Colombiano Sergio Díaz-Granados é eleito presidente da CAF, órgão de fomento da América Latina
Candidato do Governo Duque recebeu o voto do diretório do Banco de Desenvolvimento da América Latina, o segundo maior organismo de financiamento na região após o BID. Venezuela se absteve
O Banco de Desenvolvimento da América Latina, a versão ampliada da Corporação Andina de Fomento (CAF), elegeu na segunda-feira como presidente o colombiano Sergio Díaz-Granados, que assumirá o cargo em 1º de setembro por um período de cinco anos, de acordo com um comunicado emitido pelo banco. Díaz Granados, que foi ministro do Comércio de seu país e foi representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pela Colômbia e Peru há seis anos, venceu seu concorrente, o argentino Christian Gonzalo Asinelli, em uma eleição que toca em temas espinhosos na geopolítica da região.
De acordo com o protocolo eleitoral da CAF, as decisões internas devem ser tomadas pelo consenso de todos os países aderentes, ou seja, sem votos contrários. Diante da impossibilidade de reunir os apoios necessários, a Argentina retirou seu candidato. A presidência de Díaz-Granados só recebeu a rejeição da Venezuela, que optou por se abster, como o regulamento permite.
Durante a reunião semipresencial na Cidade do México, também ficou acertada a criação de uma vice-presidência Programática que será ocupada por Asinelli em Buenos Aires. Como parte da negociação, o novo presidente também se comprometeu a levar em consideração “o programa elaborado pela candidatura argentina”, como diz o comunicado da CAF.
A eleição foi realizada um ano antes do previsto porque o presidente anterior do banco, o economista peruano Luis Carranza, renunciou a seu cargo em março, após vários anos de denúncias de assédio trabalhista, abuso de poder e demissões maciças nos diferentes escritórios da organização.
“Estamos satisfeitos com a eleição de nosso candidato como novo presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), a quem desejamos sucesso em sua gestão”, anunciou o presidente colombiano Iván Duque em suas redes sociais. “Grande notícia para o país e a região. Estamos seguros de contar com seu apoio nestes tempos de pandemia”, acrescentou. “Sua vasta experiência e conhecimento são fundamentais para fortalecer a máquina produtiva da região” disse a vice-presidente e chanceler, Marta Lucía Ramírez.
Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$
Clique aquiApesar de ser um bloco comercial e político, os países membros do Mercosul —que inclui o Brasil, Paraguai e Uruguai— não apoiaram o candidato da Argentina, quarto membro do bloco comum sul-americano.
A CAF, com o BID e outros órgãos multilaterais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, se tornaram centrais na recuperação econômica dos países latino-americanos, financiando projetos que impulsionem o desenvolvimento. Fundado há 53 anos como um banco multilateral integrado por países andinos, a CAF foi crescendo até se transformar em um banco regional com sede em Caracas, Venezuela —um dos temas delicados da eleição. Carranza havia sido criticado por trabalhar em Lima e, agora, se espera que Díaz-Granados também trabalhe em outro país. O Governo colombiano é um feroz crítico da Administração de Nicolás Maduro na vizinha Venezuela —a quem não reconhece— e os dois países cortaram relações.
Em 2002 e 2009 Espanha e Portugal, respectivamente, entraram como acionistas, e deram à CAF um perfil ibero-americano. Hoje conta com 19 países acionistas, 14 não andinos, e uma carteira de créditos e investimentos de 28 bilhões de dólares (141 bilhões de reais), que serão fundamentais para impulsionar a recuperação dos sócios após a crise econômica gerada pela pandemia da covid-19.
Advogado da Universidade Externado da Colômbia com estudos de pós-graduação no Instituto Nacional de Administração Pública da Espanha e na Universidade de Salamanca, Sergio Díaz-Granados (Santa Marta, 52 anos) foi ministro do Comércio, Indústria e Turismo do presidente Juan Manuel Santos (2010-2018). Sua gestão foi marcada pelos acordos comerciais da Colômbia com os Estados Unidos, Canadá, a União Europeia e alguns países asiáticos, além da tarefa de normalizar as relações comerciais com a Venezuela e Equador, à época muito complicadas.
Antes, durante os dois períodos com Álvaro Uribe na presidência (2002-2010), Díaz-Granados esteve no Congresso, foi vice-ministro de Desenvolvimento Empresarial e presidente da Associação Colombiana de Viagens e Turismo (Anato). Desde 2015, é representante da Colômbia no BID. “Conta, portanto, com uma visão integral do desenvolvimento a partir da diversidade interna de cada país, o funcionamento do Estado, da institucionalidade democrática, da dinâmica empresarial e potencial do trabalho público-privado”, diz a carta de postulação do Governo colombiano, que acaba de conquistar uma vitória em diplomacia econômica.
Bogotá havia indicado em um primeiro momento o à época ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, a quem os protestos causados por sua proposta de reforma tributária derrubaram. No mês passado, a Colômbia mudou seu candidato. Apesar de ser um dos países fundadores, a Colômbia —uma das economias mais estáveis da América Latina— nunca havia presidido a CAF, considerado o segundo maior banco de desenvolvimento regional após o BID. Mas o colombiano Luis Alberto Moreno presidiu o BID durante 15 anos, até sua controversa substituição no ano passado pelo norte-americano Mauricio Claver-Carone, o candidato de Donald Trump que contou com o resoluto apoio do Governo de Duque.
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