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Editoriais
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O presente alemão

Grande Coalizão favorecerá o avanço europeu proposto por Macron

Andrea Nahles do SPD, domingo após a divulgação do resultado das bases à Grande Coalizão.
Andrea Nahles do SPD, domingo após a divulgação do resultado das bases à Grande Coalizão.HANNIBAL HANSCHKE (REUTERS)
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A vitória do sim no SPD é, provavelmente, a melhor notícia para a Europa desde a vitória de Emmanuel Macron na França em maio. O inédito bloqueio político sofrido pela Alemanha após o retrocesso dos conservadores nas eleições de setembro terminará com uma Grande Coalizão cujo programa de Governo incorporou medidas importantes à União Europeia; entre elas, sinal verde a uma maior contribuição orçamentária e políticas que reforcem a zona do euro como pedia o presidente francês.

O programa de governo exigiu grandes sacrifícios aos conservadores da CDU e da CSU da Baviera, nas palavras da chanceler Angela Merkel. Entre suas metas se encontram conseguir o pleno emprego e promover o gasto social e o investimento, um anátema pouco tempo atrás em políticas apegadas à austeridade. Mas é reeditado um pacto já rodado em que Merkel mostrou sua capacidade de adaptação aplicando medidas claramente socialdemocratas, incluindo o casamento homossexual, contrário aos seus princípios. Em troca, Merkel obtém a possibilidade de exercer um quarto mandato, de conter a imigração que tantos votos lhe custou e, principalmente, de trazer estabilidade e progresso à Alemanha e à Europa.

É o centenário partido de Willy Brandt, entretanto, que mais se sacrificou para conseguir o acordo. O SPD precisou trair no processo sua própria palavra de não reeditar a Grande Coalizão e de reconstruir-se na oposição, causou uma fratura importante com suas bases mais jovens e subscreveu o acordo apesar de saber que esse pode – quem sabe? – condená-lo à irrelevância no futuro nas urnas, após sofrer em setembro a pior derrota de sua história.

Os interesses da Alemanha (e os da Europa) se impuseram também nas bases do partido como já fez a cúpula do SPD no começo de janeiro após uma longa negociação com Merkel. Um provável calvário espera o partido que será comandado pela atual chefa do grupo parlamentar Andrea Nahles.

Esse sacrifício beneficiará em grande medida, pelo menos em curto prazo, uma Europa que negocia com sucesso a saída do Reino Unido e espera ansiosa por Berlim para avançar em políticas econômicas e monetárias (entre outras), agora que o crescimento se acelerou. É o paradoxo do SPD, um partido que não levanta a cabeça desde as duras reformas de Gerhard Schröder, que perdeu a chancelaria em 2005, e que apesar disso continua dando sua contribuição à Alemanha e à Europa. Somente um país com líderes de alto sentido de Estado, com Merkel à liderança, torna tudo isso possível, em contraposição à visão nacional, de curto prazo e partidarista de outros. É o presente alemão.

O populismo do Alternativa para a Alemanha (AfD) pode se dar por satisfeito. Algumas pesquisas o já o situam até mesmo à frente do SPD e agora, de fato, com essa Grande Coalizão se coloca matematicamente como o principal partido da oposição. É uma vitória de Pirro a qual, entretanto, devemos ficar atentos. O populismo e a xenofobia continuam à espreita.

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