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Repúdio global aos EUA na ONU pelo reconhecimento de Jerusalém

Governo de Washington fica isolado no Conselho de Segurança extraordinário. Países advertem que anúncio viola as resoluções da ONU e pode incendiar o Oriente Médio

Jan Martínez Ahrens
Embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley.
Embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley.BRENDAN MCDERMID (REUTERS)
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Donald Trump está cada dia mais sozinho. Sua explosiva decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e transferir sua embaixada para lá submeteu os Estados Unidos a uma insólita humilhação no Conselho de Segurança da ONU nesta sexta-feira. Nenhum país saiu em defesa de Washington e praticamente todos advertiram que seu anúncio viola as resoluções das Nações Unidas e ameaça incendiar o Oriente Médio. “Qualquer decisão unilateral prejudica os esforços para a paz. E devo dizer que estou preocupado com o risco de uma escalada de violência”, afirmou o representante das Nações Unidas no processo de paz, Nicolai Mladenov, endossando as queixas do resto dos países.

Foi um insólito revés diplomático. Todos deram as costas a Trump. E Washington respondeu sem levantar a voz, evitando intensificar o incêndio que seu próprio presidente provocou. Até a enérgica embaixadora na ONU, Nikki Haley, conhecida por seus ataques furiosos à Coreia do Norte, adotou um tom moderado e enfatizou, assim como Trump na quarta-feira, que a decisão não afeta o estatuto final de Jerusalém e nem as negociações de paz.

“Não é um revés para o processo, meu país mantém seu compromisso em apoiá-lo. Ter a embaixada na capital é apenas uma decisão de senso comum. Os Estados Unidos foi o primeiro país a reconhecer Israel e agora é o primeiro a aceitar sua capital. Admitimos o óbvio”, justificou-se Haley.

Suas palavras reiteraram o desejo da diplomacia norte-americana de reduzir a declaração de reconhecimento da capital a um gesto sem grandes consequências, o que nem sequer significará uma mudança imediata da legação. Uma tentativa vã em uma terra milenar, sagrada para três culturas, onde o anúncio de Trump foi entendido como um símbolo da rejeição a outros símbolos.

“Jerusalém é o coração da Palestina, o terceiro lugar sagrado para os muçulmanos, e o que os senhores fizeram é ilegal e irresponsável, só procuraram agradar o poder ocupante”, disse o observador palestino na ONU.

Nesse clima de rejeição, a minúcia da embaixadora não conseguiu evitar o constrangimento nem mesmo entre seus aliados tradicionais. Todos os participantes, exceto o ucraniano, que se limitou a ler um asséptico comunicado de 30 segundos, foram fiéis às declarações da ONU no conflito. “Jerusalém é um corpo separado cujo estatuto só pode ser resolvido com um acordo internacional. Portanto, a ONU exigiu em uma resolução a retirada de todas as embaixadas de Jerusalém”, detalhou o representante sueco. “O Reino Unido não pretende mudar sua embaixada. Cada passo no conflito deve ser dado com o acordo das partes e visando a criação de dois Estados”, afirmou o embaixador britânico. “Os EUA devem especificar como sua declaração se enquadra nas resoluções da ONU sobre Jerusalém. Estamos realmente preocupados com o risco de um aumento das tensões”, clamou o francês, reiterando um diapasão que ninguém rompeu.

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