A segunda derrota do plano de May abre a porta para adiamento do Brexit
Câmara dos Comuns vota contra o pacto de saída do Reino Unido da UE (391 votos contra, 242 a favor)
O plano de Theresa May para o Brexit sofreu, pela segunda vez, uma estrepitosa derrota no Parlamento britânico. O acordo com a União Europeia foi rejeitado por 391 deputados, contra 242 que respaldaram a primeira-ministra.
Na última hora da segunda-feira, May obteve novas garantias legais por parte da UE. Em um comparecimento conjunto com o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, a primeira-ministra anunciou uma série de medidas — como um “instrumento conjunto” de arbitragem e uma “declaração unilateral do Reino Unido” — que seriam “legalmente vinculantes” e serviriam para acalmar os temores dos deputados resistentes a respaldar seu plano por causa do espinhoso assunto do backstop, a chamada salvaguarda irlandesa. Retirar essa garantia imposta pela UE do Acordo do Brexit era condição imprescindível, como estabeleceu a Câmara dos Comuns, para que o plano de May fosse adiante.
A sensação de vitória do Governo britânico teve vida curta. Na manhã desta terça-feira, o Advogado Geral do Reino Unido, Geoffrey Cox, protagonista fundamental nas negociações dos últimos dias com a UE, publicava sua análise jurídica das concessões alcançadas. Apesar de apoiá-las e elogiar os avanços, Cox lançava um balde de água fria em sua conclusão final: “Os riscos legais não mudaram em nada”. O Governo, argumentava Cox, não obteve a capacidade unilateral do Reino Unido de sair do protocolo do backstop e, só no caso de demonstrar má-fé por parte da UE durante as negociações para uma relação futura, Londres poderia ativar um mecanismo de retirada.
Os eurocéticos assinalaram imediatamente sua vontade de rechaçar novamente o plano do May na jornada desta terça. “Devemos decidir se o risco de o Reino Unido permanecer na UE é real [se o Parlamento afinal pedir uma prorrogação na data de saída na próxima quarta-feira], ou se se trata de uma ameaça fantasma. Acredito que seja este o caso, e que podemos votar com segurança nesta noite contra seu plano”, antecipava, pouco antes de tomar a decisão oficial, o líder dessa tendência, o ultracatólico Jacob Res-Mogg.
Os sócios norte-irlandeses do DUP, que sustentam com seus 10 deputados a maioria parlamentar de May, decidiam seguir o mesmo caminho depois de analisar o texto de Cox. “Queremos um acordo que sirva para todos os territórios do Reino Unido. Apoiaremos um plano que respeite o resultado do referendo e o pertencimento da Irlanda do Norte como parte integral do Reino Unido”, dizia a líder da formação, Arlene Foster, em um comunicado.
A oposição trabalhista também anunciou previamente seu voto contrário. Seu dirigente, Jeremy Corbyn, não mencionou em nenhum momento de sua fala a ideia de um segundo referendo, defendendo em vez disso a possibilidade de negociar um Brexit mais suave. “Acredito que nesta Câmara exista uma maioria favorável a um acordo sensível, crível e negociável como o que propõe o Partido Trabalhista, e espero ansiosamente que o Parlamento recupere o controle desta situação e possamos concluir com sucesso aquilo em que o Governo fracassou estrepitosamente”, disse Corbyn.
Theresa May fez uma última intervenção no plenário em defesa de seu acordo. Afônica, quase sem voz, foi a metáfora de uma primeira-ministra exausta, derrotada, mas convicta de sua estratégia. E fazia um último esforço para deixar os deputados indecisos contra as cordas. “Nesta noite os deputados enfrentam uma decisão muito clara. Ou apoiam o acordo, e o Reino Unido deixa a UE com um bom acordo, ou se arriscam a que haja um Brexit sem acordo, ou a que não haja Brexit algum”, disse May.
Suas ameaças soavam esgotadas aos ouvidos de muitos deputados, apesar de, ao longo do dia, alguns dos que votaram contra o plano em meados de janeiro terem anunciado que desta vez dariam seu respaldo a May. Não serviu de nada essa ajuda de última hora. Derrotado o plano da primeira-ministra, o Parlamento deverá decidir nas próximas 48 horas se impõe ao Governo a obrigação de solicitar à UE uma prorrogação da data de saída, ou se o Reino Unido se resigna a executar um Brexit duro, sem acordo nem período de transição, no próximo dia 29.
A ESTRANHA APARIÇÃO EM CENA DO IRA
Uma voz anônima, dizendo falar em nome do extinto grupo terrorista irlandês IRA, atribuiu-se em um telefonema ao jornal The Irish Times a responsabilidade por três cartas-bomba enviadas na semana passada a dois aeroportos e uma estação de metrô de Londres. Um quarto pacote com explosivos chegou à Universidade de Glasgow, na Escócia, segundo a Scotland Yard. O telefonema alertava sobre um quinto artefato que não foi localizado pela polícia.
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