“Não sabemos o que a curou”, dizem médicos ao darem alta à enfermeira
Após cerca de um mês internada, Teresa Romero teve a cura confirmada e deixa hospital
Os médicos do hospital Carlos III de Madri que atenderam durante o último mês a auxiliar de enfermagem Teresa Romero, que nesta quarta-feira sai do hospital depois de superar a infecção por ebola, destacaram “o grande profissionalismo” e o envolvimento das mais de 100 pessoas que cuidaram da paciente, e comemoraram sua alta do hospital. Em uma entrevista coletiva no centro de saúde, o diretor Rafael Pérez-Santamarina reafirmou “a grande notícia” que significa a cura depois de “um mês complicado para todos”.
José Ramón Arribas, responsável pela unidade de doenças infecciosas, destacou que a auxiliar de enfermagem de 44 anos recebe a alta com a confiança de que não existe mais “nenhum risco de contágio”. “Pode viver sua vida normalmente”, afirmou Arribas antes de lembrar que a saída do hospital não implica que Romero esteja totalmente recuperada. “É preciso dar um tempo para uma recuperação integral de um evento muito dramático”, como é uma infecção por ebola.
O especialista explicou que o cuidado da paciente permitiu que os médicos aprendessem “lições muito importantes”, sobretudo em relação ao suporte através de fluídos. Arribas confirmou que Romero foi tratada com o antiviral Savipiravir e o soro de uma paciente curada. Apesar disso, pela não existência de um grupo de controle do uso do remédio, ainda não há segurança sobre sua eficácia.
Nessa linha, a doutora Marta Arsuaga destacou que é complicado determinar qual tratamento funcionou neste caso e afirmou que seu sistema imunológico da paciente certamente teve “muito a ver” em sua recuperação. “Não podemos dizer o que curou Teresa”, acrescentou.
O pessoal de saúde se apresentou sem a auxiliar de enfermagem. Ela, entretanto, deve falar com a imprensa no início da tarde (horário da Espanha).
Arribas também destacou que não se produziu na Espanha nenhum contágio extra-hospitalar, o que mostra que o principal risco de infecção “é para os que atendem os pacientes” em um momento no qual a carga viral em seus organismos é muito alta. Esse foi o caso de Romero ao tratar os missionários repatriados da África, que morreram no hospital em Madri.
A enfermeira Esther Bellón, que também participou na entrevista coletiva, ressaltou o “rechaço brutal” por parte da população que sentiram aqueles que trabalharam com os pacientes de ebola. Bellón, depois de manifestar sua tristeza pela morte dos religiosos repatriados, Miguel Pajares e Manuel García Viejo, explicou que sentiu preconceito e medo por parte de vizinhos e amigos, a ponto de ter adiado uma viagem.
“A principal alegria é que por fim foi possível curar um caso de ebola e, o mais importante, uma companheira”, comentou Bellón, que se apresentou voluntariamente para atender os pacientes infectados pelo vírus. Uma decisão que foi aceitada por sua família e apoiada por seu filho. Ela também atendeu um dos missionários. A enfermeira admitiu que ao tratar de pacientes com ebola, sente-se medo “o tempo todo”, mas que se faz o possível para controlá-lo e não cometer erros.
Por outro lado, o médico Fernando de la Calle lembrou que este mês foi duro do “ponto de vista científico” sobretudo ao final com a “situação especial de sua companheira”. Apesar disso, destacou o quanto a equipe aprendeu e a importância que teve a coordenação entre os vários profissionais que participaram. “Devemos estar todos contentes”, afirmou.
Os médicos foram perguntados sobre a decisão de comunicar publicamente a possibilidade de que Teresa Romero tivesse se contagiado ao tirar uma luva depois de atender um dos missionários. A paciente comentou posteriormente que não se lembra de nenhum incidente ao tirar a roupa de proteção. O gerente de Carlos III respondeu que informar os meios sobre a suspeita de contágio contribuiu para que aumentasse a segurança dos equipamentos utilizados pelos trabalhadores de saúde e diminuir o medo do vírus entre a população.
Sobre a possibilidade de que a enfermeira doe seu plasma para tratar outros pacientes contagiados, os especialistas explicaram que ainda é muito cedo e que, cientificamente, não se sabe o momento mais adequado para fazer isso.
A entrevista, que durou pouco mais de meia hora, foi encerrada com um grande aplauso à equipe médica.
Vida após a alta
No último sábado, Romero saiu do quarto de isolamento do sexto andar em que se encontrava desde o dia 6 de outubro, quando se confirmou que estava com ebola. Os últimos testes por PCR mostravam resultados negativos dos fluídos corporais da paciente, que foi transferida a um quarto convencional para continuar em observação rotineira.
A equipe médica anunciou no dia 21 de outubro que a paciente havia superado a infecção, depois de realizar, com uma margem de 48 horas, dois testes de PCR no sangue com resultado negativo.
Depois que sair do hospital, Teresa irá a sua cidade, na Galícia, e ficará com sua mãe até que sua casa seja desinfetada – estas tarefas começaram na semana passada e durarão 11 dias. Nesse período, ela e o marido devem estudar as ações legais para apontar as responsabilidades pela contaminação. Uma delas será um processo contra o ministro de Saúde, Javier Rodríguez.
Os advogados também pensam em fazer uma reclamação no Conselho de Saúde pelo sacrifício de Excálibur, o cachorro do casal. Javier Limón, marido de Teresa, disse que a ação foi “uma execução” e não um sacrifício.
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