Eleições EUA 2020: Por que talvez não saibamos os resultados na noite eleitoral?

Cada Estado tem regras distintas para contabilizar o voto por correio. Não se descartam litígios em caso de dados ajustados

Mensagem em prédio pedindo que os americanos votem.Bryan Glazer (AP)

Devido à pandemia do novo coronavírus, um recorde histórico de eleitores votou antecipado ou enviou sua cédula por correio para as eleições presidenciais dos Estados Unidos. Faltando poucos dias para o pleito, mais de 93 milhões de norte-americano já votaram, que representa quase 70% do voto global de 2016. Isso coloca a democracia mais antiga do mundo em um cenário sem precedentes: conhecer o vencedor da disputa na noite desta terça-feira dependerá de vários fatores, e alguns especialistas consideram que os EUA podem não saber quem será seu próximo presidente, ainda que o democrata Joe Biden seja o favorito nas pesquisas.

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Cada Estado tem suas próprias regras do jogo na hora da apuração. Alguns permitem processar o voto antecipado antes do dia D. Outros, somente a partir dessa data. E há vários que aceitam cédulas inclusive semanas depois da jornada eleitoral. A atenção está voltada para os nove Estados considerados chave nesta eleição, onde as pesquisas mostram um resultado apertado ou onde a história nem sempre dá vitória ao candidato de um mesmo partido: Flórida, Pensilvânia, Michigan, Carolina do Norte, Ohio, Wisconsin, Iowa, Arizona e Minnesota. Outros três podem ser a surpresa, e várias casas de apostas os incluíram como competitivos na reta final: Texas, Nevada e Geórgia.

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O mundo inteiro os observa com atenção. Dentro desse pacote de Estados, cada um tem seu sistema de apuração e há diferentes fusos horários, de modo que uns informarão os resultados antes que outros. Alguns já estão processando os votos antecipados, enquanto outros só poderão começar a contá-los a partir desse dia. As margens também podem mudar ao longo da noite ou dos dias posteriores, e nas corridas muito disputadas não se descartam disputas legais que obriguem a realização de uma segunda apuração. Para ganhar as eleições, um dos dois candidatos deve alcançar 270 dos 538 votos eleitorais, distribuídos proporcionalmente segundo a população de cada Estado. A maioria do sufrágio popular atribui todos os votos eleitorais em jogo ao candidato eleito no território.

Os jornais dos EUA já advertiram que planejam ter mais precaução este ano ao projetar os vencedores, pois os primeiros resultados podem não oferecer um panorama completo da situação. À medida que os votos por correio forem incluídos, o mapa deve favorecer os democratas. Nos territórios que divulgam em qual partido está inscrito o eleitor que já exerceu seu direito, os dados mostram que os partidários de Joe Biden têm 15 pontos de vantagem em relação aos republicanos (45% contra 30%). No entanto, os Estados que já tiverem processado e contado os votos por correio e depois somarem os realizados pessoalmente podem vivenciar uma mudança favorável para Donald Trump, já que, segundo as pesquisas, a maioria de seus seguidores votará nesta terça.

O melhor cenário para conhecer logo o vencedor é que o democrata Biden obtenha um apoio contundente nos Estados-chave que divulgarem primeiro seus resultados. Por exemplo, tanto a Flórida – onde os candidatos estão praticamente empatados – como o Arizona e a Carolina do Norte divulgariam a grande maioria dos votos em questão de horas. Se o democrata tiver uma clara vitória nesses territórios, onde Hillary Clinton perdeu em 2016, será um sinal de seu possível triunfo. Caso Trump consiga uma maioria significativa, a noite ainda não estará definida, mas haveria motivos suficientes para preocupar o democrata. Se a disputa for acirrada demais para declarar um ganhador, é provável que os resultados finais nesses Estados sejam conhecidos dias depois.

Minnesota e Ohio também preveem divulgar os resultados nesta terça-feira. Espera-se que Wisconsin dê o aviso na manhã de quarta; já Michigan e Pensilvânia, no final da semana. Geórgia e Texas devem contar a maioria das cédulas durante a jornada eleitoral, mas o processo pode se estender até o dia seguinte ou quinta-feira.

Esses são os cenários desde que tudo corra segundo o planejado. A jornada pode ser alterada por diferentes fatores: de falhas tecnológicas até um furacão que estenda as horas de votação em algum território. Os funcionários eleitorais planejam publicar os resultados iniciais por volta das 20h de Washington (22h em Brasília) ou ao redor de uma hora após o fechamento das urnas.

O escrutínio oficial costuma ser conhecido no final de novembro, podendo se estender até dezembro. As cédulas enviadas por correio podem tornar o sistema mais lento, já que devem passar por vários passos antes de serem contadas, incluindo a revisão dos funcionários eleitorais para garantir sua validez. Alguns Estados só começam a apurar esses votos no dia da eleição. Apesar da campanha de desprestígio feita por Trump durante meses contra os votos por correio, não há evidências de que levem a uma fraude generalizada. E o fato de que demorem a ser apurados não é um sinal de que exista um problema na votação.

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