O terremoto Superliga: os grandes do futebol europeu querem imitar os Lakers

Gestão e poder da liga americana de basquete são vistos como o ideal por sua mistura de competição, negócio e espetáculo, que poderia ser aplicado ao futebol à margem da UEFA

LeBron James durante um jogo das finais de 2020 entre os Lakers e o Miami Heat.Kim Klement (Reuters)
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O novo modelo da Superliga do futebol europeu, anunciada no domingo, enxerga a NBA como panaceia, por se tratar de uma liga que toma suas decisões com absoluta autonomia e estabelece uma competição fechada, na qual admite os times que bem entende, enquanto a Euroliga de basquete, sua versão europeia, é vista como exemplo de que os grandes clubes poderiam organizar sua própria competição também no Velho Continente. No futebol, a iniciativa ainda latente é liderada por 12 grandes clubes europeus e à margem da UEFA.

A Euroliga de basquete nasceu em junho de 2000 após uma cisão de nove grandes clubes do continente (Real Madrid, Barcelona, AEK Atenas, Olympiakos, Benetton Treviso, Zalgiris, Baskonia, Kinder e Fortitudo Bologna). Confrontaram a Federação Internacional de Basquete (FIBA), fundaram a União de Ligas Europeias (ULEB) e criaram a Euroliga, que passou a substituir a antiga Copa da Europa. A separação foi traumática, e na temporada 2000/2001 foram disputadas duas competições paralelas —uma organizada pela FIBA e vencida pelo Maccabi, e a outra organizada pela Euroliga e conquistada pelo Kinder de Bolonha. Em 2004, a FIBA reconheceu a ULEB como organizadora da principal competição continental, a Euroliga.

Esta assinou em 2010 um acordo de patrocínio com a Turkish Airlines no valor de 15 milhões de euros (100 milhões de reais, pelo câmbio atual), que foi sendo sucessivamente renovado. Em 2015, selou outro acordo, com a empresa IMG, por um prazo de 10 anos e um valor de 630 milhões de euros (4,21 bilhões de reais) para a gestão comercial e exploração dos direitos televisivos e de marketing. A competição passou então a ter um novo formato, com 16 equipes. Atualmente, 11 clubes são acionistas e possuem a licença A, que garante sua participação. São eles: Real Madrid, Barcelona, Baskonia, Maccabi, CSKA, Panathinaikos, Olympiakos, Fenerbahçe, Anadolu Efes, Zalgiris e Olimpia de Milão.

O novo formato gerou um conflito que continua latente entre a Euroliga e a FIBA, que além disso criou as janelas ou datas disponíveis no meio da temporada para que as seleções nacionais disputem as eliminatórias dos torneios internacionais. A maioria dos times da Euroliga não cede seus jogadores às seleções para disputar esses jogos no meio da temporada. Atualmente a competição foi ampliada para 18 clubes, e as licenças são distribuídas do seguinte modo: 11 times com licença A, o que significa uma participação assegurada; duas licenças adicionais (dadas neste ano ao Bayern de Munique e ao Villeurbanne), duas licenças para o campeão e o vice da Eurocup, a segunda mais importante competição europeia, também organizada pela Euroliga, e três convites anuais, um deles já concedido por dois anos ao Alba Berlin.

A Superliga de futebol vê a NBA como o modelo, uma liga independente, muito poderosa economicamente e capaz de combinar negócio, espetáculo e competição. Definitivamente, times como Barça, Real Madrid, Manchester City, Juve e PSG se reconhecem cada vez mais no modus operandi dos Lakers, Celtics e Knicks, por exemplo, do que no modelo tradicional do futebol europeu.

Um novo contrato

As diferenças são abissais. A NBA nasceu em 1946 como uma entidade privada, sem ligação com a Federação de Basquete dos Estados Unidos. Dos seus 30 times, 29 são dos EUA, e um (Toronto Raptors) do Canadá. Diferentemente do que ocorre na Europa, apenas uma competição é disputada. A NBA estabeleceu um modelo esportivo que não tem nada ou quase nada a ver com o europeu. Para começar, não existem transferências de jogadores. Implantou-se um limite salarial —algo que a UEFA agora começa a imitar— e um draft, que é um sistema para controlar o acesso de novos jogadores à liga. Esses dois instrumentos permitem à NBA estimular a concorrência e dar mais chances a todos os times, que contratam e transferem à base de permutas envolvendo outros jogadores ou preferências no draft.

O círculo acabou de se fechar quando o esporte mundial, no começo da década de 1990, se deparou com a profissionalização definitiva. E desde 1989, com o famoso pacto impulsionado pelos então presidentes do Comitê Olímpico Internacional (COI), Juan Antonio Samaranch, e FIBA, Boris Stankovic, os jogadores da NBA também disputam torneios internacionais, o que interessava a todos: os próprios jogadores, os patrocinadores, as televisões e o público, como ficou muito claro desde o início com o tremendo impacto causado pelo dream team norte-americano na Olimpíada de Barcelona-1992.

Os donos da NBA, a maioria bilionários, contam com um conselho diretor que confere um poder decisório muito amplo ao comissário da Liga, cargo atualmente ocupado por Adam Silver. A Liga começou com 11 times em 1946 e foi crescendo através de uma sequência de expansões de equipes, reduções e recolocações, até chegar aos 30 times atuais. Os gastos salariais das equipes são muito controlados, e quando um time os supera precisa pagar uma multa. Nesta temporada, o Golden State é a equipe que mais investe em salários para seus jogadores, 170,5 milhões de dólares (945,5 milhões de reais), 2 milhões a mais que o Brooklyn Nets e pouco mais de 30 milhões acima da cifra desembolsada pelos Clippers e os Lakers, quarto e quinto nesse ranking. Só dois times não chegam aos 100 milhões de dólares de investimento salarial, o Oklahoma City (95 milhões) e o New York Knicks (98). Se uma equipe não investir um mínimo do seu faturamento em salários também sofre uma punição econômica.

As equipes da NBA geraram um faturamento total de 7,92 bilhões de dólares (43,9 bilhões de reais) na temporada 2019-2020, com uma média de faturamento de 263 milhões de dólares por franquia. A NBA explora um contrato que lhe assegura 2,6 bilhões de dólares até a temporada 2024-2025. Mas, tendo como referência a Liga de Futebol Americano (NFL), que assinou um acordo de 110 bilhões por 11 anos, a NBA espera firmar um novo contrato de 75 bilhões cobrindo nove temporadas.

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