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Crise no Afeganistão
Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Lembremos que tudo se move e que a escuridão um dia também vai embora

Os talibãs de todos os lugares um dia irão embora, como também foram os Senhores que roubavam o tempo no belo livro ‘Momo’, de Michael Ende. A resistência e a arte que transgride são eternas

Vítima do ataque é resgatada. O porta-voz talibã Mohamed Jorasani afirmou a France Presse que os milicianos receberam ordens de disparar contra “os estudantes mais velhos, mas não contra as crianças”.
Vítima do ataque é resgatada. O porta-voz talibã Mohamed Jorasani afirmou a France Presse que os milicianos receberam ordens de disparar contra “os estudantes mais velhos, mas não contra as crianças”.KHURAM PARVEZ (REUTERS)
Roseana Murray
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Internally displaced Afghan women, who fled from the northern province due to battle between Taliban and Afghan security forces, gather to receive free food being distributed by Shiite men at Shahr-e-Naw Park in Kabul on August 13, 2021. (Photo by WAKIL KOHSAR / AFP)
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KABUL, AFGHANISTAN - AUGUST 12: Farzia, 28, who lost her husband in Baghlan one week ago to fighting by the Taliban sits with her children, Subhan, 5, and Ismael ,2,  in a tent at a makeshift IDP camp in Share-e-Naw park to various mosques and schools on August 12, 2021 in Kabul, Afghanistan. People displaced by the Taliban advancing are flooding into the Kabul capital to escape the Taliban takeover of their provinces. (Photo by Paula Bronstein/Getty Images)
Proteger os civis afegãos

Penso que todas as religiões em sua essência são belas. A relação dos humanos com o sagrado é tão antiga quanto somos sobre a Terra. Mas tão logo escapam da sua bela essência para controlar a vida privada de cada um, de um Estado inteiro, um país inteiro, esperemos domínio e matanças. Talvez ainda seja cedo para entendermos a onda monumental de extrema direita que assola tantos países hoje, com sua truculência, seu desejo destruidor de poder e pensamento único, o aniquilamento do que não é igual.

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Sempre fomos um país cruel, com abismos sociais inadmissíveis. Não sei se chegamos ao ponto máximo, mas a situação que vivemos hoje é insuportável para milhões de brasileiros que já não podem comprar o básico. O lado sombrio da história da humanidade é estarrecedor. Guerras, conquistas, genocídios, escravidão, sangue. Este lado tenebroso parece um continuum.

Mas homens e mulheres fazem arte. Poesia, pinturas, música, dança. Essa luz é imensa. Também é um continuum. Transgridem. Resistem. Já que somos impotentes diante desta onda, que abrigamos dentro de nós, a dor das mulheres afegãs, o horror de todos os Talibãs de qualquer lugar, a dor dos que passam fome e vivem tão abaixo da linha da dignidade no Brasil, sob slogans mortíferos, precisamos, cada um em sua vida, acreditar que tudo se move e também eles um dia irão embora, como no belo livro Momo de Michael Ende, foram embora os Senhores que roubavam o tempo.

Precisamos colocar as horas para secar ao sol, porque são muitas as lágrimas. E não desistir de buscar cada dia o melhor que existe em nós. O melhor que existe em nós é simples. Saber que todos os que vivem neste planeta, bicho, planta, gente, são variações de uma mesma matéria, que por sua vez é constituída com a mesma matéria das estrelas. Que essa vida, em suas variações magníficas, é diversa e constitui a mais esplêndida sinfonia.

Que tudo o que é vivo sente. Gente, planta, bichos. A partir daí, por fazermos parte desta teia, podemos sentir em nós o que o outro sente. E todo ser humano, como disse nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, é um “estranho ímpar”. Acolheremos o outro na sua singularidade. Não destruiremos o outro.

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