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Mario Abdo Benítez, um filho da ditadura sobe ao poder no Paraguai

Herdeiro de um dos homens mais poderosos do Governo militar, novo presidente paraguaio segue linhagem stroessnerista

Mario Abdo Benítez na quinta-feira, durante o encerramento da campanha do Partido Colorado em Itaguá, nos arredores de Assunção.
Mario Abdo Benítez na quinta-feira, durante o encerramento da campanha do Partido Colorado em Itaguá, nos arredores de Assunção.Eitan Abramovich (AFP)
Federico Rivas Molina
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Alfredo Stroessner foi amo e senhor do Paraguai durante 35 anos. Resistiu no poder até 1989, quando seus vizinhos de Argentina, Brasil e Uruguai já haviam recuperado a democracia. A força política de Stroessner é devedora do chamado “quarteto de ouro”, um grupo de quatro altos dirigentes liderados por seu secretário particular, Mario Abdo Benítez. Abdo Benítez morreu em 2013, livre de todas as acusações em vários processos por corrupção. No domingo passado (23), seu filho de 46 anos e portador do mesmo nome se tornou presidente do Paraguai com 46,6% dos votos, contra 42,73% de seu concorrente, o liberal Efraín Alegre.

Marito, como o chamam para diferenciá-lo do pai, é um dos poucos “filhos da ditadura” que passaram à política ativa. Ele o fez sob a bandeira do Partido Colorado, a agremiação centenária que Stroessner tomou para si e tornou a principal força política do país. Os colorados dominam tudo há 70 anos e Marito é o homem que manterá viva essa chama.

Dono de uma grande fortuna, herdada do pai e ampliada ainda mais graças a duas construtoras que trabalham com o Estado, Marito reivindicou o stroessnerismo, mas não sua política de terror. Dias atrás, em declarações ao EL PAÍS, pediu que fosse julgado pelo presente e não pelo passado. “Eu tinha 15, 16 anos no final de Stroessner, não fazia política nem militância naquela época. Eu resgato as políticas que geraram um impacto positivo e isso não significa reivindicar a pessoa”, disse Abdo. A ditadura de Stroessner matou mais de 400 pessoas e estima-se que outras 20.000 sofreram prisões e torturas, segundo o relatório da Comissão da Verdade e Justiça publicado em 2008. A Mesa de Memória Histórica estabeleceu que de 448 repressores investigados, apenas oito foram processados pela Justiça.

Na época da queda do regime, Marito Abdo estava estudando nos EUA, onde concluiu o ensino médio e se formou em marketing político. Quando retornou ao país em 1989, alistou-se nas Forças Armadas como paraquedista militar. Só decidiu fazer política em 2005. Foi nomeado vice-presidente do Partido Colorado e em seguida foi eleito senador. De lá, liderou uma linha dissidente e nas eleições primárias do partido derrotou o ex-ministro da Fazenda Santiago Peña, o homem escolhido como candidato pelo presidente pelo presidente Horacio Cartes.

Já em campanha, e precisando do apoio de todo o Partido Colorado, Marito assinou a paz com Cartes, uma decisão que pode afastar os setores que o viam como o homem da renovação. De qualquer forma, suas promessas de campanha não fogem das tradições de uma agremiação conservadora, forjada no forno da direita. Marito disse que manterá inalterado o modelo econômico, que deu ao Paraguai quase uma década de crescimento ininterrupto, e que lutará contra a corrupção endêmica que assola o país.

Também mostrou ser fiel às tradições paraguaias mais conservadoras. “Acredito nos princípios bíblicos, no Gênesis e acredito na família”, disse mais de uma vez, e advertiu que vetará qualquer tentativa de promover o casamento igualitário ou legalizar o aborto.

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