O que aconteceu para que a Universal decidisse retirar ‘Cats’ da disputa pelo Oscar?
A crítica e o fracasso de bilheteria obrigaram o estúdio a esconder um filme incompreendido por grande parte do público
Tudo o que podia dar errado em Cats ficou ainda pior. Ao contrário de seus protagonistas felinos, o musical dirigido pelo inglês Tom Hooper parece que não terá sete vidas. Terá no máximo uma, e tão pobre que sua própria produtora, a Universal, decidiu escondê-la: Cats foi retirado da disputa pelo Oscar.
Nos primeiros seis dias de exibição, ‘Cats’ arrecadou apenas 13,5 milhões de euros, o que não é muito, considerando que custou 85,71 milhões
O filme foi alvo de uma crítica e um público que, de modo geral, não conseguiram entender nada dessa competição entre gatos de rua para serem os escolhidos e alcançarem a vida eterna felina. Nem sequer Beautiful Ghosts, a única música original (as demais foram escritas por Andrew Lloyd Webber na versão teatral, sendo Memory a canção principal) concorrerá à estatueta dourada, já que não passou na pré-seleção, uma decepção inicial que parecia anunciar que o filme estava condenado ao desastre.
A apresentação do trailer na Comic Con de San Diego (a maior convenção internacional de quadrinhos dos Estados Unidos), no verão boreal passado, revolucionou as redes sociais (e não no sentido positivo). Estes são alguns dos tuítes onde aqueles que assistiram às breves imagens do filme mostravam seu desconcerto: “Não sei como conseguiram, mas vemos os personagens de Cats mais nus do que se estivessem realmente nus, e isso é diabolicamente estranho”; “Acabo de ver o trailer de Cats, e agora como faço para esquecer que o vi?”; “Estou morrendo de rir. Pedi à minha filha de oito anos que visse o trailer para saber sua opinião, e ela saiu correndo quando o primeiro gato apareceu. Literalmente gritou ‘Não!’ e se afastou”; “Todos os gatos de Cats parecem presos na metade de sua transformação de humano a felino”; “Os gatos são diminutos. Nenhum dos trabalhadores deste filme sabia qual o tamanho de um gato?”.
Os efeitos especiais que transformam em felinos Taylor Swift, Judi Dench, Jennifer Hudson, Idris Elba, James Corden e parte do elenco já pressagiavam que o filme se movia perigosamente entre o risível e o repulsivo. Ninguém era capaz de entender, nem na época nem agora, por que há gatas com peitos e outras que não os têm. E por que alguns personagens estão vestidos e outros não. Além disso, os sensuais movimentos de dança desses felinos antropomórficos criam uma estranha sensação de desconforto no espectador. John Anderson, crítico do The Wall Street Journal, descreveu assim o longa-metragem: “Artisticamente, é uma bola de pelo. Não há uma história para contar, a música de Webber é esquecida de imediato e, como um gato que se detém numa porta aberta, ele leva uma eternidade para nos levar aonde quer chegar".
Nos primeiros seis dias de exibição, o filme arrecadou apenas 13,5 milhões de euros (cerca de 61 milhões de reais), o que não é muito, considerando que custou 85,71 milhões de euros (385,7 milhões de reais). As cifras mostram que poucos são os que se animaram a ir às salas de cinema para viver essa experiência “desconfortável”, como definem alguns dos que se atreveram a vê-la.
E isso que a Universal teve o trabalho de refazer parte dos efeitos visuais dias antes da estreia. O estúdio decidiu enviar aos cinemas uma nova versão —em teoria, melhorada— após Hooper, que em 2012 se encarregou do musical Os Miseráveis, ter se enfurnado na sala de montagem e só conseguido sair dali na manhã de 16 de dezembro, algumas horas antes da estreia, prevista para aquela noite em Nova York. “Venho trabalhando há 36 horas seguidas para dar os últimos toques, mas muito feliz por estar aqui com tudo terminado”, disse o realizador. Parece que era o único.
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