Trump manobra para manter em segredo documentos relativos à invasão do Capitólio

Ex-presidente dos Estados Unidos torpedeia a comissão da Câmara dos Deputados que investiga o que aconteceu em 6 de janeiro

Donald Trump, no domingo passado, nas imediações da Torre Trump, em Nova York.JEENAH MOON (Reuters)

Donald Trump tenta manter em sigilo os documentos relacionados à invasão do Capitólio. O ex-presidente dos Estados Unidos entrou com uma ação em um tribunal federal em Washington contra a comissão da Câmara dos Representantes (deputados) que investiga o ataque em 6 de janeiro. O objetivo é que alguns dos documentos arquivados não sejam tornados públicos. A demanda chega também ao Arquivo Nacional, instituição que guarda os escritos considerados históricos.

A Casa Branca de Joe Biden rejeitou há mais de uma semana que os documentos solicitados pela comissão parlamentar fossem guardados sob a rubrica de privilégio executivo, o direito do presidente de manter confidenciais certos dados. Com a decisão, o atual Governo deu luz verde para que o Arquivo Nacional entregue os papéis (cerca de 40 dossiês) aos parlamentares que investigam o ocorrido em 6 de janeiro. Trump invoca o sigilo desses documentos, alegando que sua publicação poria em perigo a saúde dos Estados Unidos.

“Em um estratagema político para satisfazer seus aliados de partido, o presidente Biden se recusou a exercer o privilégio executivo sobre vários documentos solicitados pela comissão”, diz o documento apresentado pelos advogados de Trump ao juiz. O ex-presidente insiste em que a única coisa que a Câmara dos Representantes busca com o pedido de publicação desses papéis é persegui-lo, como também a quem trabalhou em sua Administração.

De acordo com a ação apresentada nesta segunda-feira, o pedido da comissão parlamentar visa “investigar inconstitucionalmente o presidente Trump e seu Governo”. “Nossas leis não podem permitir ações tão hediondas e impulsivas contra um ex-presidente e seus assessores próximos”, acrescenta o texto. O magnata compara o pedido a uma “expedição de pesca ilegal e vexatória respaldada” por Biden.

No final de setembro, quatro dos assessores mais leais a Trump foram chamados para testemunhar perante a comissão legislativa criada pela presidenta da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi: seu último chefe de Gabinete, Mark Meadows, o estrategista digital da Casa Branca, Daniel Scavino, o conselheiro-chefe do Pentágono, Kashyap Patel, e o influente assessor Steve Bannon. Todos eles têm que depor perante a comissão formada por 11 democratas e dois republicanos. Trump disse então que aconselharia seus assessores a recorrerem ao privilégio que abarca aqueles que fizeram parte da Casa Branca de manter em segredo as comunicações e discussões com seu chefe. Todos os depoimentos foram adiados, exceto o de Bannon, que se recusou a comparecer perante a comissão.

Foi em meados deste ano que a comissão, de maioria democrata, solicitou uma série de documentos a sete agências federais para investigar o ataque ao Congresso perpetrado por uma multidão de partidários de Trump com o objetivo de bloquear a nomeação de Joe Biden como presidente. Os membros da comissão também coletam informações sobre a organização e o financiamento dos comícios de Trump nos quais foram feitos chamados a que se bloqueasse ou retardasse a transferência do poder para o democrata.

A comissão pediu aos Arquivos Nacionais todos os documentos da Casa Branca que fizessem alusão a termos como “eleição roubada”, “roubo de eleição” ou “eleição manipulada”. Também solicitou informações ao FBI, ao Pentágono e aos departamentos de Segurança Interna, Interior e Justiça, entre outros órgãos federais. Os congressistas estão procurando material “relacionado a inteligência coletada antes de 6 de janeiro sobre fatos que poderiam ocorrer naquele dia”.

Em 6 de janeiro, cinco pessoas morreram e cerca de 140 agentes foram agredidos. Até agora, cerca de 550 pessoas foram indiciadas por acusações relacionadas ao ataque ao Capitólio, incluindo 165 acusadas de crimes de agressão a autoridade.

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