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Obama nomeia cientista com perfil erudito para chefiar o Pentágono

Ashton Carter, o novo secretário de Defesa, é especialista em física e história medieval

Ashton Carter, quando era o número dois de Panetta, em 2012.
Ashton Carter, quando era o número dois de Panetta, em 2012.YURIKO K NAKAO (REUTERS)

O perfil de Ashton Carter é poliédrico. O escolhido por Barack Obama para ser o próximo secretário de Defesa dos Estados Unidos é um erudito em física e história medieval. Conhece à perfeição os segredos do Pentágono e da burocracia. Tem boas ligações com a cúpula militar, o Capitólio e as empresas de defesa. Não serviu no Exército, mas recebeu em quatro ocasiões a medalha de serviço distintivo do Departamento de Defesa.

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Em seu recente livro de memórias, o ex-secretário de Defesa Leon Panetta compara Carter, de 60 anos e conhecido como Ash, ao personagem Scotty da série de televisão Jornada nas Estrelas, o fiel engenheiro que assistia o capitão Kirk. “Eu trabalhava na ponte enquanto ele controlava a sala de máquinas”, escreve. Carter foi o número dois de Panetta durante seu ano e meio no Pentágono. Quando Panetta deixou o cargo, no começo de 2013, Carter aspirou a substituí-lo, mas o presidente Obama escolheu o secretário que acaba de deixar o cargo, o ex-senador e antigo soldado Chuck Hagel.

Dez meses depois da chegada deste, Carter pediu demissão como secretário adjunto de Defesa alegando que tinha chegado o momento de sair. Em alguns círculos foram apontadas como razões o despeito e a falta de sintonia com o novo chefe. Agora, menos de dois anos depois, Carter destrona Hagel, cuja renúncia foi forçada pela Casa Branca no começo da semana passada.

Com Carter, Obama procura um tecnocrata que conheça bem o funcionamento da política militar. A Casa Branca via Hagel, segundo fontes oficiais citadas pela imprensa norte-americana, com uma atitude muito passiva em um momento de crescentes ameaças exteriores, com o auge do jihadismo do Estado Islâmico no Iraque e na Síria, e o papel desestabilizador da Rússia na Ucrânia.

Apesar de não ter servido ao Exército, Carter tem o respeito dos militares. “Acredito que alguma vez lhe chamaram de a figura mais importante menos conhecida de Washington, e estou de acordo com isso”, disse o chefe do Estado Maior Conjunto, general Martin Dempsey, em dezembro de 2013 na cerimônia de despedida do então número dois.

O futuro secretário de Defesa –cujo nome ainda deve ser ratificado pelo Senado– é diplomado summa cum sentencie em Física e História Medieval pela Universidade de Yale. Escreveu sua tese sobre os textos latinos dos monges flamencos no século XII. “Não havia nenhuma relação entre as duas disciplinas em minha mente além do fato de me fascinarem”, diz Carter sobre sua formação dupla em uma breve autobiografia feita para a Universidade de Harvard, onde começou a trabalhar nos anos 80.

“Eu gostava dos arquivos empoeirados, de aprender a decifrar manuscritos medievais, de aprender todos os idiomas necessários para ler literatura histórica. [...] A física era totalmente diferente: limpa e moderna, lógica e matemática”, acrescenta. Mais adiante, doutorou-se em Física Teórica na Universidade de Oxford. Carter é coautor de 11 livros e membro das academias americanas de Ciências e Artes, de Física e do laboratório de ideias Council on Foreign Relations. Também é professor visitante da Universidade de Stanford e colabora com várias fundações e centros de estudos.

Há mais de três décadas aplica sua concepção humanista-científica ao mundo militar e acadêmico. “Assessorou quase todos os grandes grupos estratégicos, conselhos de pesquisa e painéis governamentais em assuntos de segurança internacional” segundo a publicação The New Republic. Escreveu mais de cem artigos sobre física, tecnologia e segurança nacional.

Carter alternou etapas no Pentágono com o mundo acadêmico. Começou a trabalhar no Departamento de Defesa em 1981, como analista técnico no programa de mísseis nucleares na fase final da Guerra Fria. O arsenal nuclear é seu campo de especialização. Entre 1993 e 1996, sob a Administração do democrata Bill Clinton, voltou ao Pentágono como secretário de Defesa adjunto de política de segurança nuclear. Teve um papel preponderante em 1994 na crise nuclear com a Coreia do Norte, quando o país asiático expulsou inspetores internacionais.

Seu último período na sede de Defesa, nos subúrbios de Washington, começou em abril de 2009, sob a presidência do democrata Obama. Durante dois anos foi subsecretário de Aquisição, Logística e Tecnologia. Lá conheceu os segredos da estrutura armamentista e administrou a atualização do arsenal da primeira potência mundial. Em outubro de 2011 foi promovido a número dois do Pentágono, como vice-secretário de Defesa, cargo que ocupou até dezembro de 2013. Administrou o início dos cortes do orçamento anual de 600 bilhões de dólares (cerca de 1,56 trilhão de reais) de um departamento que conta com mais de dois milhões de trabalhadores militares e civis.

Sabe-se pouco sobre as posições de Carter sobre política externa, se seus apetites belicistas fazem dele um falcão ou uma pomba. Esse pai de dois filhos e nativo da Filadélfia se destaca acima de tudo por ser um bom gestor. Em suas aparições públicas, o que mais parece preocupá-lo é a necessidade de reduzir a burocracia. Por exemplo, há alguns anos lamentou o sem-fim de trâmites necessários para que um soldado localizasse seu antigo cão detector de bombas. E em janeiro publicou um artigo em que advogava facilitar gastos extraordinários para operações de contingência, e pedia para que se aprendesse das “lições” adquiridas na luta contra a insurgência no Afeganistão e no Iraque.

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