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99% dos ex-jogadores da NFL têm lesões cerebrais, revela estudo

Pesquisa sobre as consequências do futebol americano agita o debate sobre sequelas a longo prazo

Pablo Ximénez de Sandoval
Acima, um cérebro normal; abaixo, um com ETC grau 4 em uma imagem do estudo.
Acima, um cérebro normal; abaixo, um com ETC grau 4 em uma imagem do estudo.AP

O consenso crescente sobre os danos neurológicos em longo prazo produzidos pelo futebol americano recebeu um novo apoio nesta terça-feira. Um estudo publicado no Journal of American Medical Association constatou lesões cerebrais em 110 de 111 cérebros doados por ex-jogadores da NFL, a liga profissional norte-americana. Embora as conclusões não possam ser extrapoladas para todos os praticantes do esporte mais popular nos Estados Unidos, é a maior amostra estudada até hoje.

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A doença conhecida como Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) é uma enfermidade degenerativa relacionada com choques na região da cabeça. Também é conhecida como demência pugilística porque começou a ser estudada como uma consequência do boxe. A discussão sobre sua relação direta com a prática do futebol americano começou há pouco mais de uma década como consequência de um estudo envolvendo ex-jogadores com problemas mentais depois da aposentadoria. As consequências podem surgir anos depois dos choques.

No total, o estudo examinou 202 cérebros de pessoas mortas que jogaram em alguma categoria do futebol americano, da escola à NFL, depois dos anos 60. A ETC está presente em 87% deles, 177. Entre aqueles que chegaram a jogar como profissionais, a proporção é superior a 99%. Em alguns casos, os pesquisadores tinham apenas o cérebro. Nos mais recentes, também dispunham de entrevistas sobre o comportamento geral da pessoa e outro tipo de experiências com possíveis consequências traumáticas, como ter estado no Exército.

O estudo encontrou evidências de ETC em 21% dos 14 que tinham jogado na escola, em 91% dos 54 que jogaram na universidade, em 64% de uma amostra de 14 que jogaram como semiprofissionais e em 7 dos 8 que atuaram na liga canadense.

O novo estudo publicado na terça-feira foi feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston e do Hospital de Veteranos de Boston. É a maior amostra estudada até o momento. Os cérebros estudados estão depositados em um banco de cérebros de Boston administrado pelas duas instituições e criado em 2008 para estudar essa questão.

O estudo adverte que essa é uma das razões pelas quais não se pode concluir com absoluta segurança que jogar futebol americano está diretamente relacionado com a ETC. Os cérebros estudados são de pessoas que os doaram para a ciência precisamente porque suspeitavam que algo errado estava acontecendo, o que faz com que a amostra apresente um desvio. Além disso, a doença só pode ser diagnosticada com segurança total em um exame post-mortem. Os autores do estudo não podem extrapolar as conclusões para todos os jogadores de futebol americano.

A conclusão do relatório se limita a dizer que “em uma amostra de jogadores de futebol americano mortos que doaram seus cérebros para a pesquisa, uma alta proporção tinha provas neuropatológicas de ETC, sugerindo que a ETC pode estar relacionada com a prática do futebol americano”.

A NFL está em pré-temporada no momento e prestes a começar a competição. A liga nacional de futebol americano evitou o debate sobre a ETC durante anos até que no ano passado, pela primeira vez, um executivo da organização admitiu a relação entre a modalidade e a doença quando perguntado diretamente durante uma audiência no Congresso. O debate atingiu seu maior nível de visibilidade com filme Concussion (Um Homem entre Gigantes), de 2015, sobre o médico que diagnosticou a relação entre a doença e o esporte mais popular dos EUA. Naquele ano, a NFL chegou a um acordo em uma ação coletiva de milhares de ex-jogadores comprometendo-se a pagar cinco milhões de dólares (cerca de 15,85 milhões de reais) a cada atleta aposentado com sequelas neurológicas graves.

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