Ex-comandantes das FARC fornecem dados sobre o destino de 55 sequestrados desaparecidos

Como parte dos acordos de paz, a extinta guerrilha colombiana deve ajudar a reconstruir a história de 192 indivíduos que nunca foram encontrados

Rodrigo Londoño, presidente do partido político criado pela extinta guerrilha FARC, e Luz Marina Monzón, diretora da Unidade para a Busca dos Desaparecidos.

O sequestro foi um dos crimes mais cruéis cometidos pela extinta guerrilha FARC durante o conflito armado colombiano. Em alguns casos, houve liberações ou resgates militares após anos de cativeiro; mas, em muitos outros, essas pessoas nunca retornaram às suas casas e seu rastro se perdeu por completo. O desaparecimento pelas mãos da guerrilha é uma ferida ainda aberta para centenas de famílias.

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Como parte do acordo de paz entre as FARC e o Governo, os ex-guerrilheiros têm a obrigação de entregar informações que contribuam para esclarecer esses desaparecimentos e, embora seja um processo longo, um primeiro passo acaba de ser dado. Os ex-comandantes da extinta guerrilha, hoje transformada em partido político, entregaram informações sobre 55 casos à Unidade de Busca de Pessoas Dadas como Desaparecidas (UBPD).

“É um marco porque uma das partes combatentes está honrando o compromisso ao entregar informação muito precisa, que teremos que ampliar, mas que contribui para a busca de pelo menos 192 pessoas desaparecidas durante o conflito armado”, disse Luz Marina Monzón, diretora da UBPD.

O Sistema Integral de Verdade, Justiça e Reparação criado no processo de paz é um triângulo que inclui a Jurisdição Especial para a Paz (JEP), a Unidade para a Busca dos Desaparecidos e a Comissão da Verdade. Na JEP e no tribunal de paz avança o processo 001, no qual se imputam aos antigos membros do secretariado das FARC vários crimes de guerra e contra a humanidade relacionados à prática de sequestros. A entrega de informação é parte de sua obrigação de contribuir para a apuração da verdade. Neste caso concreto, a UPBD identificou 192 desaparecidos, dos quais 81 são integrantes das forças de segurança, e 111 são civis.

Entretanto, Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, presidente do Partido Comuns e ex-comandante das FARC, afirmou que essa entrega de informação não está condicionada por seu comparecimento perante a JEP nem por sua responsabilidade no caso. “Trata-se de um compromisso ético, político e humanitário”, disse. “Em coordenação com a Unidade de Busca, identificamos 192 casos para trabalhar na documentação, dos quais em 8 conseguimos estabelecer uma informação inicial que pode levar a resultados definitivos na busca de pessoas dadas como desaparecidas”, acrescentou Londoño.

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Os dados entregues pela antiga guerrilha são um ponto de partida. Trata-se de informação sobre o contexto em que os sequestros foram cometidos, as circunstâncias da morte e o desaparecimento das vítimas, assim como explicações sobre a estrutura da guerrilha e as frentes às quais se atribuem os fatos, as zonas de operação e os comandantes nessas regiões. Com isso, diz Monzón, a UBPD poderá determinar as hipóteses de localização desses 192 indivíduos, saber o que aconteceu com eles e dar mais informações aos familiares.

“É um feito do Acordo de paz”, disse a diretora do organismo, enquanto Carlos Ruiz Massieu, chefe da Missão de Verificação das Nações Unidas na Colômbia, afirmou que essa contribuição “representa uma vez mais o compromisso dos signatários com o que a sociedade colombiana espera deles, e é um passo para a verdade”.

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