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TENSÃO NA VENEZUELA

O opositor Leopoldo López se entrega à polícia venezuelana

A deputada María Corina Machado também foi detida, segundo seu porta-voz

Os protestos mantêm-se em Caracas e outras cidades de Venezuela.Foto: atlas

O líder da oposição venezuelana Leopoldo López se entregou nesta terça-feira à polícia, após permanecer escondido desde quinta-feira da semana passada. Antes de ser preso afirmou que se entrega a uma "justiça injusta" e "corrupta", mas assegurou que nem passará à clandestinidade nem abandonará seu país. López foi levado por um carro da polícia enquanto seus seguidores cantavam para lhe apoiar. Também foi detida a deputada María Corina Machado, segundo informa seu próprio serviço de imprensa, que acrescenta que "seu paradeiro é desconhecido assim como o do grupo de deputados que estavam com ela no momento da detenção". O ministro de Exteriores da Venezuela, Elías Jaua, assegurou que a entrega de López é um exemplo de que o Estado atua com "firmeza" e da "vontade de paz" de toda a população.

Desde a semana passada, o Governo procurava López para cumprir a ordem do tribunal, que lhe acusa de promover e coordenar os distúrbios da quarta-feira passada. López convocou uma marcha que culminou em sua entrega às autoridades. Os manifestantes começaram a se concentrar na praza Brión, no limite entre o município Chacao, comandado pelo opositor Ramón Muchacho, e o município Libertador, cujo prefeito é Jorge Rodríguez, do partido do governo. Um amplo cordão policial impede ao transeunte caminhar além da praça, de acordo com as fotos publicadas no Twitter e ao testemunho de várias pessoas consultadas por este jornal.

O chavismo, enquanto isso, se concentra a alguns quilômetros deste lugar, na praça Venezuela. Os trabalhadores petroleiros identificados com o Governo, acompanhados do ministro de Energia e Petróleo e o previdente da estatal petroleira Pdvsa, Rafael Ramírez, caminharão até o Palácio de Miraflores para entregar uma cópia do contrato da indústria, recentemente aprovado com o presidente Nicolás Maduro. Durante o recém estreado programa do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, o prefeito de Libertador (oeste de Caracas), Jorge Rodríguez, prometeu que "o facismo não entrará em Caracas". Ao mesmo tempo, pediu aos chavistas que se mantenham alertas à chegada de opositores ao seu feudo. Todo mundo está na expectativa.

Leopoldo López é detido nesta terça-feira em Caracas.
Leopoldo López é detido nesta terça-feira em Caracas.JORGE SILVA (REUTERS)

Venezuela despertou com a notícia de que o presidente Maduro destituiu o diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin, a polícia política), Manuel Bernal Martínez, de acordo com o decreto 793 publicado no Diário Oficial. Seu substituto é Gustavo Enrique González López.

A medida parece uma resposta ao vídeo elaborado pela unidade de investigação do jornal Últimas Notícias, que analisou o material captado por amadores e concluiu que funcionários da Sebin podem ser responsáveis por uma das três mortes ocorridas no dia 12. No domingo, em um pronunciamento televisionado a todo o país, Maduro reconheceu que parte da polícia política desobedeceu a ordem de permanecer no quartel e atuou por conta própria.

Os protestos da semana passada terminaram com três pessoas mortas, dezenas de feridos e detidos, a fachada da Procuradoria da República destruída e vários veículos da polícia científica danificados. López convocou as pessoas para que participem de uma manifestação que já começou em vários pontos do país.

Na noite passada, as ruas próximas à praça Francia, no bairro Altamira, estavam desertas como em qualquer noite de fevereiro em Caracas. Fresca, vazia e com uma leve brisa que vinha da esplanada. Os manifestantes da oposição que a transformaram em um forte durante as cinco noites prévias resolveram descansar para enfrentar uma jornada, a desta terça-feira, que parece que será intensa.

Para aumentar a tensão, esta segunda-feira a Direção da Contra-inteligência Militar invadiu a sede do partido de López. Os vídeos do Youtube, feitos com câmeras de segurança mostram um grupo de oficiais entrando com uma arma na mão no hall do edifício e chutando as portas que dão acesso aos escritórios. Os dirigentes opositores exigiam nos vídeos uma cópia da ordem de invasão, que não apareceu nas imagens.

Talvez tenha sido o momento mais tenso da jornada na capital venezuelana. Os arredores do edifício onde López se entregará, localizado na cêntrica avenida Urdaneta, estavam com sua habitual solidão noturna. Nas ruas paralelas alguns vizinhos tinham as portas de suas casas abertas e bebiam cervejas no gargalo. Próximo à praça Venezuela, de onde sairá a manifestação chavista, já estavam em seus lugares os piquetes da Guarda Nacional, vestidos com seu escudos anti-motim. A avenida principal de Bello Monte permanecia fechada com tochas acesas, assim como a entrada da estrada Francisco Fajardo, para quem vem de La Urbina. Outras informações não confirmadas e distribuídas através da rede social Twitter mencionavam protestos pacíficos em setores populares de Caracas, como Caricuao e El Valle.

No resto do país não viveu a mesma calma durante a noite. No estado de Mérida, ocidente do país, ocorreram os conflitos mais violentos da jornada. O ministro de Turismo Andrés Izarra denunciou que vários manifestantes apedrejaram o hotel Venetur na capital de mesmo nome. Euro Lobo, um jornalista local, assegurava que os tanques da Guarda Nacional estavam espalhados pela cidade, que está em um monte, acompanhados de motos que dissolviam qualquer manifestação. Em Carúpano, no oriente do país, um condutor atropelou um manifestante que estava dentro de um grupo mais numeroso, que rejeitava o governo nas ruas. O deputado César Rincones confirmou sua morte através das redes sociais.

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