O fim do menino que sonhava com a Olimpíada de Matemática
João Vitor, 13, foi enterrado neste sábado em Goiânia, 24 horas após tragédia em colégio. Ele era um dos poucos a conversar com o estudante que se converteria em seu algoz
De todos os possíveis alvos do adolescente que abriu fogo contra os colegas em uma escola de Goiânia, João Vitor Gomes, de 13 anos, parecia o mais improvável. Os relatos dão conta de que o atirador sofria bullying, que lhe chamavam de "fedorento" e que ele não costumava ter muita companhia. João Vitor era uma exceção. "Era um dos poucos que falavam com ele [autor dos disparos]”, contou ao EL PAÍS uma estudante. Mas, na sexta-feira, João Vítor levou um tiro na cabeça vindo da pistola .40 que o estudante roubou da mãe, uma policial militar.
O aluno disparou 11 vezes. Além de João Vitor, morreu João Pedro Calembo, também de 13 anos. Outros quatro pré-adolescentes ainda se tratam dos ferimentos em Goiânia - dois dele estão em estado grave. “Ele pegou a arma, atirou contra o alvo e, sem seguida, disse que perdeu o controle e teve vontade de matar mais pessoas", contou o delegado do caso, Luiz Gonzaga, sem precisar quem seria o alvo.
Colegas de turma, no entanto, afiançam que o alvo do ataque seria João Pedro Calembo. Durante o enterro do menino, às 10h30 deste sábado, o pai Leandro Calembo reagiu dizendo que o filho “não foi pivô de nada”. João Vitor Gomes seria sepultado pouco depois, em outro cemitério da cidade, sob o olhar do pai, Fabiano Moreira Fernandes, que dizia não acreditar ainda que o filho, que sonhava em ser piloto de Fórmula 1, que se preparava com entusiasmo para a Olimpíada Brasileira de Matemática, não voltaria para casa para encontrar seus dois outros irmãos.
Depoimento do atirador
Recolhido em uma cela separada da Delegacia Estadual de Apuração de Atos Infracionais (Depai), o adolescente autor dos disparos foi ouvido na tarde deste sábado pelo promotor de Justiça Cássio Sousa Lima, que recomendou a internação provisória do estudante por 45 dias. O aluno reafirmou a Lima que sofria bullying e queria dar um susto nos amigos.
"Eu tomei a medida de representar pela internação provisória dele por 45 dias até que termine o processo. Essa medida deve ser retocada de certos cuidados em virtude de ser filho de policiais militares para não colocar no meio de elementos perigosos que possam causar algumas represálias", disse o promotor à TV Anhanguera, filiada da Rede Globo em Goiás. "A arma estava bem escondida com chaves, gavetas trancadas, e ele vasculhou a casa até encontrar. Ele encontrou a chave e teve acesso a essa arma", complementou.
Os quatro adolescentes feridos continuam internados. Apenas o quadro clínico da menina Marcela Rocha Macedo, de 13 anos, teve alteração. Ela foi transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO), como informou o último boletim médico. Três estão no HUGO e um no Hospital dos Acidentados, que não divulgou o estado de saúde.
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