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Editoriais
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Pela unidade

A Catalunha plural sai à rua para dar visibilidade a sua recusa ao processo ilegal de independência

Manifestação a favor da Constituição na praça de Colón em Madri neste sábado.
Manifestação a favor da Constituição na praça de Colón em Madri neste sábado.VICTOR SAINZ (EL PAÍS)

Em favor do seny, a sensatez. Com essa ideia, a Societat Civil Catalana (SCC), fundada em abril de 2014 por pessoas próximas ao Cidadãos, Partido Socialista Catalão e Partido Popular, convocou hoje uma manifestação em Barcelona. Não é a primeira vez que essa instituição chama os catalães à rua, mas a convocatória de hoje adquire um peso singular no contexto em que o processo ilegal pela independência da Catalunha se situa nos últimos dias. Neste sábado houve também outras mobilizações significativas da população, como o encontro de Madri em favor da unidade da Espanha e outras convocatórias que chamavam a buscar uma saída urgente para o conflito pela negociação e pela renúncia ao radicalismo. A maioria silenciosa parece começar a falar.

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O setor separatista está há muito tempo demonstrando grande capacidade de incorporar os afins, e não tão afins, em seu afã de romper com a Espanha, e por isso o Governo catalão se serviu da rua para tentar dar alguma legitimidade a um projeto que ficou ferido de morte depois do golpe à legalidade montado pelo separatismo no Parlament, com a aprovação, nos dias 6 e 8 de setembro, das chamadas leis do referendo e da transitoriedade.

A iniciativa ocorre em um momento particularmente delicado. A tensão que o diversificado e mobilizado independentismo conseguiu gerar, orquestrado pela Assembleia Nacional Catalã e pelo Omnium Cultural, e aplaudido pelos radicais da CUP, impôs um ambiente de irritação no qual os que compartilham o projeto independentista se viram empurrados a esse “lugar silencioso”, a essa “terra de ninguém”, à qual aludiu em um artigo recente, publicado neste jornal, a cineasta Isabel Coixet. Dar visibilidade a essa maioria silenciosa, recuperar um clima de diálogo e concórdia, reforçar o projeto de convivência, celebrar a longa história de cumplicidades entre os catalães e o resto dos espanhóis: tudo isso faz parte dessas convocatórias.

Algo se quebrou no dia a dia dos catalães. Aqueles que nas primeiras mobilizações falavam do direito a decidir o faziam em um clima pacífico. Essa atmosfera — rompida já nos últimos tempos, como aconteceu na greve de terça-feira passada, dia 3 — não deveria ter sido utilizada jamais para situar uma parte importante dos cidadãos fora do marco legal do Estatut e da Constituição, chamando-os a votar — sob a infame estratégia de uma legalidade paralela — em um referendo sem garantias democráticas que já tinha sido proibido pelo Tribunal Constitucional.

A desastrosa gestão dos responsáveis políticos pelas forças de ordem pública chamadas por um juiz no domingo passado para impedir que se violasse a lei veio a complicar uma situação explosiva em si. Como acontece em todas as sociedades democráticas avançadas, grande parte dos cidadãos catalães confiava no funcionamento das instituições e davam por certo que os diferentes partidos políticos travariam suas batalhas pelo poder dentro do marco legal.

Utilizou-se a mobilização social para posicionar os cidadãos fora do marco legal

O comportamento desleal dos Mossos d’Esquadra [a polícia catalã]  na hora de obedecer as ordens judiciais para deter os passos determinados pelo roteiro separatista —retiraram as urnas de uma série de colégios eleitorais enquanto olhavam de lado em outros, por exemplo— contribuiu também para aumentar a inquietude devido à deterioração das garantias democráticas na Catalunha.

Somando-se tudo, especialmente nas últimas semanas, entende-se que haja muitos catalães que queiram dar visibilidade a sua rejeição a esse procés que está debilitando gravemente as instituições (que autoridade têm, por exemplo, os Mossos, se eles mesmos violam a lei?) e, sobretudo, a reafirmar que a pluralidade é uma marca inquestionável e uma das maiores riquezas da Catalunha. Diante de uma atmosfera tão tensa, é importante que a mobilização se desenvolva em clima de normalidade. Sem medo, e evitando qualquer gesto que saia do clamor fundamental pela concórdia.

Recentemente, boa parte dos argumentos dos separatistas caíram em estilhaços

Durante os últimos dias, a maioria dos argumentos com os quais o separatismo adornava seu projeto de desconexão —como o de que o processo não representaria qualquer tipo de perda— caíram em estilhaços. As instituições europeias deixaram muito claro que não admitirão uma Catalunha que tenha dinamitado a Constituição de um país membro, enquanto que um grande número de empresas importantes decidiu mudar suas sedes diante da ameaça da declaração de independência.

Uma parte dos catalães está saindo à rua para acabar com outra falácia do independentismo: a de que existe ali um único povo que quer ir embora da Espanha e uma minoria que aceita isso em silêncio e acriticamente. Nada mais longe da realidade. Oxalá esses gestos da população ajudem a reforçar também a unidade dos partidos, o que Rajoy solicita hoje na entrevista ao EL PAÍS, e ao que seria bom que contribuíssem o Governo e a oposição—incluídos partidos catalães— com a fórmula sugerida pelo presidente do Governo ou qualquer outra.

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