Ministro da Educação atribui demora para retomada das aulas presenciais a “embates” com sindicatos e professores
Em participação em fórum internacional promovido pela Telefónica, Milton Ribeiro lamenta a demora no retorno das aulas e evita falar sobre questões polêmicas como a Política Nacional de Educação Especial
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que as aulas presenciais demoraram para retornar no Brasil devido a um “embate” do Governo de Jair Bolsonaro (sem partido) com sindicatos e professores. “Estamos em um Governo com uma visão mais liberal, não é tão voltada mais à visão socialista”, afirmou Ribeiro durante um painel do qual participou, que faz parte do fórum Enlighted, promovido pela Fundação Telefónica. “Isso fez com que nós tivéssemos alguns embates com os sindicatos dos professores e profissionais da educação, que exigiam um perfeito encaminhamento até mesmo da vacinação deles próprios antes de tomar as aulas”.
Nesta semana, as aulas presenciais se tornaram obrigatórias em toda as escolas estaduais de São Paulo, que tem a maior rede do país. De acordo com um levantamento feito pelo G1, Bahia, Piauí e Mato Grosso também definiram data para o retorno. E em nove outros estados a volta das aulas presenciais foram autorizadas. Nos outros 12 estados, as aulas seguem em formato híbrido, ou seja, parte presencial e parte virtual.
O Governo Bolsonaro sempre se posicionou contrário às medidas de distanciamento social adotadas pelos estados e municípios durante toda a pandemia. No evento, Ribeiro lembrou que os estados têm autonomia para deliberar as decisões finais e que, por isso, “o Brasil infelizmente tem se colocado como um dos últimos países a retomar as salas abertas apesar dos grandes números da vacinação”. Segundo o Governo, mais de 80% da população já tomou ao menos a primeira dose da vacina.
O ministro também avaliou que o Brasil está saindo de uma “situação difícil” gerada pela pandemia graças ao programa que forneceu alimentos aos alunos durante a suspensão das aulas. “Direcionamos algumas rubricas do nosso orçamento para que os pais dos alunos tivessem acesso à alimentação” durante a pandemia. “Isso foi um sucesso muito grande. E foi a razão pela qual o Brasil está conseguindo agora sair dessa situação difícil”, disse, por videoconferência.
Ribeiro, que também é pastor, é o terceiro ministro a comandar o MEC no Governo Bolsonaro. Sucedeu Abraham Weintraub, que assumiu a pasta no lugar de Ricardo Vélez Rodríguez. Recentemente, Ribeiro esteve envolvido em uma grande polêmica ao declarar que que a criança com deficiência “atrapalha” as demais na sala de aula.
Foi durante o programa Sem Censura, da TV Brasil, realizado no início de agosto. Na ocasião, Ribeiro declarou: “a criança com deficiência é colocada dentro de uma sala de alunos sem deficiência. Ela não aprendia, ela ‘atrapalhava’, entre aspas, essa palavra eu falo com muito cuidado. Ela atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tinha equipe, não tinha conhecimento para dar a ela atenção especial”. Na mesma entrevista, o ministro também declarou que a “universidade deveria, na verdade, ser para poucos”.
A fala do ministro ocorreu na época em que o MEC publicou uma nota em defesa da nova Política Nacional de Educação Especial (PNEE). A medida institui que alunos com deficiência tenham aulas separados dos outros alunos e é alvo de crítica de especialistas e famílias de crianças com deficiência.
Durante a sua breve participação no fórum Enlighted, que reúne 150 especialistas em educação e tecnologia de todo o mundo e ocorre até a quinta-feira, Ribeiro não se manifestou sobre essa questão. Aproveitou para criticar a gestão anterior, algo recorrente nos discursos do Governo Bolsonaro. “Num passado não tão distante [os recursos] foram muito mal administrados.”, disse. “Agora nós respeitamos o dinheiro publico e queremos usar esses recursos de maneira muito seleta e focada”.
Ribeiro também aproveitou a ocasião para falar sobre a importância do investimento no ensino básico. “Outro lema que eu tenho levado muito a sério é que tudo tem um começo, as coisas começam pelo alicerce. A base não são as universidades, são as escolas básicas, é a alfabetização”, afirmou. “Enquanto não houver uma política efetiva de alfabetização, não podemos pensar de maneira tão geral para cursos superiores. O lema é aprender a ler para ler para aprender”.
Levantamento da Folha de S. Paulo, no entanto, mostrou que, em 2020, o MEC registrou seu menor gasto com a educação básica na década. A pasta dispôs de um orçamento de 48,2 bilhões de reais na educação básica no ano passado, valor 10,2% menor que em 2019 e o menor desde 2010. O montante utilizado efetivamente em 2020 foi de 32,5 bilhões de reais.
Fibra ótica
Questionado sobre as medidas tomadas no contexto do enfrentamento da pandemia, Ribeiro contou sobre o programa de instalação de fibra ótica no leito dos rios da região Amazônica. “Não adianta dar um tablet na mão do aluno se ele não tem acesso à internet”, afirmou.
Ainda assim, o ministro defendeu as aulas no formato presencial. “Creio que a educação de uma maneira geral não será mais a mesma”. No entanto, ainda reconheço que a presença do professor e do aluno a aula presencial é insubstituível no meu ponto de vista como educador”, afirmou. “Nada substitui a presença do professor e do aluno em sala de aula”.
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