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Mercosul pressiona Venezuela para suspender a eleição da Constituinte

Vice-chanceler da Argentina adianta conteúdo do texto que será assinado nesta sexta pelos presidentes dos países-membros, reunidos em Mendoza

F. R. M.
O chanceler argentino Jorge Faurie (direita) abre a reunião do Mercosul em Mendoza.
O chanceler argentino Jorge Faurie (direita) abre a reunião do Mercosul em Mendoza.AFP

O Mercosul decidiu entrar com tudo na crise da Venezuela, como nunca fez antes. Os presidentes de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, os quatro membros plenos do bloco regional sul-americano, pediram hoje a Nicolás Maduro que suspenda a eleição da Assembleia Constituinte prevista para 30 de julho. O vice-chanceler argentino, Guillermo Raimundi, adiantou o conteúdo do texto que será assinado nesta sexta-feira pelos presidentes reunidos na província de Mendoza, na Argentina. “O pedido é que a Venezuela se abstenha de convocar essa eleição porque é um passo na direção não desejada, que é a do diálogo entre as partes em conflito”, disse o diplomata. O documento terá a assinatura dos presidentes Mauricio Macri (Argentina); Michel Temer (Brasil); Tabaré Vázquez (Uruguai) e Horacio Cartes (Paraguai).

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A Venezuela já está suspensa do bloco há seis meses por não atender às diretrizes de adequação econômica, como a tarifa externa comum. Raimundi esclareceu que agora a ideia é de passar da pressão comercial à política, isto é, que a Venezuela inclusive perda o direito de participar das reuniões do bloco com voz mas sem voto, como poderia fazer agora se não tivesse se autoexcluído. Não está nos planos, no entanto, a expulsão da Venezuela, porque “seria contraproducente”, disse o diplomata argentino. Tampouco haverá uma escalada de sanções comerciais (previstas nos estatutos do bloco). “Não faremos nada que possa afetar a população venezuelana, que sofre violência política e crise econômica. Principalmente porque acreditamos que a situação da Venezuela é conjuntural e que quando houver um acordo por meio do diálogo com a oposição poderá voltar a fazer parte do Mercosul”, acrescentou Raimundi.

Os presidentes se reunirão nesta sexta em Mendoza pela primeira vez desde que a Venezuela perdeu seu status de membro pleno. Em dezembro de 2015, quando aconteceu a última reunião de alto nível no Paraguai, o bloco ainda tinha a marca esquerdista dada por Cristina Fernández de Kirchner, ex-presidenta da Argentina, e Luiz Inácio Lula da Silva. Macri estreou no Paraguai quando estava no cargo havia poucos dias, mas foi clara a guinada política na relação do bloco com Caracas. A queda de Dilma Rousseff no Brasil e sua substituição por Michel Temer acabaram aumentando a pressão sobre Maduro. Nesses 19 meses desde aquela cúpula, a Venezuela não pôde assumir a presidência pro tempore do Mercosul, que passou para a Argentina, e viu como seus ex-parceiros olhavam para a Aliança do Pacífico e a União Europeia. Hoje o Mercosul negocia aproximações comerciais com ambos os blocos que a Venezuela rejeita. O cenário não poderia ser mais hostil a Caracas, embora essa hostilidade de seus vizinhos ainda esteja longe de se traduzir em fatos concretos.

A Venezuela, de qualquer forma, não parece disposta a aceitar as recomendações do Mercosul. O chanceler Samuel Moncada considerou “ilegal” a cúpula de Mendoza, à qual se referiu como parte de uma “política de assédio ao Governo e ao povo da Venezuela”. “É o retorno aos piores tempos do nosso continente. A Venezuela não reconhece essa reunião”, escreveu Moncada em sua conta no Twitter. Uma declaração assinada pelo Ministério das Relações Exteriores afirma que “a Venezuela decidiu não participar das reuniões, que carecem de toda a legalidade, pois violam abertamente as normas do Mercosul”.

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