_
_
_
_

A pequena amiga judia de Adolf Hitler

Imagem leiloada esta semana mostra o ditador alemão abraçando uma menina de origem judaica com quem trocou cartas durante cinco anos

Antonia Laborde
Fotografia cedida na quarta-feira pela casa de leilões de peças históricas Alexander mostrando Adolf Hitler com a menina judia Rosa Bernile Nienau.
Fotografia cedida na quarta-feira pela casa de leilões de peças históricas Alexander mostrando Adolf Hitler com a menina judia Rosa Bernile Nienau.EFE
Mais informações
A mulher que arriscava a vida por Hitler três vezes ao dia
A Valkiria que cavalgava com a SS
A saga de um cientista alemão preso no Brasil durante a Segunda Guerra

“A menina do Führer.” Assim chamavam Rosa Bernile Nienau, uma garota de ascendência judaica que forjou uma insólita amizade com Adolf Hitler. A relação começou na primavera de 1933 na Berghof, a residência que o ditador tinha nos Alpes bávaros, na Alemanha. A menina de seis anos tinha viajado com a mãe de Munique para comemorar o aniversário de Hitler, que pediu para conhecê-la pessoalmente quando soube que haviam nascido no mesmo dia. Durante cinco anos trocaram cartas e posaram para várias fotografias publicitárias, até que a cúpula do líder nazista tomou conhecimento de que ela não era uma “alemã pura” e forçou o fim da amizade. Uma terna imagem em branco e preto de ambos abraçados foi leiloada na terça-feira em Maryland, Estados Unidos, por 11.520 dólares (cerca de 43.600 reais). A foto tem um autógrafo de Hitler: “A querida e apreciada Rosa Nienau e Adolf Hitler, Munique, 16 de junho de 1933”.

Não se sabe como a imagem chegou à casa de leilões Alexander Historical Auctions, nem tampouco a identidade do comprador. O que é certo é que a foto foi feita por Heinrich Hoffmann, fotógrafo pessoal do ditador, e que este a enviou a Karoline, a mãe da menina. Além da assinatura de Hitler em tinta azul, o retrato tem nove flores das neves e um trevo de quatro folhas, detalhes acrescentados pela menina. Rosa Bernile era filha única. Seu pai morreu antes de ela nascer e a mãe, filha de uma judia, era enfermeira. Ter um quarto de sangue semítico era considerado ser judeu na Alemanha nazista. A documentação de que a casa de leilões dispõe revela que Hitler ficou sabendo rapidamente da origem de sua amiga, mas sua fraqueza por ela impediu-lhe de romper o vínculo, “seja por motivos pessoais ou publicitários”.

Hoffmann costumava tirar fotos do ditador acompanhado de crianças para vender a imagem de que era, além de carismático, um líder próximo e carinhoso. Mas a história por trás da foto de propaganda com Rosa Bernile veio à tona anos depois. Os Arquivos Federais Alemães (Bundesarchive) possuem 17 cartas escritas pela menina ao seu “querido tio Hitler” e ao chefe de ajudantes nazistas, Wilhelm Brückner, entre 1935 e 1938. Pode-se deduzir dos escritos que o genocida se encontrou várias vezes com seu “carinho”, como ele a chamava. “Estimado tio Brückner! Hoje eu tenho muito a te dizer. Quando Durante as férias estivemos em Obersalzberg e me deixaram ver o querido tio Hitler duas vezes! Infelizmente, você nunca estava acordado”, diz uma das missivas.

O anômalo vínculo entre o responsável pelo Holocausto e a menina judia se rompeu quando o líder nazista Martin Bormann, secretário particular de Hitler, soube da herança de sangue de Rosa Bernile. Bormann ordenou que fosse proibido o acesso dela e da mãe à casa nos Alpes e exigiram que Hoffmann não voltasse a usar imagens dela nas propagandas. A princípio, o fotógrafo não disse nada ao Führer, mas depois o informou da restrição. James Wilson, especialista na área de Obersalzberg durante o Terceiro Reich, relata em seu livro Hitler's Alpine Headquarters (2014) (O Quartel-general Alpino de Hitler): “Hitler ficou tão enfurecido por terem denunciado sua pequena amiga que lhe disse [a Hoffmann]: ‘Existem pessoas que têm verdadeiro talento para arruinar minha alegria’”.

Apesar da pouca idade, Rosa Bernile não pôde testemunhar o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele morreu vítima de pólio em 5 de outubro de 1943, aos 17 anos, no Hospital Schwabing. As investigações revelam que estudou desenho técnico durante a adolescência. Uma de suas primeiras obras de arte foi feita sobre uma fotografia com seu “querido tio Hitler”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_