Trump assina ordem executiva para priorizar norte-americanos na vacinação

Presidente afirma que, caso haja algum problema com as farmacêuticas, recorrerá à Lei de Proteção à Produção, que lhe permite exigir que as empresas priorizem seus contratos

Donald Trump, presidente cessante dos Estados Unidos, depois da assinatura da ordem executiva.Oliver Contreras / POOL (EFE)
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O presidente Donald Trump assinou nesta terça-feira uma ordem executiva para dar “prioridade aos norte-americanos” na administração das vacinas contra a covid-19 produzidas nos Estados Unidos, antes de fornecer doses a outros países. No caso de haver problemas com as empresas farmacêuticas, alertou, Trump invocará a Lei de Proteção à Produção, promulgada no início da Guerra da Coreia, em 1950, que autoriza o presidente a exigir que as empresas priorizem os contratos para produtos considerados necessários à defesa nacional. A assinatura aconteceu durante o que ele chamou de “cúpula da vacina”, realizada na Casa Branca, dois dias antes da reunião pública da Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA na sigla em inglês) na quinta-feira para avaliar uma autorização de uso emergencial para a vacina da Pfizer e BioNTech, que nesta terça-feira começou a ser administrada, já fora do âmbito de um teste clínico, no Reino Unido.

O presidente cessante, que convocou uma coletiva de imprensa na mesma hora em que o presidente eleito Joe Biden apresentava a equipe à qual encarregou a gestão da crise sanitária quando chegar à Casa Branca em 20 de janeiro, quis reivindicar parte do mérito do rápido desenvolvimento das vacinas contra a covid-19. Trump não economizou superlativos. Falou de “um êxito incrível”, de “uma monumental conquista nacional”.

A atividade pública do presidente norte-americano reduziu-se drasticamente desde que perdeu as eleições em 3 de novembro, derrota que ainda se recusa a admitir, e suas intervenções se limitam basicamente a difundir falsas acusações sobre uma suposta fraude eleitoral massiva que nem as autoridades estaduais, nem os tribunais, até o momento, detectaram. Assim, a improvisada “cúpula da vacina” foi o único evento público do presidente nesta terça-feira, e foi ofuscada pelo fato de que tanto a Pfizer quanto a Moderna, as duas empresas farmacêuticas norte-americanas entre as desenvolvedoras das vacinas mais avançadas, recusaram o convite para participar da reunião.

Participaram da “cúpula” o presidente, o vice-presidente Pence, membros da equipe do coronavírus da Casa Branca e executivos de empresas de vendas, distribuição e logística de medicamentos. Ninguém da equipe de transição do presidente eleito Biden foi convidado, apesar do fato de que será a Administração do democrata que terá de gerir o grosso da operação de vacinação. Tampouco participou o doutor Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, que depois de assessorar a Administração de Trump, com quem teve notórios desacordos, também será o principal conselheiro médico de Biden.

Para além do exercício de propaganda de um presidente ávido por limpar sua criticada gestão da crise, o evento foi um novo exercício de pressão sobre a FDA para que conceda as autorizações de emergência. “Estamos a dias da aprovação por parte da FDA”, disse Trump, “estamos fazendo muita pressão sobre eles”.

A assinatura da ordem executiva permitiu-lhe entoar novamente, a pouco mais de um mês de que se veja obrigado a deixar a Casa Branca, seu slogan America first (Estados Unidos primeiro). No entanto, predominavam as dúvidas nesta terça-feira quanto ao alcance e o teor específico da ordem executiva. O próprio doutor Moncef Slaoui, que está à frente da Operação Warp Speed (em referência a um termo da ficção científica que significa ultrapassar a velocidade da luz), a iniciativa público-privada de Trump para acelerar a criação de uma vacina, afirmou pela manhã à rede de televisão ABC que não tinha isso claro. “Francamente, não sei e, francamente, vou ficar fora disso. Não sei do que trata essa ordem”, disse.

A reunião acontece depois que foi publicado que os Estados Unidos perderam a oportunidade de comprar milhões de doses adicionais da vacina da Pfizer no verão, o que poderia atrasar a distribuição do segundo lote de vacinas até que os produtores cumpram seus contratos com outros países. Espera-se que 100 milhões de doses da vacina, suficientes para imunizar 50 dos 328 milhões de norte-americanos, sejam distribuídas nos próximos meses.

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