Procuradoria antiterrorista investiga ataque com faca perto da antiga sede do ‘Charlie Hebdo’ em Paris

Duas pessoas foram presas em conexão com o ataque, que deixou dois feridos

Bombeiros franceses carregam uma das pessoas feridas.ALAIN JOCARD (AFP)

Pelo menos duas pessoas ficaram feridas nesta sexta-feira em um ataque com faca em Paris, realizado proximidades da antiga sede da revista satírica Charlie Hebdo, vítima há cinco anos de um ato jihadista, cujo julgamento está sendo realizado nesta semana na capital francesa. Duas pessoas foram presas em conexão com o ataque, que está sendo investigado como atentado terrorista.

A procuradoria antiterrorista abriu investigação por “tentativa de homicídio em relação a ato terrorista” e por “associação criminosa terrorista” em torno do atentado que aconteceu por volta das 11h45 da manhã (horário de Paris) no 11º distrito da capital francesa, confirmou o promotor de Paris, Rémy Heitz, em visita ao local.

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O promotor também afirmou que duas pessoas foram presas. Um deles é o “autor principal” do ataque, disse ele sem dar mais detalhes. Segundo a rede BFMTV, trata-se de um homem de 18 anos conhecido da polícia por crimes comuns e por porte de arma, embora não houvesse suspeitas de que pudesse ser radicalizado. Um segundo homem foi preso preventivamente e está sendo investigado por sua ligação com o principal suspeito, disse Heitz.

O primeiro-ministro Jean Castex, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, também estiveram no local dos ataques. “Isso aconteceu em um lugar simbólico em um momento em que está ocorrendo o processo pelos atos indignos no Charlie Hebdo”, disse Castex, que anunciou que os dois feridos ―funcionários de uma agência de notícias e produtora sediada no mesmo prédio onde ficava a antiga redação do Charlie Hebdo―, “não estão mais em perigo, graças a Deus”. “É uma ocasião para o Governo recordar seu compromisso inabalável com a liberdade de imprensa, a sua determinação de lutar por todos os meios contra o terrorismo e de afirmar a nossa plena mobilização”, acrescentou.

Independentemente de saber se o pano de fundo do ataque foi realmente terrorismo, ele causou grande comoção em uma Paris que hoje revive vários de seus dias mais sombrios com o julgamento pelos ataques contra a revista Charlie Hebdo, contra um policial e contra um supermercado judeu nos primeiros dias de 2015. Aliás, as duas vítimas do atentado desta sexta-feira trabalham na produtora Premières Lignes, que já testemunhou o atentado há cinco anos na vizinha sede da revista satírica. “Isso gerou medo e trauma”, disse Elise Lucet, editora-chefe e apresentadora do programa de televisão Cash Investigation, produzido pela produtora na Franceinfo. A jornalista confirmou que os feridos são um homem e uma mulher empregados da produtora.

“Dois colegas fumaram um cigarro em frente ao prédio, na rua. Eu ouvi alguns gritos. Fui até a janela e vi um dos meus colegas manchado de sangue, sendo perseguido por um homem com um facão”, disse um outro funcionário da Premières Lignes à Agence France Presse.

A polícia isolou imediatamente a área, onde milhares de alunos foram trancados por várias horas em escolas vizinhas.

Novas ameaças jihadistas

O ataque acontece no momento em que o julgamento do atentado de janeiro de 2015 ao Charlie Hebdo está sendo realizado no Tribunal de Paris. Nos últimos dias, a revista satírica denunciou novas ameaças jihadistas, especialmente depois de ter republicado as charges de Maomé como resultado do início do processo, no início de setembro.

Membros da revista enviaram mensagem de apoio aos ex-vizinhos e colegas assim que souberam do ataque. “Toda a equipe do Charlie dá seu apoio e solidariedade aos ex-vizinhos e colegas do @PLTVfilms e àqueles afetados por este ataque hediondo”, escreveu em publicação no Twitter.

Nesta quarta-feira uma centena de meios de comunicação publicou uma “carta aberta aos cidadãos”, alegando que a liberdade de expressão é tarefa de todos, em pleno julgamento pelos terríveis atentados que chocaram o país e a comunidade internacional. “Hoje, em 2020, alguns de vocês são ameaçados de morte nas redes sociais quando expressam opiniões únicas. A mídia é abertamente alvo de organizações terroristas internacionais. Os Estados pressionam os jornalistas franceses ‘culpados’ pela publicação de artigos críticos”, explicaram na plataforma Juntos, Defendamos a Liberdade.

Nenhum dos autores materiais dos atentados, os irmãos Chérif e Said Kouachi, que perpetraram a massacre no Charlie Hebdo, e seu cúmplice Amedy Coulibaly, que matou a um policial antes de atacar o supermercado judaico, estão vivos. Os 14 réus no caso Charlie são chamados de “segundas facas”, 13 homens e uma mulher, Hayat Boumeddiene, parceira de Coulibaly, acusados de participar de uma organização terrorista criminosa e por diversos graus de cumplicidade, apoio logístico, financeiro ou material. Estão sujeitos a penas que vão de 10 anos à prisão perpétua. Só 11 dos acusados se sentarão no banco dos réus desta vez, já que Boumeddiene e outros dois processados, Mehdi e Mohammed Belhoucine, fugiram dias antes dos atentados para a região da fronteira entre Síria e Iraque. Suspeita-se que os irmãos Belhoucine morreram. Há cerca de seis meses, outra jihadista retornada à França afirmou ter visto em outubro de 2019 Boumeddiene no campo de Al-Hol, onde vivia sob uma identidade falsa. Seu paradeiro atual continua sendo desconhecido.

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