Revigorado após 7 a 1, ex-técnico da seleção compara Neymar, Messi e Cristiano
Ex-treinador do Brasil e de Portugal analisa situação atual das duas seleções e de seus jogadores
Luiz Felipe Scolari (Passo Fundo, 69 anos) assegura que embora não conhecesse Bilbao, a cidade espanhola cheira a futebol... e a carne. “É solomillo [lombo] que se diz?”, comenta na Torre Iberdrola, enquanto junta os dedos e os aproxima da boca. Felipão está desde julho sem treinar um time, depois de concluir uma bem-sucedida aventura na China, e visita a cidade para participar como um dos expoentes do Bilbao International Football Summit. Gosta de conversar, e tem respostas pra tudo.
Pergunta. Você já trabalhou como treinador no Brasil, Arábia Saudita, Kuwait, Portugal, Inglaterra, Uzbequistão e China. O futebol é um assunto internacional?
Resposta. Em todos os países onde estive observei um gosto semelhante por este esporte, principalmente por parte das torcidas em relação aos clubes e seleções. Conheci todas essas culturas a partir de sua relação com o futebol. No Japão, por exemplo, vive-se com muita educação. Na Inglaterra, foi uma surpresa ver que há muitos torcedores que são apenas de seu time, e não de outro grande. Descobrir todos esses ângulos tem sido algo muito interessante na minha vida.
P. Você é viciado em futebol?
R. Pode-se dizer que sou uma pessoa que vive o futebol com emoção, dedicação e coração. Tudo o que é preciso para trabalhar neste mundo. Tenho 35 anos de carreira como técnico e 15 como jogador, estou metido nisto a vida toda. Trabalho sempre com alegria e tenho a satisfação de fazer isso de alguma forma que possa deixar algum legado para outros.
P. É o que te faz mais feliz?
R. Claro que sim, 99% do que o futebol me deu são alegrias, e só 1% foram situações tristes.
P. Já se esqueceu do 7 x 1?
R. Não! Assim como não esquecemos as vitórias, não esquecemos as derrotas. O que temos de fazer é tirar da derrota um marco para iniciar uma nova situação em nossa vida. Quem nunca fracassou não vai vencer. As pessoas sabem disso. Aquele foi um resultado atípico, diferente, mas me deu uma oportunidade de tentar me superar e de buscar outras formas de alcançar objetivos que não havia tido até o momento. E foi isso que aconteceu, fui à China com minha equipe de trabalho e, com o Guangzhou Evergrande, ganhamos sete títulos dos onze que disputamos.
P. E os jogadores?
R. O jogador de futebol pensa menos nessas coisas do que o técnico. Nós olhamos toda a estrutura, enquanto eles só se concentram em si mesmos.
Quem nunca fracassou não vencerá”, afirma sobre o 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil”
P. Como vê a seleção brasileira para o Mundial?
R. Está muito bem organizada, é uma clara candidata ao título na Rússia e estou feliz vendo a seleção jogar dessa forma.
P. O que acha do trabalho do Tite?
R. Está fazendo um trabalho muito bom. [Os jogadores] estão muito bem organizados, e ele conseguiu reestruturar a equipe de uma forma compacta jogando um futebol muito eficiente.
P. Vocês são velhos conhecidos.
R. Eu o conheci quando eu era professor de educação física, jogador de futebol e técnico do time do meu colégio, e ele era jogador do time rival. Sua equipe jogou duas vezes contra a minha, e jogou muito bem. Depois de passar pelos testes necessários, ele se integrou como treinador do time no qual tinha jogado e também foi muito bem. A história de que eu é que lhe coloquei o apelido não é verdade.
P. Acredita que Neymar chega recuperado ao Mundial?
R. Neymar poderia ter algum problema no início, porque poderia se ressentir da lesão e da falta de ritmo de jogo por não ter disputado tantas partidas. Mas se ele vai é porque está curado e tenho certeza de que será um jogador exponencial para o Brasil.
P. Dizem que ele foi se recuperar no Brasil contra a vontade do PSG.
R. Não é verdade que tenha ido se recuperar no Brasil sem consentimento. Os médicos devem estar em sintonia na hora de preparar um padrão de recuperação e não acredito em nada dessas coisas.
P. Os jogadores vivem muito expostos à opinião pública?
R. Estão mais observados pela tecnologia, mas todos devem saber se comportar diante deste novo universo.
P. Você, que treinou Ronaldo na seleção brasileira (2001-2002), vê algum jogador semelhante atualmente?
R. Ronaldo era um fenômeno, era letal quando jogava dentro da área. Mesmo depois das lesões, conseguiu ser o maior artilheiro de uma Copa do Mundo. Não há jogadores como ele, mas sim parecidos. Cristiano Ronaldo faz dois gols de cada três chances. Gabriel Jesus é outro tipo de jogador, mas vai conseguir coisas desse estilo. Ibrahimovic transmite a mesma sensação de poder que Ronaldo… Agora também há grandes jogadores.
CR é o melhor exemplo para quem quer vencer na vida”
P. É a época de Messi, Cristiano e Neymar.
R. São jogadores diferentes do fenômeno. Messi é genialidade pura, Cristiano é trabalho puro e Neymar é um jogador com alguma mistura dos dois. Ainda assim, suas qualidades são diferentes.
P. Você colocou Cristiano para estrear na seleção portuguesa com 18 anos. Está surpreso com sua evolução?
R. Não. Até o final de sua carreira continuará igual. É dedicação pura, autêntica. Não aceita dar menos de 100%. É o melhor exemplo para quem quer vencer na vida.
P. Você celebrou a vitória de Portugal na Eurocopa?
R. É claro. Sou fã de Portugal, sempre fui bem recebido lá. Minha família vive lá e quando derrotaram a França na final [em Paris] me senti recompensado, porque eu perdi em casa [diante da Grécia em 2004] e Fernando [Santos] conseguiu vencer fora.
P. Como explica que a China só tenha participado da Copa de 2002 em toda sua história?
R. Eles precisam criar um campeonato nacional sub-17, sub-18, sub-19 e sub-20 no qual se formem jogadores em nível nacional. Foram modificadas algumas leis que estão sendo adaptadas ao futebol chinês e acredito que daqui a oito anos a China estará no mesmo nível que o Japão e a Coreia, seus grandes rivais asiáticos. Eles têm tomado boas decisões e a partir de 2018 tenho certeza de que começará um novo marco para o futebol chinês.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.