Polícia Federal prende controladora boliviana investigada por tragédia no voo da Chapecoense
Celia Castedo Monasterio estava foragida há cinco anos e residia em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O ministro do Supremo Gilmar Mendes já autorizou a extradição da boliviana
A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira a controladora de voo boliviana Celia Castedo Monasterio, responsável pela análise e aprovação do plano de voo 2933 da companhia aérea LaMia, de 29 de novembro de 2016, que deveria ter levado a delegação da Chapecoense de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, para Medellín, na Colômbia. O avião caiu a 30 quilômetros da pista de aterrissagem, causando a morte de 71 das 77 pessoas a bordo. Monasterio estava refugiada desde 2016 em Corumbá, na fronteira do Mato Grosso do Sul com a Bolívia, e já teve a extradição determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
Foi Mendes que autorizou a PF a prender Celia na cidade localizada a 420 quilômetros da capital Campo Grande. A sentença assinada pelo ministro diz que a controladora é “procurada pela Justiça Boliviana para responder pela suposta prática do crime de atentado contra a segurança do espaço aéreo”. Ela está no Brasil desde 2016, quando se tornou foragida na Bolívia. Na denúncia penal sobre o acidente apresentada pela Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares à Navegação Aérea da Bolívia (Aasana), consta que Celia permitiu a decolagem de um voo cujo plano não apresentava combustível suficiente para enfrentar qualquer imprevisto no trajeto.
A autonomia do avião usado para a viagem, modelo Avro RJ-85, é de cerca de 3.000 km, enquanto a distância do trajeto era de 2.975 km. Num caso com distâncias tão próximas, as normas internacionais de aviação obrigam a realização de uma escala no trajeto, para reabastecimento. Às autoridades colombianas foi apresentado um plano de voo que previa uma parada para reabastecer em Cobija, na Bolívia, algo que não aconteceu. Já para a parte boliviana, representada por Monasterio, foi enviado o plano de voo real, sem previsão de escala e sem combustível suficiente em caso de imprevisto.
Ainda assim, a decolagem foi autorizada pela controladora. O avião não tinha combustível em seus tanques quando se chocou com uma montanha, já nos arredores do seu destino. Ela é investigada por “não cumprimento de deveres” e “atentado contra a segurança dos transportes”, crimes que podem impor de um a quatro anos de prisão.
Segundo a PF, Celia permanecerá detida em Corumbá enquanto aguarda os trâmites legais para a extradição à Bolívia, que ainda não tem data prevista. Nos cinco anos em que morou no Brasil, a boliviana chegou a ter o pedido de refúgio renovado ao alegar “perseguição” do Governo boliviano por suas declarações sobre o acidente. Ao Portal G1, a defesa de Monasterio disse que “está tomando ciência sobre o pedido de extradição para saber qual medida tomar para garantir a permanência dela no Brasil”.
Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$
Clique aquiO acidente
A rota que terminou em tragédia na Colômbia começou em São Paulo. Lá, a Chapecoense disputou um jogo do campeonato brasileiro contra o Palmeiras, em 27 de novembro, um domingo. No dia seguinte, a delegação embarcou às 15h num voo de carreira da companhia boliviana BoA, no aeroporto de Guarulhos, de onde seguiu para Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Ao chegarem, os brasileiros embarcaram no voo fretado da LaMia, decolando às 20h15 (horário de Brasília) de segunda-feira (28 de novembro) do aeroporto internacional de Viru Viru com destino a Medellín, na Colômbia, onde jogariam na quarta-feira (30) a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional.
Como já apontado, o voo 2933 da companhia LaMia partiu com um plano de voo apresentado pelo piloto Miguel Quiroga e aprovado pela controladora Celia Castedo Monasterio, sem a devida quantidade de combustível para a viagem. A regulamentação de trânsito aéreo internacional prevê que um avião deve decolar com combustível acima do necessário para realizar o trajeto, com sobra para alcançar um aeroporto mais próximo e ainda ter condições de manter o voo por ao menos 30 minutos. O relatório final do acidente apresentado pela Aeronáutica Civil da Colômbia esclareceu que a aeronave partiu com 9.300 quilos de combustível, quando deveria ter ao menos 11.603 quilos.
Ao se aproximar do aeroporto internacional José Maria Córdova, em Medellín, o piloto Quiroga ouviu da controladora de voo colombiana que outro avião havia pedido prioridade na aterrissagem. O voo da Chape precisaria retardar o pouso. Apesar de já estar no limite do tanque, conforme apontou o relatório final, a tripulação não contrariou a solicitação e tampouco declarou emergência. A declaração de emergência aconteceu apenas à 1h da madrugada do dia 29 de novembro (horário de Brasília), quando o piloto reportou uma “falha técnica” à controladora a cerca de 50 quilômetros da pista. A autorização para o pouso foi dada 15 minutos depois, no último contato registrado entre aeroporto e aeronave.
Sem combustível, o avião perdeu altitude até se chocar contra o solo numa região montanhosa, de difícil acesso, entre as cidades de Abejorral e Rionegro, a 30 quilômetros do destino final. A forte chuva que caía no local dificultou as buscas por sobreviventes. Das 77 pessoas que estavam a bordo, 71 morreram. Foram 20 profissionais de imprensa, 19 jogadores da Chapecoense, 14 integrantes da comissão técnica, nove dirigentes do clube, sete membros da tripulação e dois convidados. Sobreviveram os atletas Alan Ruschel, Jakson Follmann e Neto, o jornalista Rafael Henzel e os tripulantes bolivianos Ximena Suarez e Erwin Tumiri.
Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.