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Vítimas advertem que a morte de Jeffrey Epstein não põe fim ao caso de exploração sexual

As investigações revelam falhas na vigilância do financista na prisão, e Trump respalda as teorias conspiratórias que questionam o suicídio

Desenho da audiência em 31 de julho de Jeffrey Epstein, acusado de exploração sexual de dezenas de meninas, no tribunal de Nova York.
Desenho da audiência em 31 de julho de Jeffrey Epstein, acusado de exploração sexual de dezenas de meninas, no tribunal de Nova York.JANE ROSENBURG (REUTERS)
Pablo Guimón

A morte no sábado do bilionário Jeffrey Epstein – encontrado inconsciente em sua cela do presídio de alta segurança de Nova York, onde aguardava julgamento por explorar sexualmente de dezenas de meninas –, descrita pela polícia como um suicídio, gerou numerosas incógnitas. Uma delas, sobre o futuro da investigação sobre a rede global de tráfico sexual que o financista supostamente coordenava, começou a ser ventilada pelos advogados de acusação.

Com a morte dee Epstein, que podia pegar até 45 anos de prisão, é encerrado o processo criminal contra ele. Mas isso não significa que serão também encerradas as investigações sobre o caso. Os promotores podem agora se dirigir contra outras pessoas acusadas de vínculos com a rede. Os advogados de algumas das vítimas já anunciaram que continuarão buscando justiça para elas.

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“Existe toda uma rede que permitiu que isso ocorresse, e é hora de que todos os que faziam parte dela respondam perante a Justiça”, disse Kimberly Lerner, uma das advogadas, lembrando que a morte de Epstein “não é o final, mas um novo começo”. Sua cliente, Jennifer Araoz, que acusa o bilionário de tê-la estuprado quando ela tinha 15 anos, deixou claro o seu sentimento após a morte de Epstein. “Deveremos viver com as cicatrizes de suas ações pelo resto de nossas vidas, enquanto ele não enfrentará nunca as consequências dos crimes que cometeu”, afirmou em nota. “Espero que as autoridades prossigam e acusem seus cúmplices e facilitadores, para garantir a reparação das vítimas.”

No dia anterior à morte de Epstein na prisão federal de Manhattan, os juízes divulgaram documentos que mostram novos detalhes sobre o caso. Integram uma denúncia apresentada em 2016 contra uma mulher acusada de aliciar meninas menores de idade para Epstein. A denunciante menciona dois políticos democratas e o príncipe Andrew da Inglaterra.

Novos caminhos da investigação

Os novos rumos da investigação sobre o caso virão, portanto, de forma paralela às duas outras investigações abertas ontem pelo Departamento de Justiça e o FBI sobre as circunstâncias da morte de Epstein. Diversas irregularidades na vigilância do preso, que já havia protagonizado uma tentativa de suicídio durante seu confinamento, em 23 de julho passado, não demoraram a vir à tona. O The New York Times publicou ontem, citando um agente penitenciário, que o protocolo obrigava os guardas a verificar o estado do réu a cada 30 minutos, mas o procedimento não foi cumprido na véspera de sua morte. Também em violação aos procedimentos prisionais, foi-lhe permitido ficar sozinho numa cela duas semanas após a retirada da vigilância especial por risco de suicídio.

As incertezas ao redor da morte de Epstein desataram uma onda de teorias da conspiração que colocam em dúvida que se trate de um suicídio, numa saga repleta de personagens famosos, poderosos e até aristocráticos, que durante anos foi terreno fértil para elucubrações infundadas. A elas somou-se ontem o próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que retransmitiu no Twitter uma mensagem que negava tratar-se de um suicídio e que apontava o ex-presidente democrata Bill Clinton (um dos políticos que tinham uma relação de amizade com Epstein) como possível responsável.

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