Pontos-chave do vulcão Cumbre Vieja: por que essa erupção ocorreu na Espanha? Quanto pode durar?
A ilha vulcânica, uma das mais jovens do arquipélago, continua em formação. Desde a erupção do vulcão Teneguía em 1971, ela havia permanecido sem atividade importante até 2017, quando a movimentação sísmica se reativou com diversas séries de terremotos, que se fortaleceram a partir de 11 de setembro
Menos de uma semana se passou desde o início desta crise sísmica, até finalmente chegar ao desfecho com o fenômeno eruptivo na ilha de La Palma, na costa noroeste da África. Como foi lembrado nos últimos dias, o arquipélago das Canárias tem origem vulcânica, e a atividade continua viva sob suas ilhas. Portanto, é natural esperar que seus habitantes vivam uma erupção como a de hoje de forma regular.
Por que era esperada uma erupção?
Em 11 de setembro, teve início uma série de sismos concentrados na zona sudoeste da ilha de La Palma. Os cientistas a vincularam com a possibilidade de que existisse magma empurrando a superfície, o que poderia acabar provocando uma erupção. Esse enxame sísmico, como é chamada esta concentração temporária de pequenos terremotos em uma só área, foi se localizando cada vez mais perto da superfície. Os abalos, antes registrados a 20 quilômetros de profundidade, passaram a ser percebidos a cerca de 100 metros nos dois últimos dias. Com esse comportamento do fenômeno, suspeitava-se que era o magma gerando rupturas em seu caminho rumo ao exterior. Além disso, a ilha havia inchado em até 15 centímetros na manhã de hoje, outro sinal da existência de magma.
Por que ocorreu agora?
Em outubro de 1971, há 50 anos, houve a última erupção em La Palma, com o vulcão Teneguía, que também foi a última erupção terrestre na Espanha. Desde então, a atividade sismo-vulcânica estava tranquila. Até que ocorreu uma reativação em 2017, com vários enxames sísmicos nos anos posteriores, mas não tão enérgicos quanto o desta semana. Toda essa força telúrica, juntamente com a deformação repentina do terreno, anunciava a erupção.
Quantos terremotos precederam a erupção?
Segundo o Instituto Geográfico Nacional (IGN), neste enxame sísmico foi possível registrar quase 7.000 tremores, de pouca magnitude e intensidade, até a manhã deste domingo. O atual fenômeno sísmico foi “muito energético”. Em poucos dias, liberou mais energia que a que provocou a erupção submarina de El Hierro em 2011 ao longo de dois meses, como explica a diretora do IGN nas Canárias, María José Blanco.
Por que aconteceu nessa região?
A ilha de La Palma é muito jovem em termos geológicos, com apenas cerca de dois milhões de anos ― embora tenha começado a se formar sob o mar há quatro milhões de anos. Mas a ilha possui duas partes claramente diferenciadas: a do norte, mais antiga e sólida; e a do sul, mais jovem e ainda em formação. O magma continua ampliando a ilha na parte sul. De fato, todos os vulcões surgidos nos últimos séculos ocorreram nessa zona, como o San Juan, em 1949, e o Teneguía.
Por que não há um único vulcão?
As erupções nas Canárias costumam ser de fissuras, isto é, irrompem como uma fenda com diferentes pontos pelos quais emanam lavas, gases e outros materiais. David Calvo, do Instituto Vulcanológico das Canárias (Involcan), explica que essas erupções ocorrem em grupos. “Contabilizamos oito até agora, mas podem surgir mais nas próximas horas, enquanto outras vão se apagando”, afirma. O normal é que surjam mais bocas eruptivas, geralmente alinhadas. Mas, ao entrarem numa fase madura de erupção, algumas dessas fissuras perderão energia e serão cobertas, concentrando toda a força de emissão da lava num ponto. “Foi o que aconteceu com o Teneguía, que primeiro abriu várias bocas eruptivas e depois se concentrou numa só, que inclusive foi tampando outras”, diz Calvo. Também ocorreu algo parecido na erupção submarina El Hierro, onde as medições e os submarinos puderam mostrar uma fileira com pelo menos três cones por onde emanavam os materiais.
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Clique aquiPor que os cientistas sabiam que a erupção ocorreria nesse ponto?
A comunidade científica conta há anos com diversas estações instaladas no local, de organismos como o IGN, o Instituto Geológico e de Mineração (IGME), universidades canárias e o Involcan. Todos esses meios permitiram localizar perfeitamente o fenômeno, que se concentrou nesse ponto: tanto o enxame como a deformação do terreno. Além disso, nos últimos dias uma equipe com mais cientistas, instrumentos e dispositivos havia se mobilizado. A deformação do terreno, por exemplo, foi calculada graças às estações fixas, mas também graças às observações feitas pelo programa Copernicus, com satélites da União Europeia. Por outro lado, um avião solicitado pelo Governo das Canárias ao Ministério para a Transição Ecológica da Espanha havia se deslocado à região para monitorar a atividade vulcânica. O IGME enviou drones, e um helicóptero do Involcan estudava os tremores.
Quanto pode durar a erupção?
Não é possível saber ao certo. Os antecedentes históricos e a vulcanologia da zona indicam que o fenômeno eruptivo poderia durar vários dias, inclusive semanas, como aconteceu com os recentes vulcões em Tagoro, El Hierro e Teneguía. No entanto, é muito cedo para conhecer a dinâmica dessa erupção, a energia que poderia ser liberada pelas diversas fissuras no terreno e a quantidade de metros cúbicos de magma que pressionam a superfície rumo ao exterior.
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