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O Real Madrid se torna dependente de Vinicius Junior

Time de Solari deixa o Leganés atordoado após melhorar no segundo tempo graças ao brasileiro, autor do golaço da noite antes de ser substituído pelo estreante Brahim

Vinicius Junior celebra o 3 a 0.
Vinicius Junior celebra o 3 a 0.SUSANA VERA (REUTERS)
José Sámano
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O Real Madrid talvez precise resolver o seu presente tornando-se dependente do que deveria ser seu futuro. Sua atribulada trajetória nesta temporada encontrou em Vinicius Junior a melhor boia de salvação à vista. O único ganhador na derrota ante a Real Sociedad no domingo passado foi também o grande vitorioso na surra imposta ao Leganés na Copa do Rei. Vinicius, revoltoso e com um gol de placa, tirou o Real do tédio no segundo tempo, com a torcida aferrada às vindouras emoções que o brasileiro hoje lhe promete, junto com Valverde e Brahim, estreando quando o Real já tinha levantado voo sobre um Leganés que se desinflou depois do intervalo.

Até o brinde oferecido por Vinicius no segundo tempo, um pênalti (ou quase pênalti, ou nada pênalti) foi o único legado do Real num primeiro tempo completamente ordinário da sua parte. Um Real Madrid plano, sem gancho para o pouco público que desfila ultimamente pelo Chamartín, onde há pouco a festejar e muita contrariedade. As pessoas parecem cansadas de uma equipe que lhes parece ter passado do ponto. O foco está em quem vem por aí, jogadores que tiveram suas etapas encurtadas devido à má fase do time-maravilha. É o caso de Vinicius Júnior e sua suposta cartola, e de Brahim e seu presumido feitiço. Isco continua no quarto escuro, e Solari, apesar das baixas, não titubeou em favor de Vinicius e Valverde.

Mas a noite, tão gélida na atmosfera da capital espanhola como no gramado e nas arquibancadas, de saída não circulou pela rota de Vinicus, e sim pela de Odriozola. Inicialmente o Real montou nos ombros de seu fogoso lateral direito e do seu escudeiro Lucas Vázquez. Só por essa via o Real encontrou alguma munição. O Leganés fez a sua parte. Pellegrino decidiu que Gumbau, um meio-campista âncora com bom pé, mas com uma carroceria meio pesadinha, militasse como lateral esquerdo postiço. O homem, sem pernas de velocista, sofreu a cada decolagem de Odriozola.

Sem o VAR

Quase no intervalo, Gumbau interpôs seu corpanzil à corrida de Odriozola. Mais leve, Odriozola, ligeiramente desequilibrado, acentuou o desmaio. O árbitro decretou a condenação para o quadro pepinero. No VAR, como no domingo passado no lance entre Rulli e Vinicius, ninguém interpretou que a sentença arbitral fosse um erro flagrante, apenas sua interpretação pessoal. Sergio Ramos deu uns passinhos e enganou o goleiro Cuéllar.

Antes do duelo Gumbau x Odriozola, o Leganés ocupou o centro do palco. Firme na defesa contra um adversário que era só pele e osso, e picante no ataque. As melhores ocasiões foram visitantes, com o debutante dinamarquês Braithwaite à frente. Primeiro ele quase caçou, no focinho de Keylor, um cruzamento de Gumbau; depois cabeceou sem carne nas mãos do costa-riquenho; e mais tarde se desvencilhou de Nacho e, na cara do goleiro local, disparou cruzado demais. Não acabou aí seu repertório. Sua segunda cabeçada da noite, ao contrário da primeira, teve dinamite. Keylor respondeu como Keylor: maravilhosamente. A passagem pelo banco não diminuiu sua agilidade.

O Leganés ameaçava, e o Real não se conectava, sem expressividade no jogo, sem volume. Nem Valverde – atleta de bom traço e interessante catálogo – nem Ceballos são líderes natos. O Real não encontrava o ritmo, até que veio o pênalti. Então o Leganés capitulou, ficou todo encapotado no segundo ato, por mais que Pellegrino retificasse e desse espaço a Silva em detrimento do superado Gumbau.

Abatido o Leganés, já menos maciço, e com outra marcha o conjunto de Solari, o Real foi outro. Nada deslumbrante, mas com outra pegada. Animou-se Vinicius, um agitador a quem só faltava pontaria. O menino tentou algum arremate curvado, mas sem sucesso. Enquanto esperava chegar o seu momento, cumpriu seu papel de gregário. Foi assim no segundo tento. Bustinza falhou num passe para Cuéllar. Benzema, atento, surrupiou a bola e combinou com Vinicius. Supunha-se que o rapaz estava ansioso por marcar, e estava a um passo da rede e com as portas abertas. Mas Lucas vinha ainda mais perto do bingo, e o brasileiro lhe deu o gol feito. Restava uma bala a Vinicius. E justo antes de ser substituído por Brahim, já com Isco no gramado, ele estampou o gol da noite. Um gol com ares messiânicos para o madridismo, que busca novos trovadores. Num cruzamento de Odriozola, Vinicius arrematou de voleio, um arremate que exigia tanta coordenação como pontaria. O disparo teve de tudo. Um golaço para coroar a semana Vinicius. Nada mereceu mais confetes da torcida que a saída do brasileiro e sua substituição por Brahim. Os madridistas suspiram para que o amanhã seja hoje. Não há sala de espera quando se nota um novo rumo. Com a gripe de alguns dos destinados a liderarem a primeira unidade, se antevê um repentino cruzamento de caminhos. O hoje é dos vinicius. O amanhã, já veremos.

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