Surfe estreia na Olimpíada e Brasil entra como potência mundial, com Gabriel Medina e Ítalo Ferreira

Medina é bicampeão mundial e compete com novo técnico e expectativa após imbróglio com o COB envolvendo sua esposa, Yasmin Brunet. Ferreira foi campeão em 2019 e é o segundo no ranking mundial

Os surfistas Italo Ferreira e Gabriel Medina são fotografados juntos após sessão de treino nesta sexta-feira, 23 de julho, na praia de Tsurigasaki, no Japão.Francisco Seco (AP)
São Paulo -

O surfe estreia como modalidade nos Jogos Olímpicos de Tóquio com o Brasil levando para a competição dois campeões no esporte. Um deles é Gabriel Medina, bicampeão mundial. Ele vem fazendo em 2021 sua melhor temporada e lidera com folga o ranking mundial da modalidade. Favorito para a medalha de ouro, tem no seu encalço outro brasileiro, que está logo atrás no ranking. É o também brasileiro Ítalo Ferreira, campeão mundial em 2019. Neste sábado, os dois saíram vitoriosos de suas primeiras competições nos Jogos e avançaram às oitavas de final, confirmando o Brasil como potência da modalidade.

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Medina nasceu em São Sebastião, cidade do litoral norte de São Paulo, em 1993. Prodígio, começou a surfar aos nove anos e conquistou seu primeiro torneio nacional já aos 11. Os caminhos se abriram e levaram o surfista a conquistar a World Surf League (WSL) em 2014, aos 21 anos, tornando-se o primeiro brasileiro a ganhar o principal torneio dessa modalidade esportiva. Nessa época, ganhou a alcunha de “Neymar do surfe”. O bicampeonato mundial veio em 2018. Medina elevou ainda mais o patamar do surfe brasileiro e defendeu que o surfista profissional já não era aquele “vagabundo que passa o dia fumando maconha”. Isso havia mudado. “É uma profissão decente e de esportistas sérios. Vou aos Estados Unidos ou Austrália e vejo moleques de nove anos com a prancha cheia de patrocinadores. Aqui vejo moleques com o mesmo talento e nenhum patrocínio”, declarou.

Fora da água, Medina sempre teve fama de bom moço. Um jovem muito religioso e família, próximo à mãe, Simone, e ao padrasto, Charles Saldanha, também seu treinador por 16 anos de uma trajetória vitoriosa. Hoje, aos 27 anos, Medina está em sua melhor forma e matematicamente já classificado para as finais do Mundial do Surfe em setembro deste ano. Parte desse desempenho é atribuído ao novo treinador, o surfista australiano Andy King.

Das ondas com pedaço de madeira às Olimpíadas

O principal adversário de Medina nos Jogos, Ítalo Ferreira, pegou suas primeiras ondas em um pedaço de madeira quando ainda tinha oito anos. Nascido em 1994 em Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, o lugar de visual deslumbrante foi o cenário do início de sua carreira. “Só que não dava para ficar em pé [no pedaço de madeira]. Aí eu pegava as tampas da caixa de isopor que meu pai usava para vender peixes”, relatou Ferreira, de 27 anos, ao portal UOL antes de viajar a Tóquio.

Com o tempo conseguiu ficar em pé na tampa e viu que levava jeito para o esporte. “Aquilo era minha diversão. Enquanto meu pai trabalhava, eu não tinha o que fazer, não podia ajudar... Ele tinha que vender o peixe, falar com os caras... Para mim era meio que um saco ficar ali olhando só”. Seu pai, o pescador Luisinho, e sua mãe Katiana, que trabalhava numa pousada, viram que o filho levava jeito e começaram a juntar dinheiro para ajudá-lo. Foi com essa economia que Ferreira conseguiu comprar a sua primeira prancha. Depois disso, tudo foi acontecendo muito rápido. A primeira coisa que fez quando começou a ganhar dinheiro com o surfe foi comprar uma casa para a família —que será a sede do Instituto Ítalo Ferreira, uma ONG que dará apoio a crianças de Baía Formosa.

Ferreira tornou-se campeão brasileiro em 2011, aos 17 anos, mas teve algumas lesões como obstáculos em seu caminho. Em 2017, chegou a romper os ligamentos do tornozelo direito e, no ano seguinte, quando ainda se recuperava, terminou em quarto no torneio mundial. A volta por cima veio em 2019, quando finalmente sagrou-se campeão da World Surf League.

Para as páginas de fofocas

Os dois campeões são páreos para trazer medalha ao Brasil. O desempenho de Medina ganhou todas as atenções depois do imbróglio envolvendo sua esposa, Yasmin Brunet, com quem se casou em dezembro do ano passado. Ele queria levar Brunet para os Jogos, mas foi vetado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). As restrições impostas pelos organizadores por conta da pandemia de coronavírus limitaram o staff dos atleta a apenas um acompanhante. A primeira opção era seu técnico. Brunet, a segunda. Medina chegou a declarar que “não estará 100%” sem a esposa ao lado.

O assunto rendeu matéria em páginas de fofocas, incluindo os pitacos da mãe do surfista, Simone Medina. Ao alfinetar sua nora, reclamou que ela havia afastado o seu filho de todo mundo, inclusive do padrasto, que era seu treinador até o ano passado. Também relatou que está dissolvendo a empresa familiar SGM Esportes, que geria a carreira do filho.

A prova dos nove, tanto para Medina como para Ítalo, vai ser vista nesta noite em Tóquio. No dia seguinte, a partir de 23h40, os dois atletas farão mais uma etapa classificatória. Se tudo correr bem para o Brasil, as quartas de final e a semifinal ocorrerão na segunda-feira, 26 de julho. A final está marcada para o dia seguinte.

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