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Mauricio Macri: “Não paro de pensar como estivemos perto de ser a Venezuela”

Governo argentino usa a crise venezuelana para atacar seus rivais kirchneristas na campanha eleitoral

Federico Rivas Molina
O presidente Mauricio Macri em ato de campanha em Santa Fé.
O presidente Mauricio Macri em ato de campanha em Santa Fé.Telam
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Mauricio Macri está em campanha. No dia 13 de agosto há eleições primárias na Argentina, passo prévio às legislativas de 22 de outubro, e o presidente se colocou à frente da campanha de seus candidatos. E a situação na Venezuela serviu para criticar Cristina Fernández de Kirchner, sua grande rival na província de Buenos Aires. Macri disse, durante um comício político, que naquele país "há cada vez mais violência e mais agressão". Depois contou que não pode "parar de pensar" como a Argentina "estava perto de ir por esse caminho". "Tudo teria sido muito difícil, terrível para os argentinos, mas felizmente a maioria decidiu mudar e vencer a resignação em que nos queriam enfiar", disse, em uma referência crítica ao kirchnerismo, que até agora tem mantido silêncio sobre o que acontece em Caracas.

A Argentina está à frente da pressão regional contra a Venezuela. Seu chanceler, Jorge Faurie, advertiu na segunda-feira que o Mercosul está "muito perto" de aplicar a cláusula democrática do bloco, uma decisão que implica a suspensão de qualquer sócio que rompeu as regras da democracia. A medida, extraordinária, foi aplicada apenas uma vez, em 2012, quando o Paraguai perdeu seus direitos no bloco como retaliação pelo impeachment parlamentar do ex-presidente Fernando Lugo. O país petroleiro poderia sofrer agora o mesmo destino.

A Venezuela começou em 2012 o processo de ingresso do Mercosul. Hugo Chávez era presidente e a região olhava com simpatia para a revolução bolivariana. Mas no ano passado, depois do giro à direita no Brasil e na Argentina, os membros do bloco exigiram que a Venezuela cumpra com a adequação de suas leis nacionais às leis do bloco. Cumprido o prazo, foi suspenso. Durante a última cúpula de presidentes do Mercosul, realizada em Mendoza há duas semanas, os sócios advertiram que a suspensão por "questões políticas" poderia vir depois das "questões formais". O certo é que a Venezuela está no topo da agenda diplomática da Chancelaria argentina, especialmente porque o Brasil, que ocupa a presidência pro tempore do Mercosul, está distraído por sua própria crise interna.

Enquanto lidera a investida contra Caracas, o Governo argentino também encontrou a arma perfeita para punir seus oponentes kirchneristas, forçados a permanecer em silêncio sobre um tema que é muito incômodo. Kirchner limitou sua campanha eleitoral a aparecer nas redes sociais com pequenos grupos de seguidores, sem jornalistas presentes. Como não dá entrevistas, tampouco tem que opinar sobre o que acontece com Nicolás Maduro, um aliado de muitos anos. O candidato de Kirchner a deputado na cidade de Buenos Aires, Daniel Filmus, falou com a imprensa. Consultado por uma rádio, disse que não conhecia "em detalhes" a situação na Venezuela, mas depois marcou diferenças entre as presidências de Maduro e seu antecessor Hugo Chávez. "São coisas totalmente diferentes", disse, "não conheço em detalhes o que acontece na Venezuela, mas o que falta é diálogo. E se não há uma terceira parte, como o Papa, não sei qual será a saída desta situação".

O governo de Macri sabe que a proximidade que o kirchnerismo manteve durante seus 12 anos de Governo com o chavismo hoje o coloca na defensiva. As declarações de Macri foram acompanhadas pelas de seu Chefe de Gabinete, Marcos Peña. O homem-forte do macrismo criticou a "hipocrisia" daqueles que "mantiveram um silêncio cúmplice" frente à situação venezuelana. Sem citar Kirchner, disse que "há setores que mostram um apoio ao governo de Maduro, demonstrando um duplo padrão na defesa dos direitos humanos. A Argentina manterá uma dura condenação contra o que está acontecendo e vai continuar trabalhando com todos os países da região para acompanhar o povo venezuelano, mostrando que eles não estão sozinhos", disse. A campanha acabou de começar na Argentina e a Venezuela é protagonista.

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