Drake, o rei Midas da música contra quem é impossível apostar

O rapper e ator, que já vendeu 170 milhões de discos, colocou três canções no topo da parada de ‘singles’ dos Estados Unidos, algo que ninguém havia conseguido antes

El cantante Drake, en un partido de baloncesto en Toronto, Canadá, en febrero de 2020.Vaughn Ridley (Getty)

O pai de Drake, Dennis Graham, foi baterista por décadas. Dos bons. Tocou com Jerry Lee Lewis, Al Green, Isaac Hayes, Willie Nelson e várias dezenas de outros nomes lendários. Este é um dado importante para entender o quão ambicioso era seu filho, Aubrey Drake Graham, com apenas nove anos de idade. “Ele fez um teste para um programa de TV em Toronto e me disse: ‘Pai, aposto cinco dólares com você que vou fazer mais comerciais do que você, mais músicas do que você.’ Em 2009, tive que lhe pagar”, contou Graham pai.
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O pai de Drake, Dennis Graham, foi baterista por décadas. Dos bons. Tocou com Jerry Lee Lewis, Al Green, Isaac Hayes, Willie Nelson e várias dezenas de outros nomes lendários. Este é um dado importante para entender o quão ambicioso era seu filho, Aubrey Drake Graham, com apenas nove anos de idade. “Ele fez um teste para um programa de TV em Toronto e me disse: ‘Pai, aposto cinco dólares com você que vou fazer mais comerciais do que você, mais músicas do que você.’ Em 2009, tive que lhe pagar”, contou Graham pai.

Em 2009, Drake, com 23 anos, tinha acabado de ser excluído de Degrassi, the next generation, a série adolescente mais famosa do Canadá, onde atuou durante oito anos, até quererem caras novas. Esse foi o início de uma nova carreira. Em 2010 ele estreou como rapper em grande estilo (antes, já havia lançado dois mixtapes), com Thank me later. Onze anos depois, em 2021, aos 34 anos, bateu o recorde absoluto. Apesar do lançamento de seu sexto álbum ter sido adiado por causa de uma lesão no joelho, ele editou um EP (extended play, uma gravação entre o single e o LP) em 5 de março e três de suas novas canções ocupam os três primeiros lugares na parada de singles dos Estados Unidos, algo que ninguém tinha conseguido antes.

É um recorde que deve se somar às suas conquistas ao longo de uma década: 170 milhões de discos vendidos, ser o artista com mais vendas digitais nos Estados Unidos, aquele com o maior número de músicas ao mesmo tempo nas paradas de sucesso e o primeiro a ultrapassar 50 bilhões de visualizações no Spotify. Além disso, levou para casa 275 prêmios, incluindo quatro Grammys, e seu patrimônio líquido é estimado em cerca de 180 milhões de dólares (990 milhões de reais). Resumindo: Drake é um rei Midas. A questão é: por que ele?

Quando em 2011 deu a largada com Take care, seu segundo álbum, a revista New Yorker fez um perfil dele no qual apontava um motivo: “Take care mostra que o hip-hop (e o pop em geral) se encontra em um período de transição em que as limitações formais se dissolveram quase por completo. Seus ritmos e sons característicos podem ser encontrados em todas as partes no pop dos dias de hoje”. Drake tinha acertado em cheio. Havia conseguido o maior crossover de todos os tempos. Ou seja, fazer parte de um estilo, mas alcançando os fãs de todos os outros.

O mais curioso é que o mundo do hip-hop, obcecado por muito tempo em que a credibilidade nascesse de um passado de ruas, crime e violência, acolheu Drake com pouca relutância, apesar de ele não se encaixar em nada. Ele é um judeu canadense com pai negro, criado em um subúrbio afluente de Toronto. A credibilidade lhe foi dada por seu mentor, Lil Wayne, o rapper que recebeu indulto de Trump por um delito de porte de armas. Drake conseguiu fazer o triângulo formado pelo rap, o R&B e o pop convergirem de tal maneira que enredava o público de uma forma nunca vista antes. “Eu me considero a primeira pessoa que consegue fazer rap e cantar ao mesmo tempo”, disse ele uma vez.

Embora Kanye West tenha pavimentado o caminho para ele (foi o primeiro rapper a se gabar de ser um cara educado e fora do padrão), Drake foi muito mais longe. Sua música melancólica (suavezinha, diziam muitos) evitava as metáforas usuais do gênero e era autobiográfica até o onanismo. Drake sempre fala sobre Drake. É um sujeito sensível. Em 2011 ainda era estranho que um rapper cantasse: “Mostrar emoções não significa que eu seja um fracote”.

Nem sempre. Em 2015 ele lançou de surpresa If you are reading this, it’s too late, onde mostrava outra cara. E também triunfou. C. Tangana se lembrou dessa gravação em dezembro. “Até então, Drake era um atorzinho canadense dócil que cantava e conseguiu mudar e fazer rap para todos os negros. Mesmo para as pessoas mais duras de Atlanta, que só falam em crimes. Conseguiu fazer essa passagem. Eu poderia fazer o contrário”, dizia. Sempre se disse que Tangana era o Drake espanhol. Quando em 2016 o madrilenho se dirigiu diretamente a Pablo Iglesias no Twitter para que lhe telefonasse, o político respondeu: “Desculpe, man somos mais do Comum do que do Drake”.

O líder de partido espanhol Podemos se referia a uma dessas linhas divisórias tão abundantes no rap. De um lado, a espiritualidade e o comprometimento do rapper Common. De outro, Drake, que parece viver em um mundo à parte, no qual apenas o luxo e a boa vida importam. O próprio Drake brigou com Common em 2012, mas não por política, por causa de uma mulher. A ex-companheira de Common, a tenista Serena Williams, fazia parte da longa lista de mulheres com quem se relacionou: Rihanna (por quem ele disse ter se apaixonado desde os 22 anos), Jennifer Lopez, Jorja Smith, Bella Hadid, Kylie Jenner... Até Kim Kardashian, embora ela negasse categoricamente. A única sobre quem não há dúvidas é Sophie Brussaux, com quem teve um filho em 2018, Adonis.

Mais cedo do que se espera, o álbum adiado, Certified lover boy, estará à venda. Com certeza vai quebrar um novo recorde. Não é uma boa ideia apostar contra Drake.

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