Procuradoria de Nova York manda acabar com a NRA, a poderosa associação pró-armas nos EUA
Organização é acusada de desvio de recursos e de enriquecimento ilícito de seus líderes
A Procuradoria de Nova York apresentou nesta quinta-feira uma denúncia contra a Associação Nacional do Rifle (NRA na sigla em inglês) pelo desvio milionário de recursos e pediu sua dissolução. A organização tem sido historicamente influente na política dos Estados Unidos desde sua fundação, em 1871, argumentando a favor da posse de armas entre os norte-americanos, um direito reconhecido pela Segunda Emenda da Constituição, e manteve nas últimas décadas um lobby agressivo em Washington para evitar sua proibição.
Letitia James, procuradora-geral de Nova York, explicou que nos últimos três anos os líderes da organização enriqueceram às custas dos recursos fornecidos por seus membros e os acusou de “violar numerosas leis estaduais e federais”. A investigação, iniciada em fevereiro de 2019, estima que os desvios totalizem cerca de 64 milhões de dólares (341 milhões de reais) e cita os quatro principais dirigentes da NRA. “A influência é tão poderosa que a organização não foi controlada durante décadas, enquanto os altos executivos canalizaram milhões de dólares para seus próprios bolsos”, disse James em uma entrevista coletiva.
A denúncia foi apresentada em Nova York porque a NRA está registrada como organização de caridade sem fins lucrativos nesse Estado. A procuradora apontou que as atividades do grupo não coincidem com esse tipo de registro e que durante anos entregou relatórios falsos em suas declarações fiscais. “Impediram que nossa nação tomasse medidas contra a violência armada e abusaram de seu poder sob uma falsa aparência”, acrescentou.
A Procuradoria aponta diretamente o diretor executivo, Wayne LaPierre, por organizar viagens —em pelo menos oito ocasiões— com sua família para as Bahamas em voos particulares e com refeições caras com recursos da organização. LaPierre também teria recebido presentes de alto valor de parte de alguns membros do grupo, como um safari na África e viagens em iate de luxo, de acordo com a investigação. O líder da organização, que a dirige há 30 anos, concedeu um montante de 17 milhões de dólares para sua aposentadoria sem a autorização do Conselho de Administração da NRA. A denúncia também cita os diretores Wilson Woody Phillips, Joshua Powell e John Fraze, responsáveis pelas finanças, por “saquear” a organização e incentivar uma cultura de opacidade nas finanças entre seus membros.
A organização já estava em uma situação financeira precária, como explicaram seus dirigentes em abril, devido aos supostos gastos com questões judiciais que a NRA enfrentou recentemente. A denúncia da Procuradoria indica que os diretores também deram contratos a apaniguados que incluíam cláusulas de privacidade para impedir a divulgação de informações financeiras fora de seu círculo mais próximo. James pediu ao Tribunal que impeça qualquer um dos quatro diretores acusados de encabeçar uma organização sem fins lucrativos em Nova York.
A NRA negou as acusações à Reuters e garantiu que a denúncia da procuradora James é “um ataque premeditado e infundado contra a organização e contra o direito dos norte-americanos de portar armas”.
Próximos do presidente norte-americano, Donald Trump, os quase quatro milhões de membros da NRA representaram um apoio importante ao republicano nas eleições de 2016 e fizeram generosas doações à sua campanha. No entanto, em 2020 mantiveram um perfil baixo durante os primeiros meses da campanha às presidenciais de novembro. A procuradora James se referiu ao grupo como uma “organização terrorista” durante sua campanha para chefiar a Procuradoria em 2018, na qual prometeu investigá-la. “Nenhuma organização acima da lei”, disse nesta quinta-feira ao fazer o anúncio.