Daniel Cohn-Bendit: “A ecologia é a matriz para unir a esquerda hoje”

O ex-deputado ecologista franco-alemão acredita no pragmatismo dos novos prefeitos verdes na França e apoia a guinada ambiental de Macron

Daniel Cohn-Bendit em Paris, em 8 de maio de 2017.JOEL SAGET
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Daniel Cohn-Bendit ―75 anos, líder da revolta estudantil de maio de 1968, ex-eurodeputado pela Alemanha e pela França, pioneiro na política europeia transnacional― está feliz depois da vitória dos ecologistas nas eleições municipais francesas do domingo. Finalmente, o movimento ao qual está associado há décadas, com suas rupturas e reconciliações, chegou ao poder ―o poder real― em algumas das principais cidades da França.

“Será um choque de pragmatismo. Se você observar a história dos Verdes alemães, corresponde ao momento em que chegaram ao poder primeiro nos municípios e depois na gestão dos länder [Estados federados]”, explicou na segunda-feira em uma entrevista ao EL PAÍS e aos correspondentes da rede de jornais europeus LENA. “A evolução pragmática”, acrescentou, “não significa o abandono do corpus ideológico, mas administrar uma cidade, um land, talvez um país, significa administrar uma sociedade cheia de contradições”.

É a política municipal que colocará à prova a capacidade dos ecologistas franceses ―que tiveram ministros no Governo, mas nem primeiros-ministros nem presidentes― e os tornará credíveis para conquistar objetivos mais altos, como aconteceu com os Die Grünen, os ecologistas alemães, entre a chegada ao poder em cidades e Estados federados a partir dos anos oitenta até o Governo Federal no final dos anos noventa. “Se demonstrarem capacidade de gestão ecológica e pragmática nas cidades, será um trampolim”, vaticinou o veterano ecologista franco-alemão. E lançou uma hipótese, “um sonho completamente louco”: que no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, em vez da disputa entre o centrista Emmanuel Macron e a ultradireitista Marine Le Pen, como aconteceu em 2017 e apontam as pesquisas de opinião, os oponentes sejam Macron e um ecologista, o eurodeputado Yannick Jadot, por exemplo, que liderou a lista que ficou em terceiro lugar nas eleições europeias de 2019.

“É preciso entender que não é simplesmente o fato de as grandes cidades agora terem prefeitos verdes, mas que os socialistas que venceram ―em Paris, Rennes e Nantes― o fizeram com um programa muito ecologista. E não é por acaso que o primeiro secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, diz que está disposto a apoiar um ecologista nas eleições presidenciais. A matriz hoje que estrutura a reunificação da esquerda é a ecologia política”. Em quem Cohn Bendit votaria diante de tal hipótese, se em Macron ou em seu amigo Jadot, fica no ar. Porque Cohn-Bendit foi Dany, o Vermelho há meio século, e mais tarde Dany, o Verde, mas de alguns anos para cá também é Dany, o Macronista, conselheiro não oficial do presidente da República, uma espécie de tio simpático e resmungão.

“Eu me dou bem com os dois. Mas primeiro será necessário ver se os ecologistas estão à altura das esperanças e abandonam as pequenas guerras internas para decidir quem será seu candidato nas eleições presidenciais”, disse Cohn-Bendit, que comemorou o discurso que Macron pronunciou na segunda-feira para apresentar a agenda de meio ambiente. “Se parece enormemente com o programa dos ecologistas.”

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