_
_
_
_

O Governo de Maduro redobra a perseguição aos meios de comunicação

O regime chavista acusa a rede CNN de “propaganda de guerra” e anula a credencial da sua correspondente. Na última semana, o Executivo suspendeu o sinal da colombiana NTN 24

Imagem de San Cristóbal, capital do Estado Táchira.
Imagem de San Cristóbal, capital do Estado Táchira.AFP

A obstinação dos jovens na rua, e do dólar no mercado negro, deteriorou em poucos dias a imagem de consolidação que o Governo de Nicolás Maduro conseguiu construir a partir de seu triunfo nas autárquicas eleições de dezembro. Ontem se mantinham focos de distúrbios e bloqueio de ruas no leste de Caracas —o tradicional baluarte opositor— e também em outras cidades, numa continuação da campanha de protestos iniciada no dia 12 de fevereiro e na qual, até o momento, segundo a versão oficial, houve oito mortos, 160 feridos e 324 prisões.

Enquanto isso, o dólar pulava a uma cotação de 88 bolívares no mercado paralelo, apesar das medidas de “equilíbrio” anunciadas na quarta-feira por Maduro.

Diante dessa realidade, o Governo desviou a atenção culpando a imprensa. “A mídia criou desassossego na população”, acusava ontem Gabriela Ramírez, Defensora do Povo e ex-parlamentar chavista. “A CNN poderia estar incorrendo em propaganda de guerra”, continuou, dando a razão ao presidente Maduro, que na noite anterior dava ordens à ministra de Comunicação e Informação, Delcy Rodríguez, que iniciasse o processo administrativo para tirar do ar o sinal dessa rede internacional. Por sua vez, o prefeito oficialista de Caracas e irmão da ministra, Jorge Rodríguez, opinou que a CNN estava fazendo "exatamente o mesmo que fez a rádio hutu que chamava de baratas aos tutsis na Ruanda”.

A CNN em espanhol —que é vista na Venezuela por meio de diversos serviços de televisão por assinatura— dedicou boa parte de sua programação a informar sobre os protestos na Venezuela que foram ignorados ou minimizados pelos meios locais, sob um forte controle governamental. Sua apresentadora principal, a jornalista Patricia Janiot, chegou à Venezuela na terça-feira para cobrir os protestos no local. No entanto, na sexta-feira Janiot abandonou o país depois das acusações de Maduro contra a CNN, pouco depois de o Governo anular a credencial da correspondente permanente na Venezuela, Osmary Hernández. Na última semana, o Executivo suspendeu, “por uma decisão de Estado”, o sinal da NTN24, um canal colombiano de notícias que cobriu ao vivo o primeiro dia de protestos.

Durante a crise registraram-se 50 casos de ataques contra a imprensa, reportou o Instituto Prensa y Sociedad de Venezuela. Em uma coletiva de imprensa, o presidente do Colégio Nacional de Jornalistas Alejandro Tinedo Guía, exigiu ao Estado venezuelano garantir as condições para o exercício da profissão. “Respeitem e protejam os jornalistas na rua”, disse, “eles são os olhos e as vozes do mundo”.

“O Governo venezuelano adotou abertamente a tática clássica de um regime autoritário”, expressou desde Washington José Miguel Vivanco, diretor de Human Rights Watch. “Encarcerando seus oponentes, amordaçando os meios e intimidando a sociedade civil”.

O Governo exerce, além disso, a perseguição pura e dura. Na terça-feira entregou-se às autoridades o líder do partido Voluntad Popular, Leopoldo López, a quem o Governo aponta como principal instigador das desordens. Preso em um cárcere militar, enfrenta acusações de associação criminosa e dano de bens públicos. Se for considerado culpado, poderia ficar preso dez anos. Ao mesmo tempo, o poder judiciário emitiu ordens de captura contra outros dirigentes do Voluntad Popular.

Em resposta, a oposição convocou para hoje uma grande concentração na capital. Além da libertação dos presos e o fim da perseguição, a oposição exige o desarmamento dos grupos de choque chavistas que participaram no controle das manifestações.

Depois de o presidente Maduro suspender o serviço de metrô e ônibus nas zonas opositoras do leste de Caracas — medida que foi revogada 24 horas depois —, ontem o ministro de Petróleo e Minas, Rafael Ramírez, anunciou que estuda outra manobra de controle social: o corte do fornecimento de gasolina “às zonas sob o assédio de bandas fascistas”. Enquanto os confrontos continuavam, o mais temível adversário do regime de Maduro, a crise econômica, continuava intacta.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_