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Las Vegas, palco da maior matança a tiros da história dos Estados Unidos

Em um hotel, um único homem disparou várias vezes contra milhares de pessoas que assistiam a um show

Pablo Ximénez de Sandoval
Flores são colocadas perto do local do tiroteiro
Flores são colocadas perto do local do tiroteiroMarcio Jose Sanchez (AP)

Os Estados Unidos acordaram na segunda-feira com o maior massacre a tiros de sua história. Um único suspeito, a partir do 32º andar de um hotel de Las Vegas (Nevada), matou ao menos 59 pessoas e fez mais de 500 feridos antes de se suicidar, cercado pela polícia. Ele atirou com armas automáticas, disparando em uma massa de cerca de 22.000 pessoas que assistiam a um show ao ar livre a poucas centenas de metros de distância.

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Doze horas depois do massacre, os investigadores ainda não tinham ideia das motivações do agressor. O autodenominado Estado Islâmico (EI) assumiu a autoria do ataque, algo que as autoridades receberam com ceticismo.

O autor da matança foi identificado como Stephen Paddock, um homem branco de 64 anos que morava em Mesquite (Nevada), a 130 quilômetros a nordeste de Las Vegas. Paddock se suicidou pouco antes de os agentes entrarem em seu quarto, de acordo com o xerife do condado de Clark, no qual está localizada Las Vegas. Ao menos 30 armas são tidas como sendo de Paddock, entre as encontradas no hotel da cidade e depois, em sua casa. O chefe da polícia de Nevada, Joseph Lombardo, disse acreditar que é um “lobo solitário”. O suposto assassino tinha dez pistolas e várias armas longas no quarto de onde fez os disparos, de acordo com o oficial Kevin McMahill. Paddock, que não tinha antecedentes criminais graves, estava hospedado nesse quarto de hotel desde 28 de setembro.

Não durou muito. Menos de um minuto. No domingo à noite, milhares de pessoas assistiam ao último show de um festival de música country chamado Route 91. Jason Aldean tinha entrado no palco e começava sua apresentação. Às 22h08 (2h08 da madrugada de segunda-feira em Brasília), de acordo com a polícia de Las Vegas, os tiros começaram a ser ouvidos. Vários vídeos compartilhados em redes sociais mostram a banda confusa no palco. Várias testemunhas disseram que pareciam “fogos de artifício”. Então, a música parou. E nos vídeos se pode ouvir claramente: pa, pa, pa, pa, pa. Rajadas automáticas sobre a multidão, a esmo, vindas do alto do cassino Mandalay Bay. As pessoas começaram correr, tomadas pelo pânico.

A dimensão da tragédia ficou evidente desde o início. Primeiro, o Hospital Universitário de Las Vegas informou sobre “vários” feridos a bala que haviam chegado às suas instalações. À meia-noite, havia dois mortos confirmados. Duas horas depois, eram mais de 20. Em seguida, mais de 50 e mais de 400 feridos. O massacre foi tão grande que 12 horas depois dos disparos a polícia continuava a dar números assim, da ordem de dezenas e centenas.

O Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque por meio de um comunicado da agência Amaq, um dos órgãos de propaganda jihadista. “O agressor é um dos nossos soldados, que se converteu ao islamismo há alguns meses”, afirma. “Ainda não se sabe da existência de algum vínculo entre o atirador e qualquer grupo estrangeiro conhecido”, disse um porta-voz do FBI em entrevista coletiva realizada na cidade. Seu nome não está em nenhuma base de dados de suspeitos de terrorismo. O fato de o EI assumir um ataque a tiros não significa necessariamente que o tenha organizado, que tenha participado dos preparativos ou da execução.

As investigações policiais dos atentados realizados na Europa nos últimos anos e assumidos pelo EI confirmaram vínculos operacionais do grupo jihadista com os terroristas em vários casos, inclusive os ataques mais graves, os do Bataclan, com 130 mortos, e os de Bruxelas, com 32 vítimas fatais. Na maioria dos atentados, o EI serviu de inspiração.

A polícia de Las Vegas investigou num primeiro momento um quarto do 32º andar do hotel Mandalay Bay. Em torno da meia-noite (hora local), a conta do Twitter da polícia confirmou que “um suspeito foi abatido” e advertiu: “É uma situação ativa”.

Nesses momentos de tensão e caos, era possível ouvir os agentes no rádio da polícia dando informações sem verificação sobre possíveis ataques a tiros em outros hotéis, como o Tropicana e o New York. A cidade inteira entrou em colapso durante horas, com interrupção do tráfego nas ruas e sob alerta tático até que depois das duas da madrugada a polícia concluiu que o atirador agira sozinho.

Um dos mortos é um agente da polícia de Las Vegas que estava de folga, enquanto colegas dele que estavam trabalhando ficaram feridos. Os agentes pedem “paciência” aos cidadãos porque “o processo de identificação dos feridos e dos mortos levará tempo”. O trecho sul da rua principal de Las Vegas, o chamado Strip, estava fechado na manhã de segunda-feira, criando grandes complicações no trânsito. Além disso, algumas saídas da rodovia 15, que atravessa a cidade de norte a sul, estavam fechadas. A possibilidade de que houvesse mais atiradores fez com que o aeroporto de McCarran, perto do Mandalay Bay, fosse fechado por algumas horas. Era impossível se aproximar do lugar dos acontecimentos. Enquanto isso, centenas de pessoas faziam fila no Hospital Universitário de Las Vegas para doar sangue, em resposta ao apelo das autoridades.

O massacre anterior de proporções semelhantes foi o que aconteceu em junho do ano passado, também por um único assassino com armas de assalto, na discoteca Pulse, em Orlando, Flórida. Morreram 50 pessoas, executadas uma por uma a sangue frio durante horas de assédio. A Pulse era uma boate gay. Esse dado forneceu pistas sobre a motivação do assassino desde o primeiro momento. No caso de Las Vegas, a origem da loucura continua sendo um mistério.

Trump não fala de posse de armas

O presidente dos EUA, Donald Trump, deu suas condolências às vítimas no início da manhã. “Minhas mais calorosas condolências e simpatia às vítimas e às famílias do terrível ataque a tiros de Las Vegas. Que Deus as abençoe!”, escreveu em um tuíte. Políticos dos Estados Unidos e de outras partes do mundo também expressaram suas condolências às vítimas, entre eles o vice-presidente Mike Pence. Trump chamou o acontecimento de “ato de pura maldade” em uma conferência de imprensa. Na quarta-feira ele viajará a Las Vegas, depois de visitar Porto Rico na terça-feira para avaliar os danos provocados pelo furacão Maria na ilha.

Trump não citou a discussão sobre o controle de armas nos EUA. Horas mais tarde, em uma coletiva de imprensa, Sarah Sanders, porta voz da Casa Branca, evitou com essa frase a necessidade de um debate sobre a posse de armas nos EUA: "A única pessoa com sangue nas mãos é o atirador, esse não é o momento de irmos atrás de outros indivíduos ou organizações". Hoje, calcula-se que aproximadamente 33.000 pessoas morram a cada ano nos Estados Unidos por disparos de armas de fogo, o que equivale a cerca de 93 por dia.

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