Erisvan Soares, o quarto índígena Guajajara assassinado no Maranhão desde novembro

O adolescente de 15 anos foi morto na madrugada desta sexta-feira a facadas em Amarante do Maranhão, juntamente a José Roberto do Nascimento Silva, de 23 anos

Imagem do índio Erisvan Soares Guajajara, de 15 anos.Cimi/Divulgação

O indígena guajajara Erisvan Soares Guajajara, de 15 anos, foi morto na madrugada desta sexta-feira a facadas durante uma festa na cidade de Amarante do Maranhão, localizada a cerca de 680 quilômetros da capital São Luiz. Este é o quarto assassinato de um indígena da etnia no Estado desde novembro.

No dia 7 de dezembro, dois Guajajara foram mortos no município maranhense de Jenipapo dos Vieira. Segundo testemunhas, os tiros partiram de um carro e mataram Raimundo Benício Guajajara, de 38 anos, e Firmino Prexede Guajajara, de 45 anos. No começo de novembro, o líder Paulino Guajajara, de 26 anos, também foi assassinado na Terra Indígena Arariboia, a 100 quilômetros do município Amarante, enquanto caçava.

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De acordo com a Polícia Civil do Maranhão, os corpos de Erisvan Guajajara e de outra vítima, José Roberto do Nascimento Silva, 23 anos, foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) mais próximo, em Imperatriz, para perícia. A suspeita é que as mortes tenham se originado de uma briga entre os dois. A Polícia Civil não trabalha, neste primeiro momento, com a hipótese de que haja ligação entre os crimes anteriores, que estão sendo investigados pela Polícia Federal, com o caso mais recente.

A Polícia Militar declarou à imprensa local que o assassinato ocorreu durante uma festa no bairro Vila Industrial, na quinta-feira, por suposto envolvimento das vítimas com o tráfico de drogas. Segundo a assessoria de comunicação da polícia do Maranhão, as mortes de Erisvan Guajajara e José Roberto Silva serão investigadas localmente porque não tem relação com a “condição índigena”, o que obrigaria que a Polícia Federal assumisse o caso.

Pelo Twitter, a líder indígena Sonia Guajajara lamentou a morte do adolescente. “Todas as pessoas que não gostam de nós estão se sentindo autorizadas a matar porque sabem que a impunidade impera. É hora de dar um BASTA!”, publicou.

De acordo com informações publicadas pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Erisvan Guajajara saiu da Terra Indígena Arariboia há cerca de duas semanas para acompanhar o pai, Luizinho Guajajara, ao município de Amarante, onde comprariam mantimentos e roupas. “A viagem acabou de forma trágica nesta sexta-feira quando o corpo do jovem indígena foi encontrado esquartejado em um campo de futebol localizado em Amarante”, informou a entidade.

Em nota divulgada pelo Cimi, a Fundação Nacional do Índio (Funai) também teria confirmado a versão da polícia de que "estão descartadas todas motivações de crime de ódio, disputa por madeira ou por terras”. O EL PAÍS tentou falar com a Funai, mas até a publicação deste texto, não obteve resposta.

Gilderlan Rodrigues, coordenador do Cimi Regional Maranhão, criticou em texto publicado pela entidade a conduta da polícia e da Funai de tentar antecipar os resultados da investigação. "Há uma sequência de violência afligindo o povo Guajajara e a Funai deveria olhar para isso”, disse.

A escalada de violência contra índigenas no Maranhão fez com que o ministro da Justiça, Sergio Moro, assinasse uma portaria para o envio de agentes da Força Nacional “para garantir a integridade física e moral dos povos indígenas, dos servidores da Funai e dos não índios, na Terra Indígena Cana Brava Guajajara, no estado do Maranhão”. A medida terá duração de 90 dias. O documento, no entanto, exclui a Terra Indígena Arariboia, onde viviam Erisvan e Paulino Guajajara.

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