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10 momentos biográficos de Joaquin Phoenix tão trágicos como seu papel em ‘Coringa’

A vida do ator é um compêndio de adversidades que começaram assim que ele nasceu e influíram de forma decisiva na sua predileção por personagens torturados e excessivos

Joaquin Phoenix. / Trailer do Coringa.
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A desconcertante imagem do Coringa de Joaquin Phoenix causa uma enxurrada de comentários
O Coringa de Joaquin Phoenix não é nenhuma piada

1. Nascido na pobreza e criado em uma seita sexual

"A razão pela qual é tão bom dando vida a personagens traumatizados é porque ele também foi um”. Assim analisava um produtor de cinema no site Page Six, tentando explicar de onde procedia o talento inato de Joaquin Phoenix para interpretar personagens tão torturados como o recente Coringa. Não lhe falta razão. A vida do intérprete é um compêndio de tragédias de difícil assimilação que começaram assim que ele nasceu, numa família de hippies evangelizadores que viajavam pelos Estados Unidos e América do Sul. Os Phoenix eram parte da seita Filhos de Deus, que sob sua mensagem de revolução espiritual e defesa do amor livre escondia a incitação à prostituição entre os integrantes ou para a captação de novos membros. Quando Joaquin chegou ao mundo, seus pais pediam dinheiro para poder comer, e seus irmãos mais velhos passavam o dia atuando nas ruas de San Juan (Porto Rico), em vez de irem à escola. O culto também tolerou a corrupção de menores e o abuso sexual. River Phoenix, futura estrela da meca do cinema, confessou que tinha perdido a virgindade aos quatro anos. “As seitas poucas vezes se anunciam como tal. Costumam se anunciar como ‘somos gente que pensa como você, somos uma comunidade’, mas, no momento em que meus pais notaram que havia algo além disso, foram embora”, declarou o protagonista de Ela. Outra célebre atriz, Rose McGowan, também cresceu dentro dessa organização, que foi dissolvida em 1978.

2. Os Phoenix, crianças-prodígio

GETTY

A família fugiu de Porto Rico escondida em um navio cargueiro. Quando chegaram a Los Angeles, os pais, John e Arlyn, decidiram não escolarizar seus filhos e em vez disso buscar uma carreira em Hollywood para eles. River e Joaquin começaram a trabalhar como atores com apenas oito anos, assim como suas irmãs Liberty e Summer. John tinha um forte vício em álcool, e o adolescente River Phoenix, que não tardaria a despontar na indústria, foi quem assumiu a manutenção da família. Joaquin, com 13 anos, confessava-se assim frente às câmeras de televisão sobre sua insólita infância: “Às vezes sentimos falta de ter uma infância normal. Quando vamos a um lugar novo conhecemos gente nova, mas depois temos que nos despedir”. Na imagem, com Angela Lansbury.

3. Morte de River

Getty

O irmão mais velho já era um astro indiscutível em Hollywood aos 23 anos. Com filmes como Conta Comigo, Indiana Jones e a Última Cruzada e Garotos de Programa tinha conseguido uma indicação ao Oscar, uma Copa Volpi, forrava os cadernos de hordas de adolescentes e liderava uma nova geração de atores. Sua morte por overdose, na noite de 31 de outubro de 1993 no The Viper Room, um estabelecimento pertencente a Johnny Depp aonde ele tinha ido para tocar ao vivo – sua grande paixão era a música – junto com Flea, dos Rede Hot Chili Peppers, comoveu a sociedade na época. Joaquin, então com 19 anos, foi quem ligou para o serviço de emergência enquanto Rain tentava reanimá-lo sem sucesso. Todos os anos, em 31 de outubro, o Viper Club fecha suas portas em homenagem ao falecido ator.

4. Alcoolismo

Magnolia Pictures

Em 2005, poucas semanas depois de terminar a rodagem de Johnny & June, Phoenix ingressou em um centro de reabilitação. O ator reconheceu que foi durante a filmagem – o filme inclui várias cenas que mostram um Johnny Cash viciado em bebida – que percebeu que dependia do consumo de álcool para ficar bem. “Eu me via como um hedonista, era um ator em Hollywood que queria me divertir por um momento. Mas estava sendo um idiota, indo por aí bebendo, tentando ferrar com as pessoas e entrando em clubes estúpidos”, reconheceu no The New York Times.

5. I'm Still Here

GETTY

O falso documentário perpetrado com Casey Affleck é um marco excêntrico no cinema norte-americano. Com a – frustrada – intenção de mostrar o lado mais sombrio de ser um astro da sétima ar. Phoenix se submeteu a uma deterioração física, mental e de reputação inigualáveis, aparecendo perante a câmara como um autêntico louco cujo verdadeiro sonho era ser rapper. Vimos o ator cheirar droga, fazer – supostamente – sexo com prostitutas e servir como privada humana, numa interpretação que conseguiu, isso é verdade, enganar Hollywood, mas que deixou mais incertezas que certezas sobre a saúde mental de seus responsáveis. Sua divertida entrevista a David Letterman já é um dos grandes momentos da cultura pop.

6. Casey Affleck e as acusações de assédio sexual

Phoenix e o ganhador do Oscar por Manchester à Beira-Mar são amigos desde a adolescência, quando trabalharam juntos em na rodagem de Um Sonho Sem Limites, de Gus Van Sant. Eles dividiram apartamento em Nova York e fizeram tatuagens combinando, e Affleck inclusive virou seu cunhado ao se casar com sua irmã Summer (divorciaram-se em 2017). Juntos perpetraram o documentário I'm Still Here, protagonizaram as maiores festas jamais vistas na meca do cinema – com perdão de Leonardo DiCaprio – e levaram sua camaradagem a extremos delitivos. A produtora e a diretora de fotografia do falso documentário denunciaram Affleck por assédio sexual e agressões verbais durante a filmagem, com Phoenix como suposta testemunha silente dos fatos. Embora o ator e cineasta tenha rejeitado taxativamente as acusações, terminou chegando a um acordo milionário com ambas as mulheres para evitar ir a julgamento. Phoenix afirmou recentemente que há “três ou quatro anos” não fala com quem foi seu amigo mais próximo.

7. Perda de amigos íntimos

Joaquin Phoenix teve que lamentar a morte pelas drogas de dois de seus mais próximos e talentosos amigos e colegas de geração: Heath Ledger e Philip Seymour-Hoffman. Este último, quando Phoenix estava rodando O Mestre, afirmou que havia sentido uma química dificilmente explicável com seu colega de elenco, e ele foi um dos poucos rostos conhecidos no funeral do ator de Capote. A Ledger, com quem agora compartilha para a posteridade o papel do palhaço antagonista, unia-o uma grande amizade desde o início da carreira. Em Coringa se escondem várias homenagens ao saudoso intérprete australiano.

8. Destruição e lesões no set

Quando Paul Thomas Anderson, diretor de O Mestre, foi perguntado se durante a filmagem temeu alguma vez pela integridade física de Joaquin Phoenix, não pôde ser mais contundente: “Sim, muitas vezes”. O porto-riquenho, interpretando um vagabundo que entra para uma organização inspirada na Igreja da Cienciologia, entrou tanto no papel que se lesionou e destruiu vários sets de tão passional que foi sua interpretação. “Acredito que houve várias oportunidades em que podia ter se machucado e se machucou. Mas isso é um pouco o que você quer (como diretor), sempre dentro da razão”, acrescentou Anderson.

9. Maus tratos à equipe técnica e aos figurantes

Annapurna Pictures

Ser um ator de método implica uma série de sacrifícios que beiram a loucura, e que pouquíssimos estão dispostos a assumir na Hollywood atual. Phoenix é um deles. O intérprete não hesitou em perder e ganhar grandes quantidades de peso segundo os papéis, passear com uma espada real a todas as horas em Gladiador, passar meses numa cadeira de rodas para interpretar um paraplégico e trabalhar em um quartel real de Baltimore para dar vida a um bombeiro. Em Coringa, costumava escapar no meio da cena, sem falar nada, se não se sentisse suficientemente convencido, e inclusive foi publicado um vídeo em que insulta o diretor de fotografia do filme por distraí-lo. Durante as cenas gravadas na prisão em Johnny & June, Phoenix exigiu que a equipe técnica tratasse os figurantes como verdadeiros detentos. Impediu que saíssem para comer, beber ou ir ao banheiro durante a filmagem de uma sequência para criar a atmosfera de tensão exigida.

10. Conflitos com colegas de elenco

Os modos extremos de Phoenix nem sempre são bem entendidos por todos os que o cercam. O maior e mais questionável feito de I'm Still Here foi ofuscar a que certamente é um dos melhores filmes do Joaquin Phoenix, Amantes. Imbuído do seu traje autodestrutivo, o intérprete decidiu boicotar toda a promoção do drama coprotagonizado por Gwyneth Paltrow para usá-lo como material do documentário. “Lamento muito se o que fiz afetou de maneira negativa o filme”, desculpou-se o ator depois. Seu atrito com Ridley Scott no set de Gladiador se soma aos recentemente mantidos com Robert de Niro nos set de Coringa. Phoenix estava tão encerrado em seu personagem que assegura que não chegou a estabelecer contato social com o que é “seu ator favorito de todos os tempos”. Conforme acrescentou o diretor Todd Phillips, os dois intérpretes também se enfrentaram na hora de ensaiar ou não os diálogos antes da filmagem. Spoiler: ganhou De Niro.

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