre a mesa dedicada exclusivamente a livros sobre a ilha, de Hemingway a Padura, passando por análises sobre as relações bilaterais. E, sem dúvida, vários guias turísticos.

Estados Unidos-Cuba, uma viagem cada vez mais fácil

S. Ayuso

Desde que o presidente Barack Obama flexibilizou, em meados de janeiro, as condições para permitir as viagens a Cuba, era questão de tempo para que as agências de viagem de linha —que até há pouco tempo sequer permitiam introduzir como destino um aeroporto cubano se o de saída fosse um norte-americano— se adequassem aos novos tempos.

A primeira empresa a fazê-lo, Cheapair, não demorou nem um mês: desde final de fevereiro, permite reservar todas as passagens —do lugar de destino nos EUA até Havana— em uma única transação, apesar de continuar sendo necessário fazer uma escala em um terceiro país, geralmente Canadá, México ou Panamá. Segundo a companhia, esse novo serviço —os demais sites quando muito mostram as possíveis conexões, mas não permitem ao turista comprar as passagens por seu sistema— responde ao “aumento de pedidos para viajar” à ilha registrado desde a flexibilização das viagens.

“Não vemos a hora de atendê-los”, afirma também a companhia de cruzeiros canadense Cuba Cruise, que acaba de abrir seus serviços a passageiros norte-americanos. Apesar de tudo, reservar uma passagem dos EUA para Cuba continua sendo mais complicado do que outros destinos, como demonstram todos os alertas e instruções extras que surgem automaticamente na tela quando se procura uma passagem para a ilha.

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