_
_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Turismo ameaçado

Os atentados podem afetar um setor essencial que deve ser protegido

A praia de La Concha, em San Sebastián.
A praia de La Concha, em San Sebastián.javier hernández

Os atentados terroristas na Catalunha também podem ter consequências econômicas. As mais prováveis são sobre a atratividade de nossos destinos turísticos. Os riscos que até agora desviavam fluxos de visitantes internacionais para a Espanha também podem funcionar em sentido contrário. Uma razão a mais para refletir sobre a viabilidade futura de um setor essencial para a prosperidade de nosso país. Mas também para eliminar esse tipo de turismofobia que recentemente emergiu em algumas instituições, colocando em risco uma importante fonte de riqueza e de emprego.

Mais informações
Turismofobia em Barcelona: grupos radicais agora atacam turistas
Barcelona somos todos
Parar a islamofobia

A Espanha é uma potência turística mundial. Esse setor contribui com mais de 11% para o PIB da economia e com 13% do emprego. Sua boa evolução nos últimos anos foi essencial para a redução do déficit na conta corrente da balança de pagamentos. Nos seis primeiros meses deste ano, foram mais de 36 milhões turistas internacionais na Espanha, 11,6% acima do mesmo período do ano anterior. A se manter essa tendência nos próximos meses, 2017 voltará a registrar um novo recorde de receitas e visitantes, acima dos 75 milhões de turistas internacionais de 2016, pelo quinto ano consecutivo. Driblou-se o principal risco, a queda dos visitantes britânicos, a qual se temia após o Brexit. Foram 8,6 milhões que chegaram, 9% a mais do que no mesmo semestre do ano passado, gastando mais de 7,5 bilhões de euros. Mesmo em menor medida, outros europeus também aumentaram sua preferência pela Espanha.

Mas não é de modo algum um setor isento de ameaças, como acabamos de ver. A deterioração da qualidade da oferta é uma delas, mas também a escassa diversificação a partir desse binômio “sol e praia baratos”, que configura de forma majoritária sua principal vantagem competitiva. Um atributo muito sensível aos preços e, como a experiência demonstrou, à percepção de riscos terroristas e de instabilidade política em destinos alternativos.

Confiar o futuro desse setor à manutenção de preços baixos e à ausência de riscos é um erro, porque o aumento no número de visitantes com gasto médio reduzido é um mau negócio. Esta opção não permite melhorar a qualidade da oferta, congrega visitantes pouco preocupados com outros atrativos oferecidos pelo país, deteriora a infraestrutura e o meio ambiente, e contribui para esse tipo de cansaço dos próprios espanhóis que se revelou em alguns destinos.

Os terríveis atentados terroristas na Catalunha constituem algo mais do que um aviso sobre a vulnerabilidade da bonança desse setor. Essa comunidade autônoma é a principal receptora de turistas estrangeiros: manteve no primeiro semestre a primeira posição no número de chegadas com mais de 8,6 milhões de turistas, 10,3% a mais, e com um gasto total de 8,187 bilhões de euros. Foi exatamente também nessa comunidade, de forma mais explícita em Barcelona, em que se manifestou o fastio de alguns de seus residentes com a afluência excessiva de turistas, com atuações da Administração local distantes do aconselhável.

Essa combinação de exposição ao risco terrorista e excesso de oferta barata deveria obrigar a acelerar as reformas há tempos exigidas por alguns empresários do próprio setor —medidas que além de controlarem a oferta de vagas para os visitantes contribuírem para melhorar a qualidade das mesmas e a diversificação das atrações. A Espanha dispõe de capacidade empresarial e atributos culturais, históricos, gastronômicos, para situar sua oferta em níveis suscetíveis de gerar maiores receitas com menores custos para todos, mas sem provocar aversão aos visitantes.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_