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Colômbia também se envergonha com machismo de seus torcedores

Consulado colombiano lamenta vídeos com práticas de mau gosto e consumo irregular de álcool dentro de estádio

Aficionados colombianos en el Mundial de Rusia.Vídeo: @MartinSantosR
Santiago Torrado

À dor da derrota, somou-se a vergonha. Os colombianos mal tiveram tempo de digerir o golpe do Japão em sua venerada seleção de futebol, com a derrota de 2-1 na esperada estreia na Copa do Mundo, quando vídeos que mostram a vulgaridade de alguns torcedores nos estádios russos começaram a inundar as redes sociais. Em um país muito sensível a sua imagem internacional, que sofreu o estigma do narcotráfico em diversas manifestações, as imagens que acompanharam a derrota surpresa provocaram reflexões alheias ao esporte.

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Da mesma forma que aconteceu no Brasil, onde um vídeo em que torcedores assediam uma mulher viralizou, surgiram numerosas imagens de colombianos que, aproveitando-se da cordialidade dos japoneses e de sua falta de conhecimento do espanhol, induzem-lhes a repetir vulgaridades. Um vídeo em especial gerou indignação. Nele, aparentemente nas imediações do estádio Saransk, um homem com a camiseta da seleção colombiana e óculos escuros é filmado fingindo ensinar seu idioma a dois sorridentes torcedores japoneses. Primeiro, ele pede a eles que repitam o placar do jogo e, em seguida, pede que digam obscenidades.

Esse tipo de comportamento não só "degrada as mulheres, insulta outras culturas, nosso idioma e nosso país. É inaudito maltratar uma mulher aproveitando-se de barreiras linguísticas", disse o Consulado da Colômbia em suas redes sociais. "Convidamos os compatriotas que vestem a camisa tricolor e que representam milhares de colombianos na Copa do Mundo a promover o respeito e o bom trato. Nós rejeitamos maus comportamentos; eles não representam nossa cultura, nossa língua e nossa raça ".

Para piorar o ânimo nacional, outros vídeos e áudios mostram colombianos burlando as normas de segurança nos estádios russos, que proíbem a venda de bebidas alcoólicas, para introduzir conhaque em binóculos.

Na Colômbia, geralmente é tolerado um alto grau de "malícia" mal entendida, mas tem crescido, em anos recentes, a ideia de que a sociedade só avança quando as regras são cumpridas e a ilegalidade combatida. Em vez de celebrar esses atos de "picardia", gerou-se esta terça-feira nas redes sociais uma onda de rejeição com hashtags como #NosHacenQuedarMal (#FicamosMalnaFita). Ao contrário, muitos colombianos compartilharam as imagens dos torcedores nipônicos que ficaram no estádio ajudando a recolher o lixo ao final do jogo, um gesto pelo qual ficaram famosos em vários lugares do mundo. Muitos associam essa ação não apenas com a idiossincrasia, mas também com o elevado nível de desenvolvimento do país asiático. Justiça seja feita, alguns torcedores da Colômbia também ajudaram a limpar o Mordovia Arena. 

No gramado, a Colômbia tornou-se esta terça-feira a primeira seleção sul-americana a perder contra uma asiática em uma Copa do Mundo. Mas suas estatísticas esportivas não foram as únicas desafortunadas na série de confrontos com equipes daquele continente nos últimos meses. A FIFA sancionou o meio-campo Edwin Cardona por esticar os olhos com as mãos em um gesto racista durante um amistoso com a seleção coreana em novembro. Esse episódio pode muito bem ter sido o fator decisivo para fosse excluído na última hora da lista de convocados para a Copa.

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