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Ucrânia classifica a presença russa na Crimeia de “declaração de guerra”

Militares ucranianos se negam a passar ao grupo russo e reafirmam sua lealdade a Kiev O Executivo da Ucrânia mobiliza os reservistas

Militares ucranianos protegem a base de Perevalnoye.
Militares ucranianos protegem a base de Perevalnoye.D. Vojinovic (AP)

A escalada pré-bélica na Crimeia continua. Instalações militares ucranianas, que se negam a passar ao grupo russo e afirmam sua lealdade ao Governo de Kiev, estão sendo bloqueadas por soldados sem identificação que chegaram em veículos militares. Na estrada que une Simferopol a Yalta, na localidade de Perevalnoye, as dependências da Brigada Mecanizada número 36 do exército ucraniano está totalmente rodeada por dezenas de soldados armados com fuzis, embora os militares ucranianos da unidade resistam às pressões e afirmem sua lealdade a Kiev. Catorze caminhões militares sem identificações -embora ao menos três levem matrículas russas-, sete SUVs (utilitários esportivos) e ao menos um posto de homens com metralhadoras estão posicionados no perímetro da base. Dois ou três companhias de soldados controlam a área e entraram nas instalações. Unidades das forças armadas em diferentes pontos do país negaram-se a abandonar seus postos e passar ao grupo russo, ao mesmo tempo em que reafirmavam sua lealdade às autoridades de Kiev.

O comandante-chefe da Marinha de Guerra de Ucrânia, o contra-almirante Denis Berezovski, jurou neste domingo, no entanto, fidelidade ao povo da Crimeia, segundo a versão das agências russas. "Eu, Berezovski Denis Valentínovich, juro fidelidade ao povo da Crimeia e prometo defendê-lo como exige a lei", afirmou em uma coletiva de imprensa em Sebastopol, porto da Crimeia, informa a agência Efe. Berezovski foi designado ontem para o comando das forças navais ucranianas mediante um decreto do presidente interino de país, Alexandr Turchínov. O primeiro-ministro pró-russo da Crimeia, Serguéi Axiónov, anunciou neste domingo a criação da Marinha de Guerra desta república autônoma. Axiónov, nomeado há três dias pelo Parlamento da Crimeia e não reconhecido pelas autoridades de Kiev, acrescentou que no comando desta Armada estará o contra-almirante Berezovski depois de sua deserção como comandante das forças navais ucranianas. O Governo ucraniano, por sua vez, acusou Berezovski de traição em um comunicado oficial, informa Reuters.

As autoridades fronteiriças ucranianas removeram os navios da Guarda Costeira dos portos de Kerch e Sebastopol, na península da Crimeia, até Odesa e Mariupol, longe desta área, um indício a mais da tomada de controle de Crimeia por parte das forças militares russas. Além disso, uma coluna de caminhões militares russos está avançando pela estrada para Simferopol, capital da república autônoma ucraniana de Crimeia desde a cidade de Sebastopol, onde tem é a base a Frota russa do Mar Negro, segundo meios locais e imagens difundidas pela televisão.

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, declarou que os movimentos de tropas russas na Crimeia são "uma declaração de guerra" contra Ucrânia e solicitou ao presidente Vladimir Putin que retire a seus soldados. "Pedimos que retire a suas tropas deste país e honre os acordos bilaterais", declarou Yatseniuk em um comunicado oficial obtido pela rede britânica BBC. Por sua vez, o presidente interino da Ucrânia, Alexandr Turchinov, confirmou que "tropas russas bloqueiam unidades militares ucranianas" na república autônoma da Crimeia e anunciou o fechamento do espaço aéreo do país a voos não comerciais.

Mobilização dos reservistas

O Ministério da Defesa ucraniano mobilizou os reservistas (todos os homens de até 40 anos, em um país com serviço militar obrigatório) e ordenou que o chefe do Estado Maior e os comandantes militares coloquem em alerta de combate suas unidades diante a intervenção militar russa na península da Crimeia, autorizada ontem pelo Parlamento a pedido de Vladimir Putin. Assim o anunciou neste domingo o secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia (CDSN), Andréi Parubi, em um comparecimento diante d imprensa na Rada Suprema (legislativo), reunida em Kiev. Parubi acrescentou que a chamada dos reservistas só afetará "aqueles que o Ministério de Defesa considere necessários". "Precisamos de um Exército unido, precisamos de ações coordenadas", sublinhou.

No sábado, ante a escalada de tensão e a ameaça russa, o novo primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, pediu à Rússia que retire a seu Exército do território ucraniano. “Estamos preparados para nos defender”, afirmou em um discurso ao vivo por televisão. “Se houvesse uma agressão, significaria a guerra e cessariam todas nossas relações com a Rússia”, disse depois de uma reunião de emergência com os chefes de segurança do país.

Kiev respondeu pondo em alerta a seu Exército diante da autorização ao presidente russo, Vladimir Putin, para utilizar tropas russas na península do mar Negro. Junto a Yatseniuk estava o presidente interino, Alexander Turchinov, que assegurou que os locais estratégicos do país, como aeroportos ou usinas nucleares, estão protegidos. Pediu calma aos cidadãos. “Em caso de ataque, temos um plano de resposta”, garantiu. Por sua vez, o ministro de Assuntos Exteriores, Serguéi Deshchiritsya, pediu ajuda à OTAN para proteger a integridade territorial da Ucrânia.

Agora, o Ministério de Assuntos Exteriores de Ucrânia deve se dirigir sem demora aos órgãos correspondentes dos países signatários do Memorando de Budapeste -EUA e Reino Unido- para manter consultas urgentes e garantam a segurança da Ucrânia. Este tratado, que foi assinado em dezembro de 1994 na capital húngara, garante por parte dos países signatários (Rússia entre eles) a segurança da Ucrânia, sua soberania e integridade territorial depois que renunciasse às armas nucleares herdadas da União Soviética. O Ministério do Interior foi encarregado de reforçar a proteção das instalações energéticas do país e de outras infraestruturas estratégicas.

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