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‘Pose’, os anos duros e felizes da comunidade transexual

Nova série de Ryan Murphy, ambientada em Nova York nos anos oitenta, tem o maior elenco transexual da história

Indya Moore, Ryan Jamaal Swain e Mj Rodriguez, em um capítulo de 'Pose'.
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Pose, a nova série de Ryan Murphy, que estreou nos EUA e na Europa no dia 3 de junho (ainda não há confirmação da estreia no Brasil) traz à memória títulos dos anos oitenta como Fama e Flashdance. A essência está lá: a dança, o globo de discoteca, a moda, o desejo de voar em uma década prodigiosa... Mas os protagonistas mudam. “Desta vez são os marginalizados que nunca tiveram essa oportunidade, convertidos em novos heróis e heroínas”, descreve Murphy ao EL PAÍS. Sua descrição é insuficiente porque Pose é outra coisa: um hino à comunidade transexual da década de oitenta, que, além de sua aceitação sexual, estava encapsulada em um gueto racial como os negros e os hispânicos e tentava sobreviver à condenação à morte que representavam a AIDS e as drogas. Sua arma era um sistema de casas que adotavam os marginalizados, dando-lhes um lar comunitário. E a contracultura de algumas danças, que além de criarem tendência, tornaram-se a melhor afirmação pessoal.

Era uma cena cultural e social sobre a qual Murphy pensava desde 2006, depois de ter assistido ao documentário Paris Is Burning (Paris Está Ardendo), voltado ao que muitos chamam de idade de ouro da Nova York transexual. “Sempre pensei que devia isso aos membros da nossa comunidade LGBT, porque temos de escrever a nossa própria história. Ninguém vai escrevê-la por nós”, acrescenta o produtor no set da série em Nova York.

Mas teve que passar mais de uma década e Murphy conseguir alguns sucessos na televisão, de Glee a American Crime Story, para que Pose se tornasse realidade. Entre outros problemas, o roteirista e produtor não sabia como contar essa história. Então, em 2014 apareceu o verdadeiro cérebro da série, Steven Canals, outro aspirante a roteirista entre os “100.000” que ofereceram algo a Murphy e que veio com uma história de alguma forma inspirada em sua própria vida como jovem mestiço de ascendência porto-riquenha criado no Bronx dos anos oitenta com uma dieta audiovisual que incluía fama Fama e A Cor Púrpura e protegido pela família do crack e da AIDS até que teve a coragem de afirmar sua sexualidade. “Sabia muito bem o que estava fazendo capturando o espírito de uma comunidade muito definida, seres belos, escuros de pele, em transição e no único momento em que se sentiam seguros de ser quem eram”, resume Canals.

As críticas foram unânimes. A Vanity Fair descreveu Pose como uma série “ousada e necessária”. A Rolling Stone incluiu-a entre o que melhor se pode ver na televisão. E a Entertainment Weekly lembrou que, embora uma de suas chaves seja o fato de o elenco ser composto principalmente por transexuais, algo histórico, “a mensagem de inclusão nunca se mistura com a missão de contar algo próximo que encanta a rainha que existe em todos nós”. Esse comentário encheu Murphy de orgulho. Ele diz que Pose foi a série que lhe custou mais trabalho e emoção pessoal. Além de ser a mais cara. “Mas eu sabia que queria fugir de tudo o que significasse fazer sermão ou mostrar um panorama triste e desolador”, ressalta. No entanto, a série começa quando um de seus personagens principais recebe o diagnóstico de que é portador de HIV. “Se alguma coisa nos une nessa comunidade é saber que até nos momentos mais sombrios encontramos a felicidade”, conclui Murphy.

Uma contratação milionária

De acordo com o contrato assinado em fevereiro com a Netflix, Ryan Murphy vale um pouco mais de 250 milhões de euros (cerca de 1,115 bilhão de reais) em cinco anos. O número, ou o que a plataforma espera em troca, não tiram seu sono. “Tenho 53 anos, 51 segundo o IMDb, o que eu adoro, e aceitei o acordo porque quero fazer algo diferente, documentários, filmes, variedades, tudo no mesmo canal e este é a Netflix”, diz a este jornal. Há mais razões para sair da Fox, com a qual seu contrato atual termina neste mês: “a sensação de que a vida é breve e que quero ajudar em outras áreas”. Há dois anos ele recebeu um prêmio por suas contribuições à luta contra a AIDS. Agora, doará seus honorários relativos à série para a comunidade transexual. Além de alimentar novos talentos procurando novos escritores e estrelas.

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