Cofundador da BioNTech diz que será necessária uma terceira dose de sua vacina, produzida com a Pfizer
A fórmula do imunizante exigirá outra dose de reforço nove meses depois e provavelmente a cada ano ou ano e meio. Brasil espera receber um milhão de doses do fármaco nesta quinta-feira
Aviso aos leitores: o EL PAÍS mantém abertas as informações essenciais sobre o coronavírus durante a crise.
A vacina da BioNTech e da Pfizer necessitará de uma terceira dose aos nove meses ou no máximo um ano depois da segunda, afirmou nesta quarta-feira Ugur Sahin, cofundador da empresa alemã BioNTech, para voltar a aumentar a proteção contra o coronavírus. O cientista explicou durante uma entrevista virtual com correspondentes estrangeiros na Alemanha que os estudos mais recentes mostram que a imunidade diminui com o passar dos meses e que será necessário reativá-la com uma terceira dose, e provavelmente com doses sucessivas a cada ano ou ano e meio. É algo semelhante ao que acontece com a gripe sazonal.
O imunizante da BioNTech e da Pfizer, do qual o Brasil espera receber o primeiro lote, de um milhão de doses, nesta quinta-feira, é o primeiro aprovado para uso comercial que emprega RNA mensageiro (assim como o da Moderna), uma espécie de instrução com a qual se fabrica uma proteína que provoca a resposta imunológica. Atualmente a vacina é administrada em duas doses, com 21 dias de intervalo. Sahin afirmou que, de acordo com os testes clínicos realizados com 40.000 participantes, essa prescrição confere 95% de proteção. Em condições reais, acrescentou, referindo-se ao caso de Israel, onde mais de cinco milhões de pessoas já foram vacinadas, o percentual é ainda maior, de 96% ou 97%.
Os estudos das empresas mostram que depois de seis meses a proteção já não é de 95%, mas de 91% e têm dados que indicam que aos oito meses a presença de anticorpos é menor. “Precisaremos de uma terceira dose”, disse Sahin, “para aumentar a imunidade novamente e aproximá-la de 100%”. O executivo-chefe da Pfizer, a empresa norte- americana parceira da companhia alemã que desenvolveu a fórmula, disse há duas semanas em uma entrevista que talvez fosse necessária uma terceira dose da vacina. Albert Bourla disse que “provavelmente será necessária em algum ponto entre seis e 12 meses [depois da segunda]. E, a partir daí, haverá uma vacinação anual, mas tudo isso terá de ser confirmado”.
A vacina da Pfizer-BioNTech é a grande aposta da União Europeia, depois dos problemas de fornecimento da AstraZeneca e das limitações de idade em seu uso devido a casos muito raros de trombose. A Comissão anunciou há duas semanas uma remessa extra de 50 milhões de doses desse laboratório até junho e negocia a aquisição de até 1,8 bilhão nos próximos anos. Até então, Bruxelas havia acordado a compra de até 600 milhões de doses desta empresa. “Demonstrou ser um parceiro confiável”, disse a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Cumpriu seus compromissos e responde às nossas necessidades”. Até esta quarta-feira foram entregues 100 milhões de doses da Pfizer-BioNTech aos países da União Europeia. As vacinas desta empresa representam dois terços do total recebido pela UE.
Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$
Clique aquiEficácia contra a variante indiana
Sobre a variante indiana, a que mais preocupa atualmente no mundo devido à situação desesperadora no subcontinente, Sahin disse estar confiante de que sua vacina também será eficaz e conferirá imunidade. O cientista, fundador do laboratório junto com sua mulher, a também doutora Özlem Türeci, disse que os testes ainda estão sendo feitos, mas que espera que a vacina também funcione. A variante indiana tem a particularidade de combinar duas mutações já vistas em outras variantes, a brasileira e a californiana, por isso é conhecida como a variante da dupla mutação. “Já estudamos essas duas mutações e nossa vacina funcionou com ambas, o que nos dá confiança”, comentou.
O cofundador da BioNTech também falou sobre o debate a respeito da suspensão das patentes durante a pandemia. Em sua opinião, liberar a propriedade intelectual das fórmulas não faria aumentar a produção. A melhor solução, segundo ele, seria conceder licenças de produção a empresas com capacidade de fabricar as doses. A vacina, enfatizou, não é fácil de produzir e deve ser garantida exatamente a mesma fórmula e a mesma qualidade em todos os lotes distribuídos pelo mundo. Sua empresa estuda como ceder essas licenças de produção a laboratórios especializados, o que pode acontecer no final deste ano, adiantou.
Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.