COREIA DO NORTE

Kim Jong-un anuncia fim da moratória de testes nucleares e ameaça desenvolver uma “nova arma estratégica”

Líder norte-coreano diz que, diante da falta de propostas dos EUA, não vê razão em manter a medida adotada em 2018

Kim Jong-un, no Comitê Central do Partido dos Trabalhadores em dezembro, em uma foto distribuída pela agência estatal KCNA.STR (AFP)

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, disse nesta terça-feira que não vê razão para manter a moratória de testes nucleares e de mísseis de longo alcance que Pyongyang adotou em 2018 para favorecer o diálogo com os EUA e advertiu que em breve adquirirá uma “nova arma estratégica”. Em seu discurso de conclusão da quinta reunião plenária do atual Comitê Central do Partido dos Trabalhadores, o mandatário norte-coreano afirmou não ver razão para manter a moratória, dada a falta de propostas por parte de Washington. “Não temos motivos para continuar ligados unilateralmente a este compromisso”, afirmou Kim na quarta e última sessão do encontro, segundo relatos publicados nesta quarta pela agência estatal KCNA, em declarações que representam um forte revés para as complexas negociações sobre a desnuclearização da península coreana.

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No entanto, Kim Jong-un —que neste ano optou por não pronunciar um discurso de Ano Novo, substituído por seu pronunciamento na reunião do partido— não fechou completamente a porta ao diálogo, ao dizer que a Coreia do Norte potencializará sua capacidade nuclear dependendo da “futura atitude dos EUA” em relação ao seu país. Kim afirmou que Washington respondeu à moratória do regime fazendo exercícios militares conjuntos com Seul e impondo novas sanções. “Sob tais condições, já não há fundamento para mantermos este compromisso unilateral [de suspender testes de armas] durante mais tempo”, afirmou ele perante a elite do partido único norte-coreano. “Nunca venderemos nossa dignidade”, acrescentou o dirigente, que também prometeu “uma ação impactante para fazer [os EUA] pagarem o preço da dor sofrida por nosso povo”.

“Os atos hostis e a ameaça nuclear contra nós estão crescendo”, alertou Kim, acrescentando que “o mundo será testemunha de uma nova arma estratégica que estará de posse da República Popular Democrática da Coreia [nome oficial do país] em um futuro próximo”. Essa “nova arma estratégica” provavelmente seria um novo tipo de míssil balístico de alcance intercontinental (ICBM). O regime, aliás, fez recentemente dois testes do que se acredita serem novos motores para os ICBMs.

A Coreia do Norte se autoimpôs em abril de 2018 uma moratória a testes nucleares e lançamentos de ICBMs, num gesto que contribuiu para a realização da primeira cúpula entre Kim e o presidente norte-americano, Donald Trump, em Singapura, em junho de 2018.

Naquela ocasião, ambos se comprometeram a “trabalhar para a desnuclearização da península coreana”, mas Pyongyang salientou durante boa parte de 2019 sua impaciência com a falta de verdadeiros avanços substanciais desde aquela reunião, ocorrida já há um ano e meio. Nos anos anteriores à moratória, a Coreia do Norte realizou seis testes nucleares e lançou mísseis capazes de chegar a todo o território continental dos Estados Unidos.

O regime salientou nos últimos meses que daria um prazo até o final do ano para que a Casa Branca levasse novas propostas à mesa de negociação. Perante esta ameaça, a maioria dos especialistas vinha indicando que a Coreia do Norte poderia retomar em breve seus testes atômicos e de ICBMs, e que Pyongyang talvez intensificasse a pressão sobre Donald Trump à medida que se aproxima a eleição presidencial de novembro nos EUA, quando o republicano disputará a reeleição.

O diálogo sobre o desarmamento não avançou desde a fracassada cúpula de fevereiro em Hanói, onde os EUA consideraram insuficiente a oferta norte-coreana para o desmantelamento de seus ativos nucleares e se negaram a suspender as sanções econômicas.

Trump buscou minimizar as palavras de Kim e salientou a “a boa relação” que diz ter com ele. Em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida, o presidente recordou aos jornalistas que os dois países assinaram um acordo que “falava sobre desnuclearização” e previu que o líder norte-coreano não cumprirá suas ameaças porque é “um homem de palavra”.

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