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Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Por que você deveria ver ‘Fariña’, a série que estreia na Netflix

O roteiro, a produção, as atuações, os personagens e a trilha sonora são alguns dos motivos que engrandecem essa ficção baseada em fatos reais

Natalia Marcos
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Faz tempo que a produção espanhola de séries deu um salto de qualidade. O último grande fenômeno da Netflix inclusive tem título espanhol. La Casa de Papel (originalmente do Antena 3) arrasou em todo o mundo, e muitos espectadores espanhóis estão se aproximando dela por curiosidade, pelo efeito boca a boca. “É tão boa mesmo?”, pergunta agora quem na época, talvez levado por preconceitos, não se animou a lhe dar uma chance.

Agora é a vez da série espanhola Fariña, que estreia no Brasil nesta sexta-feira, 3 de agosto, e narra a trajetória de Sito Miñaco, um pescador galelo que se torna um rico traficante de drogas. São dez episódios, cada um deles ambientado em um ano da década de 80. Uma história que deixa os cabelos em pé e uma produção muito cuidada, com grandes atuações, e que está se atrevendo a ir além inclusive do que se esperava. Que fala sem disfarces do que aconteceu.

São vários os motivos pelos quais Fariña é uma das ficções do momento:

- Personagens reais com nomes e sobrenomes

Fariña narra uma história real, que lhe obriga a se perguntar de tempos em tempos se isso realmente aconteceu desse jeito (sim, aconteceu). Uma história com personagens que parecem saídos da ficção, mas não são. Na verdade, alguns estão incomodados com a imagem que foi passada. Vai ver os narcotraficantes se preocupam com a sua imagem... Dizem que as cenas de sexo na série causaram um “dano moral” a Laureano Oubiña, que Manuel Charlín garante que não dava tantos petelecos nos seus filhos... No sexto capítulo começam a aparecer também nomes de políticos, embora sejam mencionados só de passagem em uma conversa. Rajoy, Fraga... Fariña não tem medo de se enlamear contando as coisas como foram.

- Mulheres fortes

Não só o grupo de narcotraficantes brilha na série. As mulheres que os rodeiam não ficam atrás. Charlina, interpretada pela atriz Isabel Naveira, já é por méritos próprios um dos personagens favoritos dos espectadores. Esther Lago, María Rosa Pouso, Camila Reyes... Mulheres que não se amedrontam e que assumem o controle do negócio quando seus maridos/pais/amantes não podem fazê-lo.

- Atores

O sotaque galego domina Fariña, como não podia deixar de ser. Se os personagens estão prendendo os espectadores, não é só porque são muito bem escritos, mas também porque foram muito bem interpretados. Javier Rey defende muito bem o protagonista Sito Miñanco, mas o elenco é tão coral que não aconteceria nada se Miñanco desaparecesse da trama durante um tempo. Carlos Blanco (Oubiña), Antonio Durán Morris (Charlín), Manuel Lourenzo (Terito), Monti Castiñeiras (Colombo) e Tristán Ulloa (Darío Castro) dão brilho à série.

- Trilha sonora com sabor galego

Iván Ferreiro, Os Bárbaros, Heredeiros da Cruz, Os Resentidos, Kokoshca, Korosi Dansas e Sinistro Total acompanham a cada semana as aventuras dos narcotraficantes e policiais da série com uma trilha sonora muito roqueira e muito da Galícia. Grupos e temas – alguns deles – não muito conhecidos para o grande público e que em Fariña estão chamando tanto a atenção que a série montou uma lista do Spotify para ter todas as faixas reunidas.

- Ação sobre a água

Toda a série está muito bem rodada, com um excelente trabalho de direção do Carlos Sedes. E as cenas de perseguições em lancha pelas rías (braços de mar) são um exemplo disso. Embora os reflexos das luzes continuem acentuados demais e cheguem a incomodar um pouco, o resultado com a trilha sonora, a ambientação e o ritmo é nota 10.

- Uma história viciante, que faz você querer sempre mais

Muitas vezes, as séries espanholas se tornam longas demais. Encher 70 minutos obriga a dar voltas sobre o mesmo assunto, a colocar tramas de recheio... E aproveitam nesse tempo para tentar agradar a todo mundo. Isso não ocorre em Fariña. Aqui, os 70 minutos quase parecem curtos. Há tanta história para contar, tantos personagens interessantes e bem construídos, um roteiro tão bem tecido e com tanto ritmo que é impossível se entediar. Fariña não faz concessões. Arrisca-se a repelir certos espectadores, mas porque não lhe interessa chegar a todos. Não conta a história sempre pelo caminho fácil.

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