Inauguração da primeira loja física do AliExpress na Europa tem fila de 48 horas
Loja venderá produtos eletrônicos, como celulares, computadores, patinetes elétricos e pequenos eletrodomésticos de marcas famosas e de empresas chinesas
“Mais próxima do que nunca”, dizia o lema na camiseta usada por trinta funcionários da AliExpress, a concorrente chinesa do gigante norte-americano das vendas eletrônicas Amazon.
Foi um dia especial: o de estreia. Andavam de um lado para o outro, como abelhas trabalhadoras em torno de uma colmeia, horas antes da primeira loja física da empresa chinesa na Europa abrir suas portas no shopping Xanadú, em Arroyomolinos (sudoeste de Madri). Davam os últimos retoques enquanto do lado de fora 2.000 pessoas vindas de diferentes pontos da Península esperavam ansiosas que subissem a porta metálica, ao meio-dia em ponto. Os 500 primeiros receberam um prêmio. Alguns dormiram duas noites ao relento para consegui-lo.
O interior do local, de 740 metros quadrados, é um espaço diáfano com estantes organizadas por temas. A loja venderá produtos tecnológicos: celulares, computadores, patinetes elétricos e pequenos eletrodomésticos de marcas reconhecidas e de empresas chinesas que querem conquistar um lugar na Espanha, o terceiro país fora da China em volume de negócio, atrás dos EUA e da Rússia, de acordo com a empresa.
Nesse dia inaugural, os produtos dividiam espaço com balões vermelhos e laranjas, as cores da empresa. Apesar do ambiente festivo algumas tensões ocorreram. Um garoto se queixou ostensivamente que não poderia abandonar a fila para ir ao banheiro porque perderia seu lugar. Precisou ser acalmado por dois agentes de segurança quanto a expectativa crescia. As grades do segundo andar do shopping ficaram pequenas para abrigar tantos curiosos.
Os focos estavam em David Cardero, um madrilenho de 34 anos que usava um adesivo que o apontava como o primeiro da fila. Chegou na sexta-feira às nove horas da manhã. Fez uma lista com regras básicas para que as pessoas que aparecessem pudessem ir algumas horas para casa sem perder sua posição, como afirma. Ele, entretanto, não abandonou a área. Dormiu (pouco) duas noites nas portas do Xanadú, comeu o que lhe trouxeram e sequer tomou banho nas últimas 48 horas, tudo para conseguir seu prêmio. “Eu queria um patinete, mas não me deixam escolher o presente. Irão me dar um celular, mas, principalmente, levo uma grande experiência”, afirma Cardero enquanto espera a abertura.
“Revalorizar Xanadú”
A loucura cresceu em alguns momentos. Um jorro incessante de visitantes se amontoava na entrada do estabelecimento transformando o corredor do shopping em um local intransitável. Todos queriam imortalizar o momento com seus smartphones. Os membros da segurança tiveram que trabalhar muito. “Senhora, essa não é a fila. A fila é criada por ordem de chegada e há centenas de pessoas esperando no local número cinco”, explicou um espigado agente a uma mulher que tentava arrumar um espaço entre a multidão. Víctor Santillana, de Velilla de San Antonio, por fim optou por ir embora. Muita gente. Voltará nos próximos dias. Enquanto isso continuará fazendo seus pedidos pela Internet, mesmo que “demorem a chegar”.
Se a empresa tem uma razão para abrir esse local é justamente para mudar essas percepções negativas dos clientes (a empresa já experimentou uma loja temporária em novembro no El Corte Inglés).
E chegou o momento de erguer a porta metálica. Os visitantes responderam com uma estrondosa ovação, como se fosse uma torcida que comemora o gol de seu time. A prefeita de Arroyomolinos, Ana Millán (PP), reconheceu que a abertura significa uma oportunidade ao município, já que ajudará a gerar emprego e a revalorizar Xanadú. Depois cortou a fita de inauguração. Finalmente a Aliexpress se transformava em um serviço offline, ou seja, uma loja tradicional.
“Os 14 primeiros da fila receberão seu presente”, gritou Aitor Merino, responsável pelo setor de eletrônica. E foi assim que Cardero e os pequenos Diego e Ian receberam seus celulares, Surat seu patinete elétrico e José Daniel López um drone para o qual não tem licença. Depois foram entrando um por um aplaudidos pelos funcionários, que fizeram uma fila e lhes deram as boas-vindas apertando suas mãos.
Nem todos os premiados estavam satisfeitos com seus presentes. Felizardos como o próprio López e Diana Dub, de 20 anos, se queixavam de que tinham pouco valor para uma espera tão longa. Outros, como Marta Pastor, de Getafe, estavam encantados com seu relógio de pulso, mas também por ter feito novos amigos. Os adolescentes Iván e Alejandro receberam uma balança por esperar 24 horas. Brincavam com ela e afirmavam que a venderiam.
“A afluência superou com sobras nossas expectativas”, frisou Eduardo Pisa, diretor de operações da empresa. Em sua opinião, as pessoas vieram porque “querem ver a AliExpress em um mundo físico, ainda que os presentes ajudem a dinamizar”.
A poucos metros, os visitantes faziam uma nova fila para receber um café grátis, a influencer Patrizienta e um séquito de seguidoras tiravam fotos no photocall e começavam a chegar as primeiras compras.
“As inaugurações são um pouco malucas, mas pouco a pouco tudo se normaliza”, afirmou o caixa José Manuel enquanto cobrava fones de ouvido. Ele só foi contratado como apoio à abertura. Depois da inauguração voltará a sua loja de celulares habitual em Castellón. A do shopping Xanadú terá vinte funcionários, ainda que o número final flutuará de acordo com as necessidades do negócio. A AliExpress espera que Madri se transforme em sua porta ao mercado europeu.
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