Presidente do Livres: “Ação política através de partidos se tornou limitada”

Paulo Gontijo fala da ação do grupo que deixou o PSL após chegada de Bolsonaro. Grupo formou conselho com economistas como Persio Arida, Ricardo Paes de Barros e Samuel Pessôa

Participantes do projeto Embaixadores das ZEIS, promovido pelo Livres, posam para foto em Recife, em setembro. O movimento pretende nacionalizar a iniciativa.Reprodução Facebook
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O Livres controlava 12 dos 27 diretórios do Partido Social Liberal (PSL) quando um projeto de dois anos foi abortado, no início deste ano. "Chegou a ser combinada com o Luciano Bivar [presidente do PSL] uma migração de deputados federais para o PSL, fazendo uma bancada de mais de 10. O partido largaria [para a eleição] além da cláusula de barreira [a partir desta eleição, os partidos terão de elegerem ao menos nove deputados para conseguir acesso ao fundo partidário e à propaganda gratuita de TV]. Em seguida, ele [Bivar] fez um acordo com o Bolsonaro", lamenta Paulo Gontijo, presidente do movimento liberal que desistiu de virar partido e endossará a candidatura de pelo menos 43 de seus membros por meio de 11 legendas nas eleições de outubro. Quando o deputado federal Jair Bolsonaro (RJ) trocou o PSC pelo PSL [hoje com oito deputados] para abrigar sua pré-candidatura à presidência, o Livres decidiu mudar de estratégia.

Após a decepção com o sistema partidário, o grupo, que mobiliza mais de 1.000 pessoas interessadas em propagar ideias liberais pelo país, mudou os planos, mas não o foco. "Se tornar um partido político é uma questão que foi restrita pelas novas leis. Demandaria muito tempo, muito dinheiro, e a gente tem visto a limitação da ação política através de partidos. Eles têm muita resistência, uma cultura complicada, e a gente acha que consegue influenciar os partidos estando fora deles", diz Gontijo, que resume a meta da nova associação a três pontos: produção de conteúdo, elaboração de projetos sociais e formação de lideranças.

O Livres apresentou neste mês uma equipe de titãs. Além de já contar com a economista Elena Landau, ex-diretora do BNDES, o movimento montou um conselho acadêmico com Leandro Piquet, Persio Arida — um dos formuladores do Plano Real —, Ricardo Paes de Barros, Samuel Pessôa e Sandra Rios. "São pessoas de reconhecida competência e reputações muito consolidadas. Dão respaldo para o movimento não ficar superficial. São capazes de oferecer aos nossos membros opções de políticas públicas. O Paes de Barros ajudou a botar o Bolsa Família de pé. Ele entende de transferência de renda, já fez isso acontecer", resume Gontijo, que pretende se candidatar pelo PPS a uma vaga de deputado estadual no Rio de Janeiro.

O PPS de Roberto Freire é o segundo partido com mais candidatos do Livres, num total de 8. O também liberal Partido Novo é o principal: contará com 13 candidatos, que também sairão por PMN (6), Rede (3) e PV (2). Solidariedade, PSDB, DEM, Pros e PR terão um candidato do Livres cada um. A maioria pleiteará os postos de deputado federal ou estadual, com presença em todas as regiões do país, e dois concorrerão a governos estaduais, em Rondônia e em Sergipe. "A gente teve de se reinventar. De janeiro para cá, foi um processo de entender que não vamos ficar num partido só. Não vamos fazer movimento em bloco, cada realidade é diferente. Vamos liberar a base e virar um movimento suprapartidário. Com isso a gente tem possibilidade de influenciar pelo menos alguns partidos e gradualmente introduzir ideias e práticas liberais", diz o presidente da associação.

Para Gontijo, "vai haver discordâncias, mas nenhuma pessoa da associação pode ser contra o livre mercado ou a favor de coerção estatal". O grupo também debate a descriminalização de drogas, mas optou por não se posicionar sobre o aborto, porque "a discussão não está madura". Por enquanto, o Livres se financia com contribuições de doadores que preferem não ter o nome exposto. A associação pretende divulgar seus nomes em uma prestação de contas a ser feita em breve, e a meta é se sustentar num futuro próximo com a mensalidade de cerca de 30 reais de seus associados.

O Livres se concentra agora em preparar as lideranças do movimento para as eleições. "Vão ser pessoas muito bem formadas, vão discutir temas em profundidade e em altíssimo nível com especialistas. Vão sair com uma bagagem de preparação boa", garante Gontijo, que chama atenção também para o programa Embaixadores das ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social). O programa de incentivo ao empreendedorismo em regiões de periferia começou no Recife, com uma turma de 109 estudantes, e o Livres pretende nacionalizá-lo. No projeto original, foram incubados 19 projetos e 10% dos alunos foram contratados por empresas locais ou multinacionais. 

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