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Trump, sobre seu discurso na ONU: “Eles não riram de mim, riram comigo”

Presidente dá extravagante coletiva de imprensa, que ele mesmo comparou a um show de Elton John

Amanda Mars
Trump, na coletiva de imprensa desta quarta-feira
Trump, na coletiva de imprensa desta quarta-feiraN. KAMM (AFP)

O desfecho da passagem de Donald Trump pela Assembleia Geral das Nações Unidas foi uma coletiva de imprensa com o carimbo especial do magnata e showman, agora presidente dos Estados Unidos. Teve mais de uma hora de duração, frases para ficar na memória, um bom punhado de coices e a confissão final de que, no fundo, o líder da primeira potência mundial vê suas aparições diante da mídia como um show de rock. Citando Elton John, Trump pediu que a última pergunta fosse realmente boa. "Lembra do que o Elton John disse? Quando você toca a última e é boa, não volte."

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Também como as estrelas da música, no dia anterior, Trump apareceu tarde diante da Assembleia da ONU, mas de modo estrondoso. Assim que começou a falar, quando se vangloriou de que seu governo "havia realizado mais coisas em apenas dois anos" do que qualquer outro Governo norte-americano na história, os representantes dos países ali presentes gargalharam. Nesta quarta-feira, 26, na coletiva de imprensa, perguntaram a Trump sobre isso, e ele respondeu: "Eles não riram de mim, eles riram comigo, nos divertimos", disse o presidente. "A mídia mentirosa disse que as pessoas riam, as pessoas estavam se divertindo, estávamos naquilo juntos", acrescentou.

Os ataques já tradicionais à imprensa apareceram na coletiva, mas como um claro divertimento para Trump. Quando deu a palavra a um jornalista do "fracassado" The New York Times, o repórter respondeu que nestes dias o jornal não estava fracassando em absoluto. E Trump se atribuiu o mérito: "Está indo bem. Você deve dizer: 'Obrigado, presidente'”, disse ele, convencido de seu atrativo midiático. "Vocês podem se imaginar sem mim?", disse em outro momento. Chamou um jornalista curdo de "Senhor Curdo". E a certo ponto, confessou: "Eu poderia fazer isso o dia todo".

Na coletiva de imprensa ele também atacou a China, o Irã e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, com quem se recusou a se reunir em Nova York para tentar salvar um acordo tripartite para substituir seu ultrajado Acordo de Livre Comércio da América do Norte, que liga os destinos econômicos dos EUA, México e Canadá desde 1994. Por enquanto – e o tempo ainda está correndo –, há apenas um pacto com seu vizinho do Sul.

O presidente teve que responder a várias perguntas sobre as alegações de abuso sexual que pesam sobre o seu nomeado para a Suprema Corte, o juiz Brett Kavanaugh. Trump reconheceu que o fato de ele mesmo ter sido acusado de abuso o fez enxergar o assunto com outra perspectiva. "Eles me acusaram várias vezes sabendo que era falso", argumentou o republicano. No entanto, ressaltou que, se a mulher que testemunhar perante o Senado nesta quinta-feira a respeito de Kavanaugh for "convincente", poderá retirar o apoio a seu indicado.

Trump quer aguardar esse depoimento para se decidir. É por isso que está considerando cancelar a reunião com o número dois do Departamento de Justiça, Rod Rosenstein, que está na corda bamba depois que vários artigos na imprensa indicaram que ele propôs gravar o presidente para mostrar sua incapacidade e destituí-lo. Trump disse nesta quarta-feira que não planeja demiti-lo, o que seria um escândalo porque Rosenstein é responsável por supervisionar a investigação da trama russa, a cargo do promotor especial Robert S. Mueller. Os rumores sobre a demissão de Rosenstein aumentaram na segunda-feira e Trump convocou-o para uma reunião nesta quinta-feira para esclarecer a situação. Mas o compromisso pode ser cancelado. O espetáculo será amanhã no Senado e Trump parece não querer se contraprogramar.

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