_
_
_
_
Eleições 2018
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Bolsonaro não é a solução

O programa político do candidato põe em risco o futuro democrático do Brasil

Manifestação em Brasília contra a candidatura de Bolsonaro.
Manifestação em Brasília contra a candidatura de Bolsonaro.Eraldo Peres (AP)

Neste domingo se realiza no Brasil o segundo turno das eleições presidenciais nas quais o ultradireitista Jair Bolsonaro parte como claro favorito. Com uma vitória retumbante no primeiro turno, com 46% dos votos, Bolsonaro superou em 17 pontos seu principal rival, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, e tudo parece indicar que o maior país da América Latina poderá converter em presidente um candidato que não hesita em mostrar um claro desprezo pelas regras do jogo democrático. Aquele que pode se tornar o trigésimo oitavo presidente do Brasil colocou seus concidadãos diante de uma decisão radical: manter o sistema democrático ou inclinar-se de facto por uma alternativa autoritária. Esta é, na realidade, a característica fundamental da eleição, uma convocação para a qual não cabem posições intermediárias frente ao risco de ter início um retrocesso democrático. A separação de poderes e os direitos e liberdades dos cidadãos são componentes imprescindíveis da democracia e do Estado de Direito, e é paradoxal que o voto possa colocá-los em risco com a opção por um programa político como o apresentado por Bolsonaro.

Mais informações
Bolsonaro, um candidato que cresceu no Facebook e não quer sair de lá
Bolsonaro arrasa nas cidades mais brancas e ricas; Haddad nas mais negras e pobres
“Contradições e bate-cabeça da campanha de Bolsonaro são intencionais”

Ao longo do último mês, esse ex-militar nostálgico da ditadura se dedicou a demonizar perigosamente seus adversários políticos, tachando-os de "criminosos vermelhos", prometendo que "vão ser varridos do país" e os ameaçando com a "prisão e o exílio". Bolsonaro não hesitou em promover um discurso de ódio contra as mulheres e as minorias, que constituem metade da população, reabrindo uma brecha de corte racial em um país com uma das taxas mais elevadas de violência na região, um problema que ele quer combater com mais violência: "Se um ladrão tem uma arma, nós temos que ter um fuzil", disse ele em um de seus discursos de campanha. Tudo isso faz do candidato um perigo real de consequências incalculáveis para a região. A eleição de um candidato que expressa abertamente seu desprezo pelos padrões mínimos de qualidade democrática compromete seriamente o presente e o futuro de uma das economias emergentes mais importantes do planeta e de um país que parecia destinado a desempenhar um papel de protagonista no século XXI .

É compreensível que uma parte do povo brasileiro queira mostrar que está farta da corrupção, e que os cidadãos sintam e expressem legítima ansiedade depois de sofrer uma crise econômica dilacerante que o PT administrou mal, incrementando de novo os índices de desigualdade. Mas Bolsonaro não é a solução. Se a corrupção, a deterioração institucional e uma classe média empobrecida representam os problemas estruturais que o gigante latino-americano atravessa, a concentração de poder nas mãos de um militar autoritário em um país já enfraquecido institucionalmente só ajudaria a precipitar a saída do Brasil dos esquemas democráticos para transformá-lo, provavelmente, em uma ditadura eleitoral. O impulso legítimo de purgar um sistema e punir suas elites extrativistas não pode resultar na escolha de um candidato que põe em causa a própria sobrevivência da democracia.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_